Estrela Dourada
“Todo mundo trabalhou muito bem. Foi uma noite perfeita”, disse o treinador Ney franco, após a vitória contra o Palmeiras, na quarta feira.
Eis um dos (senão o maior) problemas do Coritiba: essa cegueira estúpida, essa mania de fechar os olhos para os seus problemas, de achar que está tudo bem, que as coisas podem se resolver por si só. Perfeita, se analisada de forma absoluta, foi a conquista dos três pontos. E “perfeita” apenas no sentido estrito da pontuação no campeonato, porque permitiu que voltássemos ao mundo fantasioso de que tudo será diferente, a partir de agora. E que assim seja, então.
O jogo contra o Palmeiras foi a mesma rotina de sempre: um time que não conseguia acertar um passe, com Negueba e Thiago Galhardo armando vários contra ataques do adversário, e com um Ney Franco impassível fora do gramado, apenas olhando o Galhardo ser peça nula em campo, limitando-se, no máximo, a mandar recados do tipo “Negueba, pede pro Galhardo entrar no jogo”, e a trocar esses dois jogadores de lado de campo, a toda hora. Pois bastou fazer o óbvio, que era colocar Esquerdinha jogando na sua verdadeira posição (e não pela direita, como ele vinha fazendo), para que o primeiro acerto dele, depois de três erros de passe, bastasse para vencer um desorganizado Palmeiras, tirado dos trilhos por seu maquinista...
E, para diminuir um pouco a alegria pelo resultado, ao invés de se dizer aliviado com a vitória alcançada depois de uma sequencia de oitos jogos sem nem sequer conseguir chegar perto dela, Ney Franco preferiu usar boa parte do tempo de sua entrevista coletiva após o jogo de ontem para disparar críticas à torcida, chamando de mesquinhos aqueles que ousam reclamar do volante João Paulo. Já não basta a covardia dos que abandonaram o barco quando ele começou a afundar, a inaptidão dos que ficaram para tentar evitar o naufrágio, agora também teremos que aturar discursos revanchistas apenas por exercermos nosso direito como torcedores??
Pela campanha que vem fazendo no “comando” do Coritiba, Ney Franco deveria é ter ficado quieto, e aproveitado para refletir se é só a ruindade do time o que tem sido determinante para a posição em que nos encontramos, ou se o fato de ele não parar de inventar meia de volante, zagueiro de lateral, meia esquerda jogando na direita, também não tem contribuído diretamente na sequencia de maus resultados que amargamos antes do jogo de quarta.
Num discurso totalmente incoerente, o treinado vem pedir o apoio da torcida que ele mesmo critica, porque essa se permitiu cobrar um jogador, como ela não estivesse no seu direito, e, pior do que tudo, como se o tal jogador cobrado fosse uma sumidade em termos técnicos, e não costumasse errar em momentos críticos, como no Atletiba, por exemplo. Ele “vestiu a camisa do Coritiba”?? Eu também, mas por amor, e não por um salário mensal.
Sim, tem aquela história de o coração insistir em ver esperanças mesmo quando o cenário é desolador. E se uma vitória conquistada em cima do time de Marcelo Oliveira e Robinho já é boa, melhor ainda quando ela vem interromper uma sequencia que havia nos deixado com a lanterna nas mãos. Porém, o que deveria se suceder a essa vitória era a humildade, por parte do treinador, em reconhecer as limitações, suas e da equipe, para trabalhar em cima delas e tentar buscar o praticamente impossível. Mas o que se seguiu foi um discurso de desabafo contra a torcida, entremeado por exaltações mentirosas sobre uma pretensa perfeição de tudo.
Pois esse Coritiba de hoje não merece trégua alguma. Não somente pela campanha medíocre e vergonhosa que vem fazendo no campeonato, consequência não apenas da absoluta incompetência diretiva que nos assola, mas também dessa maldita mania de termos que ouvir, imediatamente após uma vitória, o discurso beligerante de um treinador que, ainda que tenha que trabalhar com um elenco muito limitado tecnicamente, exige da torcida uma tolerância cujos números no campeonato proíbem que exista.
Não que isso signifique alguma coisa para quem quer que seja, mas eu assumo o compromisso de vir aqui me desculpar publicamente, caso essa perfeição narrada por nosso treinador nos livre do rebaixamento. Até lá, porém, penso que Ney Franco deveria se limitar a continuar se empenhando para conseguir tal milagre, ao invés de revoltar-se com a torcida e a pintar uma perfeição que não existe. Pois o caminho para tornar um sonho realidade não é tentar distorcer a realidade com palavras, mas continuar a trabalhar muito, e em silêncio, para muda-la.
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