Fala, Dr. X!
Muitos torcedores tem me cobrado a respeito de um posicionamento deste que vos escreve sobre as organizadas e mais especificamente, sobre a Império. Já adianto que o post é polêmico.
Sou do tempo do MUC de Edson Finck e Tiradentes e as muitas bandeiras. Sou do tempo da Jovem com o Fábio (Neguinho) e seu incansável repinique. Sou do tempo da Mancha com Jango, Betão e Espeto com suas caras pintadas e mãozinhas que faziam festas até hoje lembradas. Sou do tempo da Gaviões, Estudantil, Dragões. Sou do tempo da Império com Luizão, Porkys e Papagaio que passaram a comandar um estádio inteiro de torcida única, com seus cantos de incentivo ao Coritiba. Sou do tempo do Green Hell que mostrou ao Brasil inteiro a festa da torcida do Coritiba, colocando-a nas primeiras páginas e nas maiores redes de televisão em horário nobre. Sou do tempo que ficava picando papel semanas antes dos jogos. Sou do tempo que o pessoal pegava extintores "emprestados" nos prédios em que moravam, para fazer a festa no ***Tiba. Sou do tempo em que se colava adesivos com o escudo do time nos vidros dos carros. Sou do tempo que ainda era possível andar com a bandeira no carro após a vitória do Coxa. Sou do tempo em que era possível andar tranquilamente de ônibus pela cidade, vestindo a camisa do meu amado Coritiba. Sou do tempo em que ganhava na arquibancada, quem levava mais papel higiênico pra jogar na entrada do time, maior era a bateria de fogos e maior era a bandeira que desfilava no gramado.
Mas infelizmente, eu também sou do tempo em que bombas são arremessadas ao invés de papel picado. Pedras são arremessadas ao invés de palavras. E campos são invadidos para brigar ao invés de comemorar títulos. Triste realidade dos tempos. Tempos estes que não voltam atrás. Tempos de violência, de falta de educação, de falta de civilidade, falta de respeito e principalmente, falta de valores. A vida humana já não vale mais nada.
E esse problema é somente do Coritiba? Obviamente não. Tão pouco é um problema somente do futebol. Estamos vivendo tempos de violência onde torcedores são agredidos por policiais, policiais são agredidos por vândalos e jogadores são metralhados por conta de problemas políticos. Esporte é vida. É saúde. Não é isso tudo o que vemos. Mas infelizmente, os tempos atuais são outros.
Talvez neste ponto do texto, você já deva estar se perguntando, o que isso tudo tem a ver com o que aconteceu no fatídico dia 06 de dezembro de 2009. Eu explico, pois tem tudo a ver.
O ano de 2009 foi um ano sofrido para a Nação Coxa-Branca. O ano que era o mais importante de nossa história, acabou sendo o maior fracasso desta centenária instituição. Um ano inteiro sofrendo com mentiras e falsas promessas de uma diretoria perdida que só pensa em permanecer no poder por 12 anos. Do outro lado, o Coritiba padecia, segurado e amparado por sua torcida. Torcida esta, que infelizmente não estará mais neste plano para ver uma novo centenário. Virão novas gerações. Novos torcedores. Mas nós, infelizmente não estaremos aqui.
O que ocorreu no estádio, foi uma somatória de fatores. Torcedores desesperados e incrédulos com o que estavam vendo. Dois anos após voltar da maldita série B, o Coritiba estava voltando para lá, como um time pequeno e com a cabeça baixa. Um time com muitos covardes e mercenários dentro das quatro linhas e amadores no comando. O torcedor mais inflamado não se conteve. No apito final do juiz, este torcedor precisava tomar uma atitude. Pensava que algo precisava ser feito ali, naquele momento. Sua atitude poderia ser decisiva, mostrando que ele não estava contente e que estavam acabando com o Coritiba. Sua indignação precisava ser mostrada aos dirigentes e jogadores que não conhecem o que é ser Coritiba. Este torcedor precisava mostrar que fez a sua parte no acordo, apoiando e incentivando o clube em todas as partidas. Mas infelizmente não foi o que aconteceu. Além deste torcedor desesperado, vândalos também invadiram o gramado. Agrediram pessoas que nada tem a ver com o que foi feito com a nossa torcida durante o ano todo. Agrediram pais de família, que ali estavam pelo exercício de sua profissão. Eram eles, policiais militares, funcionários do clube, repórteres, fotógrafos que perderam seus equipamentos e quase suas vidas.
