Amo o Coritiba. Desde os 4 ou 5 aninhos de idade, sou coxa-branca. Nessa idade me tornei torcedor do Coritiba porque um dos meus tios era coxa-branca e me presenteou com bola, calção e camisa do Coritiba. E olha que tinha e tenho vários tios torcedores do time rival. Mas, fui crescendo e ali por 8, 9 anos de idade já pensava em uma maneira de ajudar, auxiliar o Coritiba. Como se a instituição Coritiba Foot Ball Club não fosse maior, muito maior do que eu. Criança é fogo. Não pensa como um adulto. Mas continuando, pensei: um jeito de eu tentar ajudar o Coritiba, pode ser, quem sabe, como atleta. Gostava muito de jogar bola e atuava em campinhos e alguns com muitos morrinhos ali na região do bairro Água Verde. Hoje por ali é só prédios e prédios, edifícios e mais edifícios, condomínios e mais condomínios, mas naquela época não era assim. Aliás, era bem diferente. Antes, em Piraí do Sul, ainda menininho brincava de bola no fundo dos quintais dos meus primos e amigos, e vez por outra ia jogar em um campo maior denominado Itiberê. Inclusive um dos meus primos, com quem eu brincava de jogar bola também, entre tantos outros primos, foi representante mór da torcida coxa na região. Lá pelas bandas onde nasci, outros primos, torciam pelo rival. E alguns desses primos, inclusive vieram a trabalhar no rival, no Departamento Médico deles. Como não são coxa-brancas não vou citar o nome deles. Melhor não né. Mas eles também participavam do bate bola. Ali dei meus primeiros passos na bola e fui gostando da coisa. Aí vim para Curitiba, meu pai foi transferido de agência(naquela época tudo era diferente, bem diferente, no mundo empresarial e no futebol). Meu pai trabalhava no Banco Comercial do Paraná, mais tarde adquirido pelo Bamerindus. Quando viemos para Curitiba fomos morar, como disse, no bairro Água Verde. Era outro Água Verde e não o de agora, claro. Cheguei e gostei, pois ao lado das casas conjugadas onde eu, meu pai, minha mãe e meus 5 irmãos viemos morar, tinha um campinho. Bem modesto, claro. Inclusive com toceiras e morrinhos, bem elevados por sinal. Se bobeasse para tocar a bola para o companheiro que estava no mesmo time, tinha que levantar a cabeça e pescocear para ver onde ele(s) estava(m), já que os "morrinhos", atrapalhavam a visão. Era olhar onde estava(m) o(s) companheiro(s), ver quem estava melhor colocado e ao mesmo tempo. que se olhava isso, tinha que ficar de olho em la pelota. Será que isso exercitava a habilidade, a técnica? Penso eu, modestamente, que sim. Quando cheguei, lógico, o pessoal, estranhou né, gente nova na área. E o jogo começou. Fiquei com 8 pra 9 anos de idade encostado na trave, louco pra entrar, mas os 2 times estavam completos e de começo, tive que me contentar em só assistir a "pelada". Mas percebi que o pessoal tanto de um time, como de outro, não tinham apenas 8 ou 9 anos de idade não. Os caras já tinham 12, 13 e alguns até 15 ou 16 anos de idade. Pensei, ishi, não vai dar pra eu jogar com esses caras. Mas lá pelas tantas, eis que a mãe de um dos componentes de um dos times, chama o piá, ou melhor, chama o rapaz. Ele era um dos mais velhos(ou seria um dos mais experientes?) da "pelada". Aí o pessoal disse pra mim: o piá, você é mais novo, mas quer entrar? Na mesma hora respondi, quero, quero...e não são os quero queros do Belfort Duarte(na época). Entrei, com fome de bola, com muita vontade e fiquei alegre por terem me convidado. Pensei, tô na cidade grande, mas aqui parece que também vai dar pra eu jogar uma bolinha. E bola prá cá, bola prá lá, mas ninguém tocava pra mim. Os caras achavam que eu estava ali só pra completar o time. Mas eis