Estrela Dourada
Escrevi o texto abaixo em setembro de 2008. Na semana em que acontecerá mais uma partida que, um dia, já foi a maior festa do nosso futebol, penso que cabe reedita-lo.
Sou do tempo (essa é mais velha do que eu) que semana de Atle-Tiba era semana de festa. Uma aura de alegria envolvia as torcidas, e nunca um time tinha a vantagem sobre outro, antes do jogo. E isso independia da posição de cada um na tabela, dos elencos, do momento de cada um.
Foi assim que eu acompanhei, no Couto Pereira, aqueles três Atle-Tibas da decisão de 1978, três 0 x 0 ao final dos quais o goleiro Manga, mesmo machucado, defendeu dois pênaltis e garantiu o título para o Coritiba. Estádio sempre lotado, dividido quase ao meio entre as torcidas adversárias, festa antes (das duas torcidas) e depois (normalmente da torcida Coxa Branca) do jogo. Depois disso, vi outros jogos memoráveis, de tristes (Berg) e boas (Alex) lembranças. A maior parte deles, na paz.
As coisas com o tempo foram mudando e, hoje em dia, semana de Atle-Tiba é semana de tensão. As torcidas adversárias passaram a se agredir fisicamente, as diretorias entraram “na onda” da rivalidade fora de campo e passaram a limitar a festa no estádio, os ingressos para a torcida visitante foram limitados, os estádios passaram a ser depredados. Tudo isso, toda essa radicalização do clássico, é conseqüência do despreparo de alguns dirigentes e da burrice de parte da torcida que é capaz de matar ou morrer em nome de uma organizada, ou de uma cor. E esse triste cenário não é, infelizmente, uma vergonha apenas do Paraná, mas existe na maior parte do Brasil.
Morei em Porto Alegre e vi que lá se atiram tijolos em pessoas se essas estiverem de vermelho em meio aos azuis, e vice-versa. Tenho uma filha em Belo Horizonte e lá as pessoas se dão o sobrenome de máfia e de loucura e se destroem aos tiros, até. No Rio, em um dia de clássico entre Flamengo e Vasco, fui agredido na rua por estar com a camisa do Coritiba, e fiquei até feliz por não ter perdido nada além da camisa que eu amo tanto. Exceção eu vivi em 2000 e em 2001, em Salvador, onde o Ba-Vi era chamado de Clássico da Paz e as torcidas entravam abraçadas na Fonte Nova. Hoje nem a Fonte Nova existe mais, não sei o que dizer do respeito entre as torcidas.
Domingo, em Curitiba, tem outro Atle-Tiba. Jogo decisivo para ambos os times. Arrisco dizer que será a morte para quem perder, e a vida para quem vencer. A morte no sentido figurado, no sentido de refletir a frustração de não chegar a algum lugar honroso ao final do torneio, e a vida no sentido da alegria de uma vitória que pode alavancar uma arrancada em direção ao topo. Aconteça o que acontecer, seja lá qual for o resultado, que essas palavras capitais, morte e vida, não passem de metáforas usadas ao final do jogo para definir o destino de cada TIME neste campeonato, e não a conseqüência da estupidez de alguém que, valorizando uma cor específica, esqueceu-se de si mesmo.
Quando me perguntam o que significa torcer pelo Coritiba, eu respondo simplesmente que significa amar o Coritiba. O resto, os outros times, são simples adversários a serem batidos. Em campo.
Quanto ao jogo em si, quanto às possibilidades de cada um, o que dizer? Atle-Tiba não é um jogo onde as previsões racionais ou as análises táticas funcionam. O que decide esse clássico é o amor de cada torcedor pelo seu time, é o respeito à camisa que cada jogador usa, é a garra, é a vontade. Quem for mais guerreiro em campo, quem gritar mais na arquibancada (o que, infelizmente, não valerá para o jogo do próximo domingo) quem acreditar mais em si mesmo é que sairá vitorioso. Pois Atle-Tiba é um jogo ganho com o coração!
Pra cima deles, Coritiba! Chegou a hora!!
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