A culpada foi indicada pela diretoria: a Império. A IAV foi culpada pelo rebaixamento, pela invasão, pela interdição, pela proibição das demais torcidas organizdas, pelo aumento do valor do ingresso e pelo aumento no valor das mensalidades. Boa parte da torcida concorda. Eu já não concordo. A Império teve participação? Em minha análise, sim. A maioria dos invasores, não usava camisas da Império e sim de Comandos. Comandos estes, que surgiram (dentro da Império, é verdade) para unir torcedores em seus bairros, vilas, cidades ou regiões da cidade. Essas pessoas não respondem pela Império. Respondem por seus comandos. E não sou eu quem está falando isso. Basta perguntar para qualquer um deles. O próprio Papagaio, ainda em dezembro, decretou o fim de todos eles (menos o comando feminino). Haviam muitas cadeiras dentro do gramado. Mas onde fica a Império, não existem cadeiras. Teria sido somente a Império a culpada então? É verdade também, que havia diretores da Império envolvidos na confusão e ainda alguns indícios de que tudo havia sido combinado na viagem de volta de Belo Horizonte. Fica a pergunta: Se já haviam informações desde a volta de Belo Horizonte, se o presidente do clube já havia recebido denúncias e ameaças, por que mesmo assim nada foi feito? Por que não haviam policiais com cachorros em todo o entorno do gramado, como SEMPRE acontece em jogos "de risco"? Parece que tudo se encaixa perfeitamente, quando lembramos que o Brasil terá uma Copa do Mundo. E as torcidas organizadas são consideradas uma ameaça para o perfeito, calmo, pacífico e lucrativo desenrolar da Copa.
A Império deve ser punida? Obviamente que sim. Querendo ou não, mandando ou não, com o Papagaio (presidente da torcida) sabendo ou não, ficou comprovado o envolvimento de pessoas ligadas à diretoria da torcida. Acabar com a Império e proibir a sua entrada é a solução? De maneira alguma. Primeiro que não cabe ao clube, acabar com a torcida. Segundo, que no ano de 2010, precisamos de toda força possível para que possamos MAIS UMA VEZ, reverter a situação em que se encontra o Coritiba. Não é separando que vamos conseguir a união.
Acusar é fácil. Difícil é levantar a bunda da cadeira e fazer melhor. Essa diretoria banana se aproveitou dos fatos do dia 06 de dezembro para simplesmente fazer uma cortina de fumaça em torno de si mesma. Acusaram a Império como sendo a responsável pela queda do Coritiba para a segunda divisão e isto não é verdade. A culpada pela queda é a diretoria Pinocchio. Eles contrataram jogadores, treinadores, amigos, parentes, fizeram festas e deu no que deu.
Ninguém lembra das festas das Império durante todos os anos. Ninguém lembra de quem viaja com o clube para todo o Brasil para apoiar o Verdão. Ninguém lembra quem empurra o time (mesmo medíocre) para cima dos adversários durante os 90 minutos da partida. Ninguém lembra quem sempre faz a estádio todo levantar para gritar ainda mais alto e ser o 12º jogador em campo. Ninguém lembra do projeto Torcida Social. Ninguém lembra das propostas de melhorias e para o fim da violência, apresentados pela diretoria da torcida aos órgãos competentes. E ninguém lembra que o Couto Pereira tende a voltar a ser uma enorme geladeira sem as organizadas. E nesse ponto, não estou defendendo a IAV. Estou defendendo toda a torcida do Coritiba. Gostando ou não, quem faz a festa dentro dos estádios no Brasil, são as organizadas. Por que não regulamentar?
Existe ainda a questão da responsabilidade. Bandido deve ser preso pela Polícia e condenado pela Justiça. Não é o presidente da torcida, nem o presidente do clube que tem que fazer isso. Uniformizados, os torcedores (ou vândalos infiltrados) podem ser facilmente identificados pela polícia dentro do estádio ou nas ruas. E com roupas comuns? Alguns torcedores aplaudem quando a polícia pára um ônibus lotado de torcedores com a camisa da organizada para "dar geral". E quando não estiverem mais uniformizados. Qualquer ônibus será parado e todos os torcedores (organizados ou não) serão revistados. Causar o caos para acabar com uma fagulha. Enquanto houverem as torcidas organizadas, os presidentes das mesmas, terão como identificar e ajudar a polícia na identificação e captura de vândalos, traficantes, baderneiros e bandidos. E quando não houver mais? Boa parte da violência que vemos nas ruas hoje, é entre as organizadas e seus comandos. Principalmente entre comandos, que nada mais são do que os mais velhos chamavam de gangues. E depois? Alguém acredita que os marginais simplesmente vão desaparecer da face da Terra, só porque as torcidas não existem mais? Eu sinceramente duvido e ainda acho que é muito mais arriscado. E se algum bandido me encontrar na rua com a camisa oficial do Coritiba e pensar que sou integrante de uma organizada (ou comando)? O que será da minha vida? Quem vai me defender? Quem será o culpado? Ou vão proibir também o uso de camisas oficiais na rua?
