Eterno Campeão
Logo que surgiu a notícia do retorno do goleiro Alex Muralha ao Coritiba, recomeçaram as discussões acerca da qualidade dele e do goleiro Wilson, e as manifestações dos torcedores advogando a favor ou contra a titularidade de um ou outro.
Parece que a discussão será interminável. Natural, até certo ponto, pois somos uma torcida numerosa, de modo que vários pontos de vista podem surgir. Muitos argumentos utilizados são legítimos, enquanto outros me parecem despropositados e desprovidos de uma análise mais ampla e racional.
O torcedor do Coritiba tem a fama de ser exigente, algumas vezes beirando a chatice, o que tem se intensificado diante dos inúmeros jogadores sem condições de vestir o nosso manto, que tem figurado nos elencos mais recentes. A maioria é criticada com justiça, mas não são poucos os casos de julgamentos precipitados e até mesmo de injustiça e ingratidão.
Desde que me conheço por torcedor, nenhum goleiro passou pelo clube de maneira incólume à situação acima descrita. Fazendo um rápido retorno ao passado, lembro-me que nem mesmo o grande “São Rafael”, de atuações regulares e um dos principais responsáveis pelo nosso maior título, foi poupado. No campeonato brasileiro de 1988, levou um gol de falta, em um jogo decisivo contra o Cruzeiro. Bastou para ser responsabilizado pela desclassificação do clube por alguns dirigentes e torcedores. No máximo, seria uma bola defensável. Nem falha e muito menos frango.
Ao longo do tempo, dá para elencar vários goleiros que passaram pelo mesmo processo. Jairo foi considerado o “goleiro do fantástico” em um jogo em Londrina, decisivo para que chegássemos à final do estadual de 1983. Infelizmente, perdemos a primeira partida da final, com um gol onde ocorreu uma grande lambança entre ele e os zagueiros. Depois, em 1985, quando precisamos dele, na semifinal, mesmo sem a mesma agilidade e reflexo de seus tempos áureos, fez uma grande partida e nos ajudou sobremaneira.
Para não detalhar caso a caso o que tornaria esta reflexão muito extensa, citarei rapidamente outros casos de goleiros extremamente competentes que eventualmente cometeram falhas ou frangos, ou que nem os cometeram de fato, e foram cobrados de maneira exagerada ou tiveram todas as suas grandes atuações desconsideradas por muitos:
- Édson Bastos – falhou contra o Vasco na decisão da Copa do Brasil em 2011. Foi decisivo para várias conquistas do clube entre 2007 e 2011 e evitou muitos gols certos em várias partidas.
- Vanderlei – tomou um frango na final do paranaense de 2013. Felizmente, o Coritiba era muito melhor e acabou que não ocorreram consequências mais graves. Várias vezes criticado injustamente, por uma minoria é verdade, por gols sofridos em 2014. Também decisivo em inúmeros títulos e campeonatos.
Outros goleiros, alguns apenas bons e outros excelentes, como Fernando, Gerson, Gilberto, Régis, Renato e Anselmo passaram por situações semelhantes.
De volta ao presente, temos em Wilson e Muralha, no mínimo dois bons arqueiros. O que por si só, permitirá que não exista unanimidade sobre a superioridade de um deles. Some-se a isso, que existem fases na vida dos atletas, o que permite que essa avaliação mude ao longo do tempo. Não ficarei em cima do muro. Considero Wilson excelente e Muralha bom. Nenhum infalível como esperam alguns torcedores.
Vejo como exageradas e despropositadas as críticas a ambos em diversos comentários que tenho lido, de adeptos de um e outro, na tentativa de imposição do seu ponto de vista. Wilson não é ídolo e nem tem o alto número de partidas como titular do Coritiba por acaso. Numa breve análise, talvez tenha mais lances seus que possam ser lembrados como falha do que os de Muralha. Afinal atuou muito mais. Muralha já nos deu alguns sustos, mas teve poucas falhas que resultaram em gols, além de ter contribuído bastante quando foi requisitado.
Algumas afirmações bizarras e muito injustas, por exemplo, são atribuir culpa a Wilson, pelo rebaixamento de 2017, à conquista de apenas um título em sua passagem, à quantidade de rebaixamentos em que esteve presente em sua carreira, além de, pasmem, “chamar gol e ser azarado”. O último “argumento”, nem perderei tempo de analisar. Em 2017, se anulássemos as falhas e as grandes defesas e atuações de Wilson, acredito que não teríamos chegado à última rodada com chances de permanecer na série A. Quanto aos rebaixamentos na carreira, será que podemos atribuir essa responsabilidade a um único atleta, principalmente, quando estivemos sob as mais incompetentes gestões da história. Ao único título, pesa o mesmo argumento. Se somente a conquista de títulos faz um jogador grande, o que diríamos de excepcionais jogadores que não os conquistaram. O melhor exemplo que tenho, em nossa história, é Pachequinho.
Saindo dessa discussão, e falando sobre o momento atual, em que pese a ausência de um reserva melhor testado, entre os atletas provenientes das categorias de base, a contratação de Muralha seria interessante. Desejo todo o sucesso ao valoroso atleta nessa segunda passagem. Mas, considerando que a realidade financeira do clube é preocupante, com inúmeros boatos não desmentidos, de atrasos de salários, a contratação de um goleiro não configura prioridade, independentemente do salário oferecido ao novo contratado.
As carências nítidas do elenco são um meia e um atacante veloz qualificados. Realmente são posições muito difíceis de serem supridas, principalmente com os recursos financeiros disponíveis. Desse modo, estrategicamente, não faz sentido utilizarmos o nosso combalido orçamento na contratação de atletas de posições que podem ser supridas por jogadores da base ou para as quais já dispomos de ao menos uma referência técnica. Se além de Muralha, vierem atletas qualificados nas posições destacadas, ainda é justificável. Senão, tem-se a impressão de que os nossos gestores não encontraram os atletas necessários e aproveitaram as oportunidades de contratação que apareceram para encher a prateleira e mostrar para a torcida que estão contratando. Diversas aquisições recentes de atletas apresentaram este perfil. Vamos aguardar os próximos passos da diretoria.
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