Eterno Campeão
Há alguns anos a questão do sócio do Coritiba vem sendo debatida e já foram levantadas diversas questões. Ao longo do tempo foram realizadas mudanças, que de modo geral, levaram a algum aperfeiçoamento. Como exemplo de medidas positivas que me chamaram atenção foram: possibilidade dos sócios kids acompanharem sem custo seus pais ao estádio até completar 12 anos de idade e participarem como mascotinhos nas partidas, ampliação do contingente de sócios aptos a participar das decisões políticas do clube, além de outras promoções, parcerias e descontos, cujos detalhes não serão o objetivo desta análise.
Com certeza, há espaço para novas discussões e melhorias pontuais, mas creio que o excesso de mudanças gera expectativas irreais e impede que o plano de sócios se torne bem conhecido dos torcedores. O plano de sócios deve ser baseado no conhecimento das características e necessidades da torcida, de modo que adesão e retenção sejam facilitadas. No início da atual gestão, o clube deu um passo nesse sentido, com questionários sendo dirigidos aos nossos torcedores.
Como é de conhecimento geral, o futebol é um esporte extremamente caro, e com pouco dinheiro não se obtêm sucesso, mesmo que se otimize a gestão dos recursos. Alguns erros e percalços são inevitáveis. Ocorrem em todos os clubes, que tem que operar com esse tipo de risco. Entretanto, acredito que clubes como o Coritiba, que são grandes em âmbito estadual, mas que ficam no meio do caminho no cenário nacional, são os mais penalizados. Seu torcedor é tão exigente quanto os dos clubes grandes do eixo, mas trabalha com receitas muito menores. Já os pequenos, podem trabalhar dentro de sua realidade, sem grandes expectativas e cobranças. Por sua vez, os grandes clubes do eixo, podem se sujeitar a maiores riscos e tem melhores condições de absorver eventuais equívocos.
Até agora falamos apenas da montagem de elenco e de questões que envolvem a competência esportiva e administrativa. Se colocarmos na fórmula questões que ocorrem de maneira recorrente no futebol brasileiro, como atuações desastrosas de árbitros (claramente parciais e que levantam suspeitas), bem como a falta de isonomia nas decisões das cortes esportivas, pode-se colocar por água abaixo todo trabalho sério e competente que tenha se realizado. No final, o que fica é o resultado.
Não tenho dúvidas de que se tivéssemos ganho uma ou até as duas Copas do Brasil que disputamos em 2011 e 2012, continuaríamos patinando, se não houvesse uma mudança na forma de se administrar o clube. De qualquer forma, o Coritiba gozaria de muito mais prestígio, o que teria facilitado questões relacionadas a patrocínios, negociação de cotas de TV, além da fidelização e captação de novos torcedores.
Onde pretendo chegar com essas ponderações, podem estar se perguntando. Acredito que o Coritiba só terá alguma chance de sucesso, se entre outros fatores tiver um número expressivo de associados, de maneira contínua. O que ocorreu após a perda do título de 2011, por exemplo. Quando vários torcedores abandonaram o plano de sócios, mesmo tendo um time competitivo e brigador, me fez duvidar se a alcunha de “torcida que nunca abandona” pode ser utilizada por toda a torcida, ou por apenas 12 a 15 mil torcedores. E para aqueles que realmente são apaixonados pelo clube, só há duas situações que justificariam a debandada: problemas financeiros ou corrupção comprovada na gestão clube. Maus resultados e incompetência administrativa não são motivo justificável na minha visão, pois apenas se penaliza ainda mais a instituição.
Embora o clube deva buscar diversas outras fontes de receitas, as contribuições dos sócios, caso fiéis, são a única fonte de receita certa e que não deve variar, independentemente de queda de divisão, por exemplo.
O que deve se buscar é a conscientização de que ser sócio, antes de representar recebimento de vantagens e brindes, é participar ativamente para o sucesso ou até sobrevivência do clube que amamos. O torcedor que quer time de primeira e contribui com o mínimo possível com o clube, infelizmente está fora da realidade. Se o torcedor não confia em investir no próprio clube que diz amar, por que um grande investidor o faria?
Temos torcedores do clube, com poder aquisitivo suficiente para atingirmos 40.000 sócios. Por que isso não ocorre? Porque a associação ao clube não é prioridade. Com todo o direito que compete a cada um decidir o que é melhor para si, outros eventos e alternativas de lazer são colocados em primeiro lugar.
E quanto aos torcedores que realmente são desprovidos de recursos para frequentar um ambiente que se apresenta cada vez mais elitizado? Tem que se criar opções. Afinal, não somos o clube do povo? Possivelmente, um setor popular fidelizado, com custos bem menores, ou um plano com descontos bem interessantes na aquisição de ingressos poderiam ser alternativas para estes torcedores ocuparem o vácuo deixado por torcedores mais abastados e que acompanham o clube ocasionalmente, quanto os ventos sopram a favor. Estes podem, tranquilamente, adquirir os ingressos que porventura restarem, pagando valores mais altos, na ocasião que julgarem interessante comparecer.
Para termos um Coritiba vencedor e viável economicamente precisamos de uma torcida com participação infinitamente superior as dos clubes do eixo. Pois estes, mesmo com participação menor dos seus torcedores, acabam nos superando no volume, na distribuição injusta das verbas de TV e pelos patrocinadores que atraem por sua visibilidade.
E você coxa-branca, o que pensa?
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)