Estrela Dourada
O cara vem caminhando pela calçada de uma pequena praça, que fica em frente a um shopping center. Nessa praça há um banco e nesse banco há um velhinho sentado, a olhar o shopping. O olhar do velhinho é tão triste que o cara não se contém e, movido pelo dó e pela curiosidade, senta-se ao lado dele e pergunta: "o que foi vovô, que tristeza é essa?" Mal conseguindo falar por conta de uma voz embargada, carregada de emoção, o velhinho responde: "meu filho, se algum dia tiver um amor, lute por ele. Defenda-o, proteja-o, cuide dele. Não deixe que dele se aproximem pessoas inescrupulosas, que buscam apenas o seu próprio bem, sem se importar se com isso podem estar destruindo os sonhos de outrem, ou se com isso precisam passar por cima de sentimentos de devoção extrema. Se o possível não for suficiente para defenderes o teu amor, faça o impossível. Pois nada há de mais triste que o fim de uma paixão. Vês este shopping aí na frente? Pois aí morava o meu amor. Nesse lugar aonde hoje as pessoas vêm para comprar, eu vinha antes para ser feliz. Nesse local eu vivi as maiores alegrias da minha vida, alegrias tamanhas que nem algumas pequenas decepções conseguiram macular. Neste lugar aí eu sorri muito mais do que eu chorei, muito embora muitas vezes as lágrimas que eu derramei aí foram de alegria. Minha paixão era tanta que eu julgava ser impossível existir um fim para ela. Julgava que minhas alegrias seriam eternas. Cego, não cuidei dela como deveria. Não percebi quando ela começou a dar sinais de fraqueza. Não notei sua crescente debilidade. Como que um corpo sadio atacado por um vírus, ou como que um belo alazão cujas forças eram sugadas por um morcego, meu amor foi se esvaindo em sua grandeza. O que era antes motivo de respeito por quem a conhecia, passou a ser motivo de chacotas e tema de piadas. Mas eu, ainda cego em minha paixão, imaginava ter tudo sob controle. Esperava a sucessão dos dias, sempre achando que a cada pôr do sol a estrela da minha paixão brilharia mais forte. Quando acordei, meu filho, era tarde demais. Tinham matado a minha paixão. Pessoas que do nada surgiram e ao nada tornaram, vieram apenas para destruir algo que eu julgava impossível de ser destruído. Hoje, dela restam apenas lembranças. Gloriosas lembranças, mas nada além disso. Aí aonde vês hoje esse shopping, meu filho, eu vinha assistir o meu time jogar. Meu time, minha paixão, minha vida. Que eu não soube defender. E que hoje me faz tanta falta..."
O texto acima, mais um da série déjà vu, eu escrevi em dezembro de 2006.
Lembrei-me dele ao ver a declaração do presidente Vilson Ribeiro de Andrade, ao comentar o fato de que, neste ano, temos o pior desempenho Alviverde na era dos pontos corridos, de que "os números não dizem nada".
Mais do que contraditória, posto terem sido os números SEMPRE usados como explicação para a permanência de Marcelo Oliveira no comando técnico do time, essa afirmação, SE feita exatamente como foi reproduzida, revelaria uma nova faceta do nosso presidente, a quem eu tenho em alta conta: a soberba.
Pois desprezar números alarmantes como esses, que se somam à sequência de jogos que teremos pela frente, ao fato de termos a defesa mais vazada do campeonato, à realidade de termos vencido apenas UM time grande nesse Brasileirão 2012 (em oito jogos), e a já termos três derrotas em casa, sem demonstrar o mínimo de preocupação, ultrapassa as raias da serenidade e adentra a seara das declarações inconsequentes.
Por óbvio que se deve manter a calma, sem a qual os erros encontram ambiente perfeito pra proliferar. Mas essa calma do nosso estimado presidente, deixada de lado quando ele se permitiu discutir com a torcida, se imprescindível para não sucumbir ao desespero, pode ser fatal SE for fruto da arrogância.
Vilson Ribeiro de Andrade tem muito crédito por ter “comprado a briga” pelo Coritiba, quando muitos viravam as costas para o clube. Sua doação ao Coxa, mesmo passando por problemas pessoais tão sérios, talvez não tenha paralelo na nossa história. Por conta disso, me permito lhe pedir ainda mais, com humildade: não nos deixe voltar ao Inferno do qual você nos tirou.
A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.
Provérbios 16:18
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