que a "nega" sobrou pra mim, depois de uma dividida entre um cara do meu time e um caboco do time adversário. Não tive dúvida: já que sobrou pra mim e não sei quando vou pegar na bola de novo, dominei e emendei para o gol. Não é que eu acertei o travessão. A trave, o travessão, já estavam desgastados pela ação do tempo(sol, chuva, frio, etc...). O que aconteceu? O travessão e a trave com a potência do meu chute, caíram. Aí, lógico, o jogo parou. Os caras olharam pra mim meio estarrecidos, desconfiados, sei lá. Mas não dava pro jogo continuar. Sem trave, sem gol, como continuar? A partir daquele dia me apelidaram de canhão. O canhão da Água Verde. Que título em...Pessoal bom ali daquele reduto viu. Gosto deles e sou amigo deles até hoje. E claro, eles são meus amigos. A amizade precisa ser e tem que ser recíproca, senão não tem graça. Esse lugar é bem em frente onde existia o Restaurante Carreteiro(aliás não era somente Restaurante Carreteiro né...). Agora ali é prédio pra todo lado. Morei ali uns 4 anos. Depois, mudamos, eu, pai, mãe, irmãos, para uma casa mais próxima do trabalho do meu pai. Meu pai bancário, na época, minha mãe professora, lá fomos nós. Pai, Mãe e mais meus 5 irmãos. Total de 8 pessoas. Lá chegando, ali ou "lá", na região do Seminário, eu queria saber se tinha algum campinho perto. Não é que tinha. Um campinho bem na frente da casa(e essa casa já tinha um quintalzinho, a anterior da Água Verde nem quintal tinha). Aí eu já estava mais "malaco"(no bom sentido), afinal eu já tinha meus 12 anos de idade. Sabe como é né. Mas o primeiro bate bola que vi foi na rua, num anti-pó, com umas travinhas pequenininhas. Lembrei lá de Piraí do Sul porque lá no fundo dos quintais que eram imensos, jogávamos(jogávamos...kkk...brincávamos né), de bola, e os gols eram travinhas. Mas, tal e qual ali ou "lá" na Água Verde, quando vi a bola rolar no "anti-pó" pela primeira vez, corri prá lá. Eis que novamente os times estavam completos. Tive que esperar, de novo, sentado no meio fio. Mas pensei: tal será que não sobrará daqui a pouco uma vaga pra eu participar. Eis que daqui a pouco a oportunidade pintou. Um dos caras, já com mais idade, "de novo", teve que sair de "la pelada". E um outro cara, também já alguns anos mais velho que eu, perguntou: o piá, você joga bola, quer entrar? Fiquei em pé rapidamente e meio tímido falei: jogo, jogo sim. Aí ele disse: então entra aí pra eles. Entrei e dessa vez peguei rápido na bola. O cara que tinha me convidado pra entrar veio me combater na jogada. Ele, uns 4 ou 5 anos mais velho que eu, devia ter na época 16 ou 17 anos de idade. Era ele que comandava as coisas do futebol ali naquela rua. Tipo time da rua de cima contra time da rua de baixo. Time de bairro "X" contra time de bairro "Y". Não é que enfiei a bola nas canas dele. Aí todo mundo ficou esperto comigo. Eu só ouvia o zum zum zum. Pô esse baixinho aí joga bola. Ninguém imaginava que alguém que estava ali sentado no meio fio, louco pra entrar(isso todos perceberam...kkk) podia manjar alguma coisa de bola. Pois é. O futebol é mais ou menos assim. Tem que garimpar. Isso o Coritiba antes fazia bem. Agora nem tanto. Mas continuando. Comecei a me sobressair nas peladas e tinha muita gente que vinha ver os jogos no campinho dali também. O primeiro ocorrido foi no anti-pó e a sequência foi no tal campinho que ficava na frente da nossa moradia. Aliás, meu pai até hoje reside ali. Atuei por ali, nesse campinho e me destaquei. Próximo dali tinha um Seminário. Um Seminário de Padres. Eis que um dos estudantes à Padre(é assim que fala...) era fissurado por futebol e tinha um time. Era o