Estrela Dourada
Muito se tem discutido, nos últimos dias, sobre a “pressão” que tem sido imposta aos jogadores e ao treinador do Coritiba em 2012 e, mais do que isso, sobre a conveniência ou não das críticas dos torcedores.
Após ler a última coluna do amigo Ricardo Honório, fiz com ele algumas ponderações, as quais eu gostaria de colocar em discussão neste espaço.
Historicamente, a torcida Coxa Branca SEMPRE foi muito exigente. Freqüento o Couto Pereira desde 1975, e me lembro bem que torcida ia para o então Belfort Duarte pra ver espetáculo. Porém, por conta de nunca mais termos ganho nada importante desde 1985, e por conta de, até o início de 2011, nunca mais termos montado um time decente desde 1989, muitos dos que hoje não toleram críticas não tem nenhum parâmetro de comparação sobre o que já foi o Coritiba em termos de qualidade de futebol (o hexa estadual, o Torneio do Povo, as duas semifinais de Brasileiro em 79 e 80, o título nacional de 85), e o que é o Coritiba hoje (sobe pra primeira divisão, cai pra segunda divisão; faz do “quase” o seu limite e do recomeço a sua rotina).
Sim, há de se reconhecer que o clube vive momento de renascimento, desta feita, porém, sob o comando de pessoas sérias e imbuídas da real intenção de recolocar o clube entre os grandes. O reconhecimento a esse trabalho, no entanto, não impede a constatação das dificuldades técnicas que o Coritiba tem enfrentado em 2012. Se o Campeonato Paranaense é mesmo um laboratório para as competições nacionais, as dificuldades encontradas pelo time para superar adversários muito mais fracos são a comprovação de que muito há de ser feito, ainda, para que possamos disputar um Campeonato Brasileiro da 1ª divisão almejando, senão um utópico título, ao menos um caminho que passe longe da estrada para o inferno da segundona.
Por tudo isso, a paciência que existe nas esferas internas do clube não pode haver na torcida que, no caso do Coritiba como é hoje, deve temer (e cobrar) não cair pra segunda divisão muito mais do que pode sonhar com um título da primeira. Desnecessário dizer, obviamente, que essa cobrança deve ser consciente, sem violência, e baseada no apoio total durante os noventa minutos de jogo, bem como na associação ao clube.
Li certa vez, na Wikipédia, que a emoção é um fator primário que diferencia intolerância de discordância respeitosa. E aí cabe a pergunta: como descartar ou ignorar a emoção no mundo do futebol? Qual torcedor pode, em sã consciência, dizer-se o mais racional de todos e incapaz de, em algum momento, demonstrar intolerância? Penso que todos nós já atiramos a primeira pedra, ainda que muitos de nós ainda não tenhamos percebido isso. Condenar outros por possuírem opiniões diferentes das suas é, pois, a quintessência da estupidez.
Apoiar e torcer pelo Coritiba não é dizer amém a tudo. Tenho duas filhas e, exatamente por amá-las sobre tudo o que há no mundo, é que me permito orientar a menor (de três anos) e aconselhar a maior (de quinze anos). Cuidar não pode prescindir da repreensão por algo que entendermos estar errado. O amor pelas minhas filhas é incondicional, assim como também é o meu amor pelo Coritiba; a diferença entre esses dois “casos” de amor é que este último é essencialmente passional. E, quando somos movidos pela paixão, somos merecedores da indulgência por, eventualmente, deixarmos de lado a razão e, assim, errarmos.
Comecei a escrever e não sei como terminar, confesso. Mas a opinião que eu gostaria de deixar registrada é que não se deve questionar a devoção de alguém pelo seu clube por conta de eventuais críticas, ou mesmo de colocações entendidas por alguns como críticas. E vem da obviedade dessa afirmação a dificuldade de concluir este texto, e de conferir aos parágrafos acima um sentido mais lógico. O torcedor “mais Coxa de todos” certamente não é aquele que aplaude tudo cegamente, mas sim aquele que se preocupa com o Coritiba, ainda que a seu modo pessoal. Pois a verdade absoluta não pertence a ninguém.
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