Eterno Campeão
Ontem vimos vários jogos em um só. No primeiro tempo, acredito que o time entrou bem postado. Organizado de modo a expor o mínimo possível a nossa defesa vulnerável. O que acabou funcionando.
Mesmo fracos do ponto de vista técnico, os contestados Dalberto e Wagninho, conseguiram cumprir um papel mais importante no aspecto defensivo do que ofensivo. Ambos faziam uma primeira linha de marcação nas laterais, de modo a facilitar o trabalho de Igor e Romário. Val voltou a mostrar um futebol melhor e a entrada de Wellington Carvalho melhorou a zaga no quesito mobilidade, pois é mais veloz que Nathan Ribeiro e Castan. Inclusive, mesmo com suas limitações, marcou mais em cima, antecipou jogadas e demonstrou-se melhor que o companheiro de zaga, exceto na saída de bola. E pasmem, fizemos o gol em uma jogada rápida de contra-ataque puxada pelo extraordinário Rafinha.
O torcedor, finalmente, pôde ficar um pouco mais tranquilo, pois parecia que conseguiríamos controlar o jogo e ampliar o placar.
Mas se observarmos a história recente, não me lembro do Coritiba mantendo uma boa atuação nos noventa minutos. E foram suficientes apenas dez minutos para o calejado e saturado torcedor coxa branca ficar aterrorizado diante dos sinais que estávamos vivendo mais do mesmo.
Como cada vez mais habitual, a maior parte dos jogadores voltou a campo apenas fisicamente. Pareciam no mundo da Lua. Val, que é um bom jogador, se deu ao direito de dormir por quinze minutos. As alterações do técnico adversário, tornaram inócuo o papel tático exercido no primeiro tempo por Wagninho e Dalberto. Formou-se um espaço enorme entre os homens de meio e ataque, o que impedia que a equipe ligasse um contra ataque ou ao menos segurasse a bola, de modo a refrear o ímpeto adversário.
Tomamos o empate e quase levamos a virada. Com as nossas substituições, acertadas ao meu ver, o jogo se tornou equilibrado. Val acordou. Willian na raça começou a roubar mais bolas. E Rafinha deu duas enfiadas geniais para Igor e Igor Paixão. A primeira delas, Igor Paixão desperdiçou bisonhamente ao tentar bater de primeira, quando tinha espaço para matar a bola e depois finalizar com o corpo equilibrado.
Na sequência, Morínigo coloca Valdeci no lugar de Rafinha. Concordo com a entrada de Valdeci, mas discordo totalmente da saída de Rafinha, principalmente precisando-se fazer o placar. A substituição só seria aceitável, caso o atleta tenha pedido para sair. O que não parece ter acontecido, em virtude da aparência de descontentamento que demonstrou.
Rafinha merece um capítulo à parte. É um jogador extraordinário. No aspecto técnico e humano. Tirando as posições de goleiro, zagueiro e centroavante, poderia jogar em qualquer outra, tal a versatilidade e qualidade de fundamentos que apresenta.
Até o dogma de que não aguenta jogar toda a partida ou que deixa a equipe lenta é capaz de jogar por terra. Quem viu a jogada do primeiro gol, acha que ele não tem velocidade para puxar um contra-ataque? Sabe desarmar infinitamente melhor que nossos laterais e a maioria dos nossos zagueiros e volantes, dá passes e lançamentos preciosos, dribla bem e muitas vezes ganha de cabeça de jogadores bem mais altos. E demonstra amor à camisa, prazer de jogar futebol e compromisso com a vitória raramente vistos no futebol atual. Quem dera todo nosso elenco tivesse essa postura dentro de campo. Mesmo com todas as limitações técnicas, certamente estaríamos nas finais do estadual e com uma pontuação bem melhor na série B.
Voltando à peleja de ontem, nos minutos finais, na base do entusiasmo e um pouco melhor organizados, quase conseguimos a vitória, que consideraria justa, apesar dos erros apresentados. Só não ocorreu, pela não marcação de uma penalidade clara. Algo corriqueiro contra o Coritiba em 2021.
Entendo e compartilho de toda a irritação e descontentamento da torcida Coxa. Mas o elenco será esse, com pouquíssimas modificações. Mesmo que venha alguma contratação, só poderemos avaliar a efetividade quando o atleta estiver em campo, pois não temos condições de contratar nenhum atleta que nos dê uma certeza de bom desempenho. Quanto a contratações, continuamos à espera de um milagre, como no título do conhecido filme. Fica a esperança de que pontualmente, dois ou três atletas da base ajudem a qualificar a equipe.
Só saberemos o que cada equipe quer e pode fazer nesse campeonato a partir da décima segunda rodada, quando começarão a se formar os blocos de cima, intermediário e dos que brigam para não cair.
Pelo que foi apresentado até agora, não vejo o Coritiba como favorito. Acredito que temos chance e condições, mas será muito mais difícil do que imaginávamos. A primeira coisa que devemos fazer é colocar na cabeça dos jogadores de que a camisa não joga sozinha, de que não somos superiores a ninguém até o árbitro finalizar a partida e a vitória esteja sacramentada e finalmente, de que raça, concentração e aplicação tática são fundamentais nos noventa minutos e não apenas em 45, 80 ou 88.
Finalmente, sobre o treinador e comissão técnica, tenho a impressão de que as cobranças são exageradas. É claro, que de cabeça quente, quando ele faz uma substituição que não entendemos ou com a qual não concordamos, o primeiro impulso é de querer substituí-lo. Entendo que realmente ocorreram a maioria dos erros do profissional, que tem sido apontados pela torcida e comentaristas. Mas os maiores responsáveis pelo resultado de uma partida são os atletas. Na equação do nosso fracasso há muitos fatores envolvidos. É ilusão que mudar apenas um deles, resolverá nossos problemas. Ainda mais que não acompanhamos os treinos e a rotina interna do clube.
Se optar-se pela mudança de treinador, que seja com critérios muito objetivos, focados no trabalho e não somente nos péssimos resultados obtidos em campo, que não dependeram apenas dele. De modo geral, somos muito pretensiosos de achar que temos solução para um problema crônico que vários profissionais já tentaram resolver. Será que todos eram incompetentes? Se mudar, tem que ser com uma convicção muito grande do que se quer e não apenas para dar satisfação para a torcida e apagar incêndio. Senão em mais dez ou doze rodadas estaremos pedindo a cabeça do "incompetente" "teimoso" da vez.
Independentemente da opinião acerca de técnico, jogador ou diretoria, estamos todos no mesmo barco, torcendo e muito, até as últimas possibilidades, pelo acesso. Sou empático a todos que sofrem e querem uma solução imediata. Eu também quero. Mas quero mais ainda uma solução duradoura para o nosso clube. Nem que para isso tenhamos que ter paciência e amargar mais alguns dissabores. Por enquanto, o que podemos fazer é fortalecer o clube financeiramente por meio do plano de sócios e cobrando a diretoria de forma responsável.
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