Medidas como convocar todas as pessoas identificadas e denunciadas a prestar serviços ao clube para "pagar" pelos danos causados seja através de limpeza, pintura ou conservação do estádio ninguém pensou? Ou ainda, exigir uma contrapartida das TO´s, colocando como condição para adentrar ao estádio com materiais de torcidas (roupas, bandeiras, faixas, instrumentos e adereços), os integrantes das mesmas devem ser obrigatoriamente sócios do clube? Isso também ninguém pensou? Fazer uma parceria com a T.O. para que esta use o símbolo do clube em seu material oficial, tornando este produto licenciado do clube e gerando royalties também ninguém pensou?
Talvez até tenham pensado. Mas neste momento, a caça às bruxas deve ser generalizada. Atitudes como as da diretoria, só reforçam a tese do STJD e da Vênus Platinada de que na torcida do Coritiba só tem vândalos. Na hora de fazer festa, todos cantam "A caveirinha". Na hora de levar a fama, são os "maloqueiros da IAV". Eu não generalizo nunca. A não ser com os poodles. Mas na nossa torcida não. Bandido e maloqueiro tem em todos os lugares. Assim como gente boa, trabalhadora e de paz também tem. Generalizar é o maior erro que se pode cometer nessa hora.
Ao invés de manter os preços dos ingressos ou então manter o valor das mensalidades dos sócios, a diretoria elevou os preços nas alturas. Nitidamente quiseram atingir o torcedor de baixa renda. Numa atitude totalmente preconceituosa como as que o Coronel já tomou no outro canto da cidade, a diretoria do Coritiba elimina boa parte dos torcedores e diz claramente que não precisa deles. Quiseram afastar boa parte da IAV do estádio e estão afastando o torcedor comum. Aquele que junta o que sobra no final do mês, para poder assistir a pelo menos um jogo. E agora? Ou ele paga os 50ão por mês, ou terá que pagar 50ão por jogo. Ou seja, o Coritiba não precisa de torcedor que não tenha ao menos R$ 50,00 para gastar com o clube todo mês.
Agora resolveram proibir tudo. Inicialmente, faixas de apoio ao Coritiba estavam liberadas. E agora? Pessoas trajando uniforme ou adereços que contenham símbolos, marcas e nomes alusivos a quaisquer torcidas organizadas ou grupos com identificação semelhante estão proibidas. Todos os materiais e objetos que contenham símbolos, marcas e nomes alusivos a quaisquer torcidas organizadas ou grupos com identificação semelhante estão proibidos. Vestimentas como camisa, calça, bermuda, boné, agasalhos, cachecóis e etc... com símbolos, marcas e nomes alusivos a quaisquer torcidas organizadas ou grupos com identificação semelhante estão pribidos. Instrumentos com símbolos, marcas e nomes alusivos a quaisquer torcidas organizadas ou grupos organizados estão proibidos. Qualquer tipo de faixa está proibida. Bandeiras com símbolos marcas, nomes alusivos ou dizeres de torcidas ou grupos organizados estão proibidos. É extremamente proibido fixar qualquer bandeira em grades e/ou parapeitos. Então, pela lógica das proibições, se eu for ao estádio com 5 amigos, todos usando a camisa oficial do Coritiba, com o número 100 nas costas, seremos barrados? Pelo visto sim. Pois nos enquadraremos no ítem: grupos com identificação semelhante. Tenha santa paciência. Ir ao jogo pode? Essa diretoria está afastando a torcida do clube. Está tentando diminuir o número de sócios para facilitar uma reeleição daqui 2 anos. Só não vê quem não quer.
O objetivo desse extenso post, é dizer ao torcedor do Coritiba: Eu não sou contra as T.O´s. Eu sou contra a violência e sou a favor da festa. Sou a favor da regulamentação das T.O´s. Sou a favor da parceria em que ambos os lados sejam beneficiados, mas ainda mais o clube, pois as T.O´s vivem para o clube e não podem viver dele. É mostrar para a diretoria, que é preciso criar planos de sócio com preços justos, dentro da realidade econômica do país e principalmente de seus torcedores. Existem empresas especializadas que fazem esse tipo de pesquisa. Se não acreditam na gente, basta encomendar uma pesquisa dessas. Ou pior: contar nos dedos os torcedores dentro do estádio. União é isso. O que estão fazendo, é segregação. Separando quem pode, de quem não pode pagar caro. O torcedor que paga 50ão por mês ou por jogo tem o mesmo valor daquele que só pode pagar 10 u 20 por jogo e só pode ver um jogo por mês. A vida e a saúde de sua família são mais importantes para ele do que o Coritiba. Mas nem por isso ele abandona(va).
Esse foi o objetivo do post. Não peço que concordem ou discordem. Apenas reflitam. Porque no final das contas, todos nós já sabemos de quem será a culpa e a conta: da Torcida.
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