Estrela Dourada
“Agora é com a torcida!”
Sempre jogaram nas nossas costas a missão de conseguir, na arquibancada, o que o time não conseguiu em campo. Mas isso acontecia, via de regra, em jogos importantes, contra adversário fortes (Inter, na semifinal da Copa do Brasil de 2009; Fluminense, na decisão pra fugir da queda, também em 2009; Vasco, na final da Copa do Brasil, em 2011 e Palmeiras, em outra final de CB, em 2012 – curiosamente, “fracassamos” em todos esses jogos).
Hoje, porém, jogam nas costas da torcida a tarefa de conseguir reverter resultados contra times do medíocre Campeonato Paranaense. E assim, lá vamos nós, de novo, apelar para os discursos motivacionais já envelhecidos sobre a “força” da torcida Coxa Branca, para a ladainha sobre a “mística” do Couto Pereira, que, em essência, existe apenas regionalmente, posto termos ganho apenas uma decisão contra um time grande em casa (o Atlético Mineiro, na semifinal do Brasileirão de 1985), para aquela baboseira melodramática que não serve para outra coisa que não seja nos lembrar do óbvio: que torcemos pelo Coritiba e devemos ir ao Couto Pereira sempre, independentemente de o time estar ou não com a corda no pescoço.
Mas aí eu pergunto: é justo isso? Somos nós que trazemos jogadores ao clube que vêm apenas para passear em Curitiba (Rodolfo, Mazinho, Giva, etc.), e que nunca entram em campo? Somos nós que montamos um time à base de jogadores rejeitados por outros clubes, na esperança de que eles venham a ter algum valor real, e consigam, enfim, prova-lo? Somos nós que renovamos o contrato de um meio campista da base, às vésperas de escalar um time, em uma decisão, sem nenhum meio campista de ofício no time titular? Somos nós que SEMPRE adotamos uma postura tática covarde quando atuamos fora de casa?
Talvez esteja aí a nossa culpa. Ao aceitar todos esses erros passivamente, ao alimentar esperança de que o resultado possa ser diferente, a despeito de a fórmula, já comprovadamente fracassada, ser a mesma, ao deixar-se enganar por discursos mentirosos, talvez sejamos nós, os torcedores, os principais responsáveis pelo fato de nossa história, como clube de futebol, estar sendo escrita, desde há algum tempo, apenas por fracassos.
Não merecemos ser campeões paranaenses. Não merecemos um título que não vai nos trazer nada que não seja a ilusão de que temos um time capaz de disputar o Campeonato Brasileiro com dignidade. Terminamos o regional sem um esquema tático definido, sem um goleiro minimamente confiável, sem um meio de campo que não obrigue a defesa a ficar dando chutões para o ataque, pois não existe nenhuma criação de jogadas. Terminamos o regional com um treinador que, a despeito de ter um elenco fraquíssimo nas mãos, invariavelmente consegue piorar a situação, ao sequer tentar alternativas para o patético esquema com três volantes, sempre adotado quando jogamos fora de casa. Essa é a lógica, a razão.
Conseguíssemos ser lógicos e racionais, e sofreríamos muito menos. Pena que, nessas horas, o coração se sobrepõe à razão, e a paixão aniquila a lógica. E assim lá vamos nós, mais uma vez, a exemplo do Cavaleiro da Triste Figura, adentrarmos nosso mundo surreal e insano, para lutarmos nossas fantasiosas batalhas heroicas, cujas vitórias são sempre desmentidas pela dura (e triste, no caso do Coritiba de hoje) realidade.
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