Estrela Dourada
Seguimos na nossa rotina de 2011: o time vencendo e a torcida reclamando.
Lógico, todos têm o direito de reclamar, e a maioria só o faz porque quer ver o Coritiba grande novamente.
Eu, particularmente, e correndo grandes chances de estar errando, estou mais paciente. Talvez porque eu entenda que o Coritiba não é mais um clube grande, como já foi um dia (já escrevi sobre isso em 2009, na época em que poucos imaginavam o que estava por vir ao final daquele ano) e que, para voltar a sê-lo, deve subir um degrau de cada vez. Penso que essa subida poderia até ser mais rápida se fosse feita de mãos dadas com a torcida, mas como grande parte dos torcedores prefere ficar ao lado da escada apenas a gritar, vociferar e exigir, sem nenhuma contrapartida, resta esperar que o clube siga o seu retorno incentivado pela meta de renascer de vez e ajudado pelos mesmos poucos torcedores de sempre, que não se furtaram de permanecer ao lado do clube na sua fase de trevas.
Acompanhei quase todos os jogos do Coritiba no Paranaense. Como sou das antigas e gosto do campeonato regional, acho que está tudo dentro da normalidade. Em outras épocas, quando ainda éramos respeitados pelo Brasil, vi o Coxa perder pontos para times dos quais muitos nem devem ter ouvido falar (Agroceres, Nove de Julho, Matsubara, etc.). Neste campeonato, perdemos pontos para times que estão quase desaparecendo da história, e para outros que começam a sua história agora. Mas seguimos na frente, a um empate do título do primeiro turno e, agora, é isso o que importa.
Contra o Ypiranga, na estréia da Copa do Brasil 2011, vi um o Coritiba lento, desinteressado, desmotivado, enfim. Concordo que desperdiçamos a chance de eliminar o jogo de volta, mas não sei se um gol a mais ontem não serviria mais para poupar os jogadores de um castigo que eles até mereciam, do que para simplesmente alegrar a maior parte da torcida. O time ficou devendo, então que pague sua dívida, e com juros, nos próximos jogos.
Já disse que não acho Marcelo Oliveira um nome que me deixe tranqüilo. Mas como sou Coxa Branca, e a torcida Coxa Branca parece não entender muito sobre a capacidade dos treinadores de futebol (eu também não confiava em Ney Franco, e sua maneira serena de trabalhar foi imprescindível ano passado; Dorival Junior era execrado impiedosamente pela torcida, e não passa um único ano sem ganhar títulos, esteja onde estiver; René Simões foi contratado por exigência da torcida e só fez iniciar nossa derrocada em 2009), não me sinto no direito de criticá-lo, ainda mais com o time invicto e na liderança.
Bill. Bill é a própria definição de paradoxo: pode ser explicado por termos incompatíveis entre si. Isola uma bola que sobra limpa na grande área, e faz um golaço chutando quase que da intermediária; mata no peito uma bola difícil de dominar, e erra um passe de dois metros. Mas tem se dedicado MUITO em campo. Corre o campo todo, volta pra ajudar na marcação, se movimenta bem e, com isso, desorienta a defesa adversária e... Tem feito seus golzinhos. Porém, antes que aqueles que não conseguem entender que isso é apenas uma opinião pessoal partam para as agressões, deixo claro que muito da minha tolerância com ele decorre do fato de que, entre craques que nos desprezem e nos enganem (tipo os Marcelinhos Paraíbas da vida) e jogadores limitados que suem a nossa camisa e a respeitem, vou preferir sempre estes a aqueles, pois honestidade e amor à nossa camisa são os dois pilares nos quais nosso renascimento vai se apoiar (e isso vale para jogadores, dirigentes e torcedores).
Em resumo: não acho que o time que temos é o supra-sumo da excelência; precisamos contratar para o Brasileirão, mas temos que estar com uma base formada até lá, e isso está relativamente bem encaminhado. Também não vejo em Marcelo Oliveira um nome que me passe tranqüilidade, mas como entendo que seu trabalho nunca pôde ser avaliado em um clube que lhe desse boas condições de trabalho, não vou fazer da minha desconfiança uma birra insana e um motivo para perseguição.
Quero um Coritiba melhor e maior sempre, mas não vou assumir a condução do rolo compressor que dirigentes irresponsáveis usaram para quase nos destruir, e que deixaram ao lado da estrada como uma tentação a quem não sabe que uma reconstrução se faz a um passo por vez e de maneira sólida, para que a primeira ventania não destrua tudo novamente.
Em tempo: domingo tem Atle-Tiba. Uma pena que esse clássico não possa ser disputado com as torcidas dividindo o estádio quase que igualmente, e em paz. Lamentável ter que aguardar mais notícias de brigas entre torcedores e de destruição do patrimônio urbano. Porém, enquanto houver quem pregue o culto cego à cores e a adoração primeiro às torcidas organizadas, depois aos seus clubes, aquelas cenas dos clássicos de antigamente serão a única oportunidade que teremos para saber que, um dia, houve quem não se julgasse melhor do que outro, como ser humano e como torcedor de um clube de futebol.
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