Estrela Dourada
Que frio fez ontem em Curitiba.
No Alto da Glória, fez mais frio ainda.
Um frio que emanava de dentro do campo de jogo e penetrava a alma da torcida Coxa Branca que, estupefata, se perguntava aos jogadores, ao técnico e à diretoria do clube: por que vocês já desistiram?
Tempos atrás eu perguntei aqui qual dor era maior, se a dor da humilhação ou a dor da frustração. Pois se aquela, mesmo que machuque, ainda pode provocar uma reação qualquer, esta tem o poder arrasador da desilusão.
Eis, pois, o cenário alviverde pós Copa do Brasil: desilusão. E conformismo. A sensação que tenho é a de que não foi apenas o título daquele torneio que, por um erro crasso de nosso treinador, colocamos em uma bandeja e entregamos ao nosso adversário. Ali, naquela noite, a frustração que se apoderou da torcida foi assimilada pelos jogadores, que a transformaram em resignação e, depois, em acomodação.
Pois ontem, contra o Palmeiras, o Coritiba completou o seu décimo ponto perdido em casa. Isso em um jogo onde, mais uma vez, fica a sensação de que pequenas mudanças teriam feito muita diferença. Talvez, se Rafinha tivesse jogado em sua posição, ou se Bill não tivesse perdido aquele gol, ou se o Leo Gago não tivesse errado tantos passes, ou se o treinador tivesse mexido um pouco antes na equipe, tivéssemos tido sorte diferente. Mas falar sobre o “se” no futebol é masoquismo puro, pra não dizer que é uma idiotice tremenda.
Dez pontos perdidos em casa. Uma vitória apenas fora de casa. E, pra nosso desespero, uma enganosa décima colocação na tabela, e a repetição de um filme já visto em anos anteriores (2005 e 2009), de final mais do que trágico.
O time do Coritiba precisa de uma “sacudida”. Precisa de algo novo, que traga pelo menos a expectativa de que se reencontre a motivação. Precisam cessar, com urgência, os discursos repetitivos do pós-jogo, sobre só ter faltado um pouco mais de capricho nas finalizações, ou sobre o grande poderio dos nossos adversários. E, para trazer esse algo novo, sugiro mostrar, aos jogadores, ao nosso técnico e, principalmente, à nossa diretoria, algo velho:
- tranquem todos em uma sala com um telão, e reprisem todos os jogos dos Brasileirões de 2005 e de 2009. Dêem ênfase a inércia diretiva daqueles anos, a inaptidão técnica dos nossos treinadores de então, e ao descaso dos jogadores que vestiam nossa camisa na ocasião;
- destaquem, principalmente, os jogos contra o Internacional, no final de 2005, e contra o Fluminense, no final de 2009; levem alguns torcedores para essa sala, e peçam para os jogadores ficarem atentos às lágrimas que eles irão derramar ao reverem essas imagens (não que eu tenha a ilusão de que a torcida importe para jogadores profissionais, mas pela esperança de que esses jogadores tenham algum tipo de sentimento e de vergonha na cara).
Desse momento tirem a lição, tão óbvia quanto definitiva, de que, se nada for mudado, se nada for feito, 2011 terminará como naqueles fatídicos anos.
Que frio fez ontem em Curitiba.
No Alto da Glória, fez mais frio ainda.
Um frio que emanava de dentro do campo de jogo e que, como um fantasma, percorria a alma da torcida Coxa Branca até chegar ao coração e reacender o mais profundo medo de todos...
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