Estrela Dourada
Belfort Duarte era o nome do estádio quando eu assisti ao meu primeiro jogo do Coritiba, no Alto da Glória. O ano era 1975.
Ali eu acompanhei o finalzinho da nossa época de ouro, com a conquista do hexa campeonato paranaense. Depois, já com o estádio rebatizado de Couto Pereira, assisti à mítica final do regional de 78 (os três atletibas que ficaram marcados em minha memória para sempre), o bi campeonato contra o Colorado, em 79, às grandes campanhas nos campeonatos brasileiros de 79 e 80, ao sonho real de 1985 e à conquista do regional de 1989, contra o União Bandeirante, o último título do Coritiba grande.
A última vez em que estive no Couto Pereira foi em 2011, na final da Copa do Brasil daquele ano. Saí dali tão triste que ainda não consegui voltar, muito embora mantenha meu plano de sócio ativo e em dia, ainda que morando no Rio de Janeiro.
Sim, eu adorava o Couto Pereira. Percorrer o estádio todo, que não tinha divisórias internas. Assistir aos treinamentos. Comer pão com bife. Acompanhar e participar dos espetáculos do MUC, da Torcida Jovem... Ver em campo um time que jogava com brio, com honra, e que era respeitado por todos. Exagero à parte, são lembranças que fazem o coração palpitar e os olhos se encherem de lágrimas.
Escrevo tudo isso para, na hora em que volta à baila a história (ou estória) de um novo estádio, dizer que não acredito que isso possa vir a se tornar realidade.
Não acredito não porque acho que seria impossível aparecer um louco com um projeto para investir em um clube de passado grandioso, de presente tenebroso e de futuro incerto. Tenho comigo que é válido aquele ditado de que grandes crises trazem grandes oportunidades, e que qualquer perspectiva de um futuro melhor para o Coritiba passa, sim, pela construção de um novo estádio. Mas não acredito que o projeto saia do papel por conta do apego sentimental da torcida Coxa Branca ao Couto Pereira. Um sentimentalismo até justificado, como escrevi aí atrás, mas besta, acima de tudo, posto servir como âncora que não nos deixa olhar para frente nem sair do lugar.
Eu nasci em Londrina. Mudei-me para Curitiba ainda pequenininho. Apaixonei-me pelo Coritiba. Cresci um pouco. Vi meus pais partirem cedo demais. Fui ensinado pela vida, na maior parte da minha vida. Não quero comparar minha história a de um clube de futebol, é óbvio. Mas cabe fazer um paralelo. Para tentar chegar a algum ponto que eu pudesse entender como uma vitória pessoal, tive que deixar o lugar que eu amava tanto. Saí de Curitiba, passei por Porto Alegre, fui parar no interior da Amazônia, depois no interior de Rondônia; aí vieram Manaus, Salvador, Belo Horizonte e, finalmente, o Rio de Janeiro. Hoje, penso em Curitiba com aquela saudade boa, que não machuca, pois me lembro dela (e da vida que eu vivi nela) como uma etapa de um todo, uma etapa importante, fundamental para tudo de bom que veio depois (aprendizado, emprego, família, filhas, carreira profissional, ...).
Não vou entrar no mérito do assunto “novo estádio” em si, pois ele exigiria discutir tantas nuances (a falta de seriedade dos nossos dirigentes, o momento inoportuno para levantar – mais uma vez- essa questão, etc.). Mas gostaria de deixar registrada a minha opinião de que, caso desta feita esse assunto fosse tratado de maneira séria, seria o nosso maior erro, de tantos que já cometemos, deixar que as lágrimas de uma necessária saída do Couto Pereira nos cegassem e nos impedissem de ver o futuro. Ou de ter um futuro.
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