Jogar toda a responsabilidade da criação de jogadas em cima de um único atleta não é o mais indicado, não é o mais plausível e não se pode querer a todo instante que apenas o "10" crie jogadas.
O "10" não joga sozinho. Além do "10" existem mais 10 atletas em campo.
Claro que pela cultura do futebol brasileiro e pela "10" ter sido marcada e permanecer cultuada até hoje em função de Pelé, Zico e outros tantos "gênios" da bola terem usado normalmente a "10", espera-se muito do "10".
Alguns clubes estão até mesmo abolindo a camisa "10" e nenhum atleta a veste, justamente para que esse atleta não fique sobrecarregado com as cobranças exageradas da mídia, da torcida e até da própria Comissão Técnica e Diretoria.
Claro que o "10" é aquele jogador mais clássico, mais talentoso, mais habilidoso, mais técnico ou seja lá qual for o termo que se queira usar e por isso seria o "10" teoricamente que teria mais condições, mais potencial para abastecer o ataque criando jogadas ora de efeito, ora inteligentes e em algumas vezes até inesperadas que surpreendem o próprio torcedor e principalmente os adversários.
Fato é que nada impede que o "8", o "2", o "6", o "7", o "11" ou até mesmo o "9" ou o "5" criem jogadas que possam redundar em gol.
Acho que essa cobrança exagerada em cima do "10" prejudica o próprio atleta como também o time e o elenco. Como escrevi, o "10" normalmente quando veste a camisa "10" em função da cultura criada há anos no futebol brasileiro onde todos acostumamos ver um Pelé, um Zico, vestindo a "senhora 10"(a "dez"), é mais cobrado no quesito criação de jogadas.
Marinho Chagas que esses dias faria aniversário caso estivesse vivo, como lateral esquerdo descia por aquele lado e colocava os adversários em cheque, as defesas oponentes tinham mesmo antes do início do jogo a preocupação de que por ali iria vir um loirinho bom de bola e capaz de fazer miséria pelo lado esquerdo do campo mesmo sendo destro. E se ele resolvesse cair para o meio com a bola, que dó dos adversários.
No Brasil nós tínhamos craques em profusão em diversos clubes de Norte a Sul e ver um Clodoaldo por exemplo mesmo como volante conduzindo a bola, driblando adversários, chutando em gol e fazendo gols, tanto de chutes de fora da área quanto quando entrava driblando ou tabelando na área dos adversários não era tão raro assim.
Hoje os poucos "gênios" que surgem aqui no Brasil com 19 anos ou até menos, já estão atuando em clubes da Europa, por exemplo. Vejam o caso do Gabriel Jesus. E ele só não foi antes porque seguraram o rapaz para ele concluir o Brasileirão 2016 jogando pelo Palmeiras. O Palmeiras não foi Campeão Brasileiro até com certa "folga" de graça. Gabriel Jesus é um fenômeno e não se surpreendam se dentro de 1 ou 2 anos ele for considerado o "melhor" jogador do planeta.
Mas e porque resolvi escrever sobre o "10".
No Coritiba de hoje pede-se muito por esse jogador, por esse camisa 10. Tudo bem, sabemos, tem que ter um "10" mesmo que ele nem use a jaqueta nº 10. Mas não dá para cobrar criação de jogadas só do "10".
Daniel por exemplo está sendo contratado e justamente para executar a função de criar jogadas. Mas se somente o Daniel for responsabilizado por isso e somente ele fizer isso vai ficar complicado(quer dizer mais complicado do que já está é difícil, mas dizem que não tem nada ruim que não possa piorar). Como já escrevi o "2", o "6", o "7", o "8", o "11" podem também criar jogadas. Não tem nada escrito de que esses jogadores que usam as outras jaquetas diferentes da "10" não podem criar jogadas.
O Ruy por exemplo, ele bateu muito bem o escanteio que resultou no gol do Coritiba, o único da partida no empate que propiciou ao Coxa passar de fase na Copa do Brasil. E 1 ou 2 minutos depois daquele escanteio, ele, Ruy, bateu outro escanteio muito bem que até poderia ter redundado no 2º gol do Coritiba frente ao representante baiano. E Ruy andou enfiando umas bolas para os atacantes que não souberam aproveitar.
Ruy não é uma sumidade mas não é um mal jogador. Claro que jogar no Operário de Ponta Grossa(com todo respeito aos pontagrossenses, até porque quando lá joguei fui muito bem recebido e acolhido e gostei muito de ter vestido a camisa do Operário durante um hexagonal final -atuei nos 10 jogos desse hexagonal final pelo Operário, ora usando a "8", ora usando a "10" - até dia desses encontrei o Osiris Nadal e ele me comunicou que naquele ano faturei o troféu de craque do ano de Ponta Grossa mesmo jogando só 10 jogos, eu nem sabia, mas claro, fiquei muito feliz e Nadal ficou com meu fone para marcarmos a entrega desse troféu/aqui cabe um parênteses - alguns gostam de saber dessas estórias e outros acham que não tem nada a ver escrever essas coisas por aqui nesse espaço) e atuar no Coritiba, por circunstâncias que todos sabemos quais são, é bem diferente, muito diferente. Mas Ruy na final do Paranaense quando o Operário foi Campeão Regional em 2015 e no placar agregado fez 5 X 0 no Coritiba(2 X 0 em Ponta Grossa e 3 X 0 em Curitiba), jogou muito. Mas lembro que o Operário não dependia apenas do Ruy. Ninguém desaprende jogar futebol da noite para o dia. O Operário tinha 2 homens que jogavam aberto na frente, um volante bom, 2 alas que não eram uma Brastemp mas que faziam bem o que lhes cabia e que ora ou outra desciam ao ataque até com certa qualidade, um outro meia que também criava boas jogadas. Então vejam, um time, um elenco não pode depender apenas e tão somente do "10" na criação de jogadas.
Voltando ao Daniel. É um atleta jovem e que ainda não tem "aquele" curriculum, mas dizem ser "bom de bola". Na verdade é uma aposta, pois o rapaz pode vir aqui e deslanchar, encher nossos olhos e ajudar o Coritiba a conquistar muitas vitórias, como...
Então, claro, Daniel se vestir a "10" coxa-branca terá que buscar criar jogadas, mas insisto não deve ou não deverá ser somente o Daniel(ou o Ruy ou até outro), o nº 10, o(s) único(s) responsável(eis) pela criação de jogadas. Um time tem "11" atletas, no nosso tempo um elenco tinha "23, 24 ou 25" jogadores, hoje normalmente os elencos possuem 32, 35 ou até 40 atletas, e todos, cada um desses atletas deve dar a sua contribuição nas quatro linhas e inclusive nos vestiários. Assim entendo que cobrar exageradamente do "10" é injusto e chega a prejudicar o próprio atleta e todo o grupo. Vamos cobrar sim do "10", claro, mas não nos esqueçamos de cobrarmos de cada um dos atletas que compõem o atual elenco do Coritiba. Repito, a criação de jogadas, problema nº 1 do Coxa atualmente e já de alguns longos anos, é responsabilidade de todos os atletas alviverdes. Ano passado por exemplo o zagueiro gremista, o Geromel(ou seria Jeromel), pegou a bola lá no campo de defesa e desceu com ela pelo lado direito do gramado, driblou uns 2 adversários e efetuou um cruzamento milimétrico que resultou em um gol do tricolor gaúcho.
E a "10"?
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