técnico. Ele, em função dos comentários, se interessou. Diziam a ele que eu jogava bem; Aí ele veio me convidar pra jogar nesse time. Fominha, claro, aceitei o convite. E comecei a fazer gols, fazer algumas jogadas que deixavam companheiros em condições de concluir bem os lances. Passou mais um tempinho e eu fui treinar, jogar em uma equipe do Bamerindus onde conheci Leomir, Sidnei, Beto Marinho, Luiz Henrique(esse era o craque dos craques), Toninho, J. Maria, Tato e por aí vai. Era um timão. A gente não perdia pra ninguém. O técnico era o Paulo Vecchio e o Preparador Físico, o Hiran(aquele zagueirão do Coxa que era pra ter ido pro Santos). Depois, mais tarde o time acabou. Aí fomos eu, Leomir, Luiz Henrique, Tato, Toninho, todos fazer teste no Coxa. Na época fizemos o primeiro treino no campo do Vasquinho ali ou lá na Vila Nori. Eu e o Leomir ficamos. O Luiz Henrique(o craque dos craques)não. Ficamos intrigados. O Tato também não ficou e foi para o Internacional de Porto Alegre e depois rumou para o Fluminense. O Toninho também não ficou e foi para o Pinheiros. Mais uns dias e o Luiz Henrique(o Ike) acabou vindo para o Coxa. Naquela época, em 1977, o Coxa tinha comandando as categorias de base, o Krueguer, o Sizico, o Bugrão, em times de menor idade(hoje denominados fraldinhas), o Prof. Miro, na Preparação Física do Júnior, o Prof. Carlinhos Neves e por aí vai. Era gente que sabia da arte de moldar garotos, preparando-os para o profissionalismo. Dali saiu muito garoto que foi para a equipe profissional. Mais tarde muitos daqueles garotos tornaram-se, junto à alguns jogadores mais experientes, Campeões Brasileiros de Futebol(em 1985). Isso chama-se história, identidade. Eu tenho a minha modesta história e o Coritiba grandioso que é tem a sua história, aliás uma bela e altiva história. Na minha história construí alguns vínculos e dessa história e desses vínculos vem uma boa parte da minha identidade. E eu necessito respeitar os vínculos que construí em minha caminhada. Assim como eu e cada um de nós, o Coritiba também é feito de identidade. Um clube não pode perder a sua identidade. E dessa identidade do Coritiba muita gente faz parte, e precisa, ou quem está dirigindo as coisas no Coritiba, respeitar a história e valorizar a identidade que alguns possuem no "nosso" clube e com o nosso clube.
Gerson, André, Vavá, Helcio, Toby, Elizeu, Gil e Luisinho fizeram parte do elenco Campeão Brasileiro. E dá pra por nesse rol, mais o Marildo e o Dida que vieram do Colorado, mas que foram feitos, lapidados no estado do Paraná, em Curitiba. Total de 10 garotos em um elenco de 25 atletas. A mescla é o melhor negócio. Os piás contagiam os mais experientes com o coração, com a garra, etc. Rafael, Heraldo, Gomes, Caxias, Gardel, Marco Aurélio, Almir, Aragonés, Paulinho, Zé Carlos, Lela, Índio, Edson, Vicente e Jairo, mais experientes, somados a aquela garotada, fizeram na época, um Coritiba forte, muito forte e esse grupo trouxe para o Estado do Paraná pela primeira vez, um título do Campeonato Brasileiro. Isso é "história". Todos esses 25 atletas possuem uma "identidade" com o Coritiba. No próximo 31 de julho/01 de agosto, estamos prestes a completar 29 anos da conquista do único título do Campeonato Brasileiro. O que nos resta é comemorar aquele memorável, histórico, lindo, inesquecível e inigualável título. Quando será que o Coritiba conquistará um novo título do Campeonato Brasileiro? Ano que vem, em 2015, estaremos completando 30 anos daquela conquista. Três Décadas terão passado. Será que no ano que vem, em 2015, o Coritiba poderá brigar por um segundo título do Campeonato Brasileiro?
