Estrela Dourada
O presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade afirmou, com muita propriedade, não ser o dono do clube.
Trata-se de uma lição de humildade, vinda da pessoa responsável por não ter deixado o clube sucumbir no seu pior momento das últimas décadas, quando o Coritiba rebaixado pelos seus dirigentes, humilhado por vândalos “organizados” e abandonado pelos seus torcedores, principalmente pelo seu quadro associativo, esteve à beira da morte.
Porém, na mesma entrevista concedida a um portal de notícias, VRA disse que seria possível abrir uma negociação para a cessão do Couto Pereira ao Atlético, desde que o presidente rubro negro fosse humilde o bastante para negociar "olho no olho", sem mandar recados.
A possibilidade de o Atlético vir a pedir para jogar no Alto da Glória decorre unicamente do fato de que o seu estádio está sendo reformado para a Copa do Mundo 2014. Essa reforma, como bem disse o Coritiba, está sendo viabilizada à custa de dinheiro público. Então cabe a pergunta: como é possível que o Coritiba, depois de condenar oficialmente (e tardiamente, é verdade) essa engenharia financeira, possa agora vir a tornar-se parte dela, na medida em que cederia a sua casa ao rival enquanto a dele estiver sendo reformada com recursos públicos?
Mais grave do que voltar atrás OUTRA VEZ na sua palavra (depois de anunciar um remendo no Couto Pereira logo após afirmar que seria inviável reformá-lo, e de dizer que não existiria qualquer possibilidade de empréstimo do estádio) é a presunção do nosso presidente que a torcida alviverde aceitaria calmamente que, apenas pelo fato de o presidente do clube da Baixada pedir “com jeitinho”, nós também teríamos que desprezar não só a questão da imoralidade envolvida nesse assunto, como também todas as agressões passadas e, muito possivelmente, futuras, quando a nova casa “deles” estiver pronta.
Eu vivi a época dos grandes atle-tibas, em que o Couto Pereira era dividido igualmente pelas torcidas, em uma festa espetacular e grandiosa. Eu condeno essa imbecilidade do culto à cores, que permite matar e morrer pelo verde ou pelo vermelho. Sou sócio do Coxa há anos, assim como a minha irmã tem uma cadeira na Baixada com o nome dela há muitos anos, também. Eu condeno, pois, essa rivalidade insana entre Coxas Brancas e atleticanos, que transformou em guerra mortal o maior clássico do Paraná. Porém, não é cedendo o seu estádio ao Atlético que o Coritiba irá mudar esse cenário. Muito pelo contrário. Isso só faria aumentar o conflito.
Vilson e Petraglia não são os donos dos seus clubes. Se é que os clubes pertencem a alguém, é às suas torcidas. Que se deixe, então, que elas decidam. E, se já se sabe de antemão qual seria o resultado de uma consulta a elas, que se enterre de vez essa idéia de o Coritiba fazer parte do espetáculo de absurdos que envolve a reconstrução da Baixada. Aliás, o mínimo de vergonha na cara e de respeito próprio não permitiria que esse assunto fosse sequer discutido.
Não é "olho no olho", presidente. É "olho POR olho"!
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