Estrela Dourada
Ontem, contra o Goiás, aos 15 minutos do segundo tempo, Ney Franco substituiu João Paulo por Negueba. O que se seguiu depois foi emblemático: a torcida Coxa Branca aplaudindo Negueba, que, de peladeiro, passou novamente a ser a esperança de que o rumo do jogo fosse mudado.
Negueba é, pois, o retrato do Coritiba 2015. Uma enganação, puro jogo de cena, que tenta esconder sua incapacidade com firulas e jogadas de efeito sem objetivo, a exemplo do que fazem os diretores recém eleitos, que de discursos prometendo mundos e fundos passaram à renúncias dos fracos e à covardia acusatória dos que não renunciaram, somando-se a esses os que foram derrotados nessa malfadada eleição, uns culpando os outros, ignorando o fato de terem sido (os que passaram) e de serem (os que continuam) todos igualmente incapazes de mudar o rumo da tragédia que se anuncia há anos.
Concorrem, também, para essa nossa situação deplorável, os “otimistas e ousados” que, ao invés de descrever a realidade do clube, apegam-se a fórmulas fracassadas de jogar a responsabilidade pra a torcida, convidando-a a encher o estádio, como se isso, alguma vez, tivesse feito diferença na nossa história, e insistem em alimentar uma esperança vã, cujas consequências são a cegueira que mata e o sofrimento que castiga.
E assim, nesse cenário em que aqueles amigos dos diretores atuais criticam as gestões passadas, enquanto os amigos dos diretores das gestões passadas criticam os diretores atuais, "esquecendo-se" todos do fato de o núcleo de todas essas gestões manter-se o mesmo há tempos, num medíocre, ridículo e emblemático jogo para apontar quem foi “menos pior”, quando, na verdade, TODOS colaboraram para estarmos onde estamos, seguimos mergulhando no abismo infinito, em uma queda vertiginosa cujo fim não parece encontrar-se em um “simples” rebaixamento, mas na aniquilação total de um clube que outrora já teve muitas glórias, na época que sua torcida não era taxada de apocalíptica quando gritava e exigia respeito à camisa alviverde.
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Relembremos como vem sendo o 2015 Coxa Branca: primeiro, nos deram um time de refugos (Giva, Mazinho, Rodolfo, Negueba, etc.); depois, no desespero, passaram a apelar para os veteranos (Kléber, Marcos Aurélio, Lúcio Flávio, Juan); agora, por último, já praticamente esgotadas as possibilidades de recuperação, recorrem aos meninos (Rodrigo Ramos, Henrique, Evandro). Quanto aos treinadores: ainda que quase ninguém consiga milagres com um time fraco (“quase” mesmo, pois parece que só conseguem isso lá nas partes baixas da cidade...), levamos vários meses para mandar embora um treinador inexperiente e fracassado, para trazermos um treinador experiente que só tem acumulados fracassos nos últimos anos.
Aliás, Ney Franco merece um parágrafo à parte: como é que um time que treina (?) durante uma semana inteira consegue entrar em campo como um amontoado de gente, com os jogadores completamente perdidos em campo e batendo cabeças uns com os outros? A resposta, porém, nem se demora a achar: até eu, que sou mais burro, sei que o Lúcio Flávio não é volante, que o Esquerdinha não é meia direita, e que o João Paulo não é jogador de futebol, só pra citar três exemplos rápidos. “Ah, mas com os jogadores que temos nenhum técnico daria jeito”, dirão. Sim, com outro treinador não sei se conseguiríamos que os jogadores deixassem de ser ruins, mas talvez conseguíssemos ver esse monte de perebas melhor distribuídos em campo, o que talvez nos bastasse para vencer times tão ruins quanto o nosso, mas que têm nos dominado em nosso próprio estádio. Se uma campanha de onze jogos, com quatro derrotas, seis empates e apenas uma vitória (sendo que entre os adversários nessas partidas estavam Joinville, Figueirense, Ponte Preta, e Goiás, todos EM CASA) já não é prova cabal de que esse treinador não tem o mínimo de capacidade para, pelo menos, não nos deixar passar tantos vexames, então admitamos que já jogamos a toalha, e que nada mais pode ser tentado.
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Hoje, segunda feira, vejo muita gente incomodada com as gozações e com as piadinhas pelo fato de, mais uma vez, estarmos na última posição do campeonato. O sofrimento que essas “brincadeiras” nos impõe, entretanto, não deveria ser maior do que o sofrimento de quem apenas agora está se dando conta de que caminhamos para o fim. Sim, pois foi a omissão dos que, mesmo podendo, não se associaram ao clube, foi a tolerância com os erros, foi a “ingenuidade” de replicar discursos mentirosos, foi a má fé de quem vendeu seu apoio em troca de acesso aos bastidores do clube e de poder se dizer íntimo de “personalidades” feitas de barro, foi a incapacidade de gritar ainda mais alto contra os absurdos que se sucediam há anos nos círculos de poder alviverde, o que nos levou a esse momento. Eu, você, todos nós fazemos parte do Coritiba, e contribuímos tanto para os momentos mágicos, de glória, quanto para o ocaso que estamos a presenciar, impotentes. Morreremos todos abraçados, tenhamos tido uma postura agressiva ou passiva. No epílogo da nossa história, não há vencidos ou vencedores. Há apena um derrotado, o Coritiba.
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E, pela segunda vez desde 2006, quando comecei a escrever neste espaço, me vejo sem palavras, para encerrar um post. Queria encontrar alguma esperança, mas um instinto de autodefesa me diz que isso me fará sofrer ainda mais. Vou copiar aqui, então, e por mais piegas que pareça (e seja !), a transcrição de uma frase que eu ouvi ao final de um episódio de uma série televisiva (uma série policial), quando citaram um cara, Thomas Kemp, de que eu nunca havia ouvido falar, que teria dito o seguinte: “o amor não sente obrigações, não pensa nada sobre seus problemas, tenta aquilo que está acima de sua força, não pleiteia desculpas para a impossibilidade, pois crê que todas as coisas são legítimas por si mesmas e todas as coisas são possíveis”.
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