O que falta ao Coritiba hoje é "identidade". Qualquer um desses 25 atletas que construíram uma história bonita e vencedora no Coxa poderia estar orientando, ensinando garotos das categorias de base como técnicos, como Preparadores de Goleiros, Personal de Zagueiros e por aí vai. Por que não se possibilita que alguns dos Campeões Brasileiros de Futebol pelo Coritiba em 1985 façam parte do Coritiba de hoje? Tenho certeza que os Campeões Brasileiros do Coritiba podem e muito, contribuir para um novo sucesso do Coxa de algum modo, de alguma maneira.
O segredo para um clube obter sucesso hoje, e no futuro, está em sua categoria de base. Enquanto isso não for implantado no Coritiba, infelizmente meu time de coração será Segunda Divisão. Contei a minha história de garoto, de menino, justamente para mostrar o que é "história" no futebol, o que é "identidade". Quem sabe alguém da cúpula diretiva leia tudo isso, e modifique o panorama das coisas no nosso querido Verdão do Alto da Glória. Essa é hoje a minha única esperança.
Entendo que no Coritiba, infelizmente, a visão precisa mudar.
É Pré-Temporada daqui e dali. É inter-temporada. E nada resolve. Depois de uma Pré-Temporada o Coritiba sequer conseguiu chegar em 2014 na decisão do Campeonato Paranaense. Isso que em 2013 o Coritiba lutou muito para não cair para a Segunda Divisão Nacional e só se safou por puro milagre. Aí veio a inter-temporada. Antes dela o Coxa havia jogado 9 partidas. Conseguiu a proeza de 4 empates, 4 "DERROTAS" e 1 vitória. Todos esperançosos que a inter-temporada resolvesse a questão, ou o "problema". Jogo com o lanterna absoluto da competição. Figueirense com 4 míseros pontos em nove rodadas. E tal e qual o Coritiba, com uma única vitória. Jogo no Couto Pereira, em casa, dentro de casa, em pleno Couto Pereira. Resultado final: Coritiba 0 X 2 Figueirense. 10 rodadas, 30 pontos disputados, apenas 7 ganhos e 23 jogados no "ralo". Lamentável.
E por que isso vem acontecendo no Coritiba já à algum tempo? Por que o Coritiba está em 18º na classificação?
Sabem porque?
Por que no Coritiba não tem se respeitado muito a história do futebol. Não se dá a importância devida e que se deve dar às categorias de base. É preciso ter identidade. E para um time ter identidade, é preciso que se tenham, trabalhando no verdão, nas coisas do verdão, gente com identidade, com história no clube.
Enquanto o rival está revelando jogadores com bom potencial e até vou me permitir citar alguns: Marcelo, Douglas Coutinho, Marcos Guilherme e outros, quem foi revelado no Coritiba com verdadeiro potencial nos últimos anos? Talvez Abner, mas e o Abner ainda está no Coritiba? Que nada...já se foi.
É preciso respeitar a história do futebol. É necessário respeitar algo que se chama identidade. É imperioso que se tenha identidade. E como ter identidade? A resposta é simples e todos nós sabemos qual é ou qual deveria ser a resposta.
Enquanto não se respeita a história desse nosso grandioso clube, e não se busca resgatar a identidade, o Coritiba está com Pé e Mão(e não é salão de beleza) na Segunda Divisão!
Saudações Alvi-Verdes
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