Fala, Dr. X!
Há vários anos o centenário era aguardado com ansiedade pela torcida do Coritiba. Muitos imaginavam nova conquista do Campeonato Brasileiro, vaga garantida na Copa Toyota Libertadores, título da Copa do Brasil, novo Couto Pereira, etc. Se olharmos sob essa perspectiva, o centenário foi um fracasso. Se sob a situação histórica de nosso clube dirigirmos uma análise um pouco mais acurada, entretanto, veremos que o centenário pode se tornar decisivo para o futuro do maior clube do Paraná. Para percebermos isso, é suficiente que façamos algumas breves observações.
Primeiramente, temos de reconhecer que as décadas de paralisia subseqüentes à agressão empunhada pela CBF em 1989 fizeram com que o Coritiba regredisse ao nível de clube médio no futebol brasileiro. Pensar diferente é alimentar a própria ilusão. Atualmente, não temos condições de disputar jogadores e patrocinadores com clubes como o São Paulo, o Internacional ou o Flamengo. Por quê? Na década de 90, ficamos anos sem conquistar um único campeonato paranaense. Ficamos anos disputando a segunda divisão ou tendo campanhas vergonhosas na primeira. A torcida alviverde, reconhecidamente a maior e mais vibrante de nosso estado, tornou-se mais amarga, pessimista e impaciente (reflexo direto daquilo por que passava o clube). Quem foi aos jogos do Coritiba na década de 90 se acostumou a ver uma espécie de torcida que os mais novos talvez nem imaginem ter existido há tão poucos anos.
Diferentes administrações se sucediam sem que se configurasse um planejamento de longo prazo para o retorno do alviverde à verdadeira elite nacional (não a que compõe a série A, mas a que disputa títulos). O que fizeram clubes como Internacional e São Paulo, não fez o Coritiba. Lá, a estagnação aparente indicava uma reestruturação administrativa. Aqui, amadorismo. Em 1989, o Corinthians, por exemplo, não tinha nenhum título brasileiro, mas nós tínhamos. Hoje, o alvinegro paulista tem 4 títulos do Campeonato Brasileiro e três títulos da Copa do Brasil. Com isso, nosso clube enfraqueceu-se em um ponto vital: auto-estima. Os dirigentes pararam de pensar grande, aceitando o marasmo como resultado da “pequenez” do Coritiba. O erro gritante de percepção tornava-se fato. Os jogadores que aqui chegavam, além da visível falta de qualidade técnica geralmente mostrada, percebiam um clube sem ambição, razão pela qual os poucos que obtiveram êxito buscaram acelerar suas transferências para os clubes “maiores”. Ficar em um clube que não disputa nada? Não, obrigado.
Era preciso que duas revoluções ocorressem no clube: uma fora da diretoria e outra dentro. Uma na torcida – que precisava voltar a contagiar o clube e exigir mudanças – e outra na administração.
A primeira delas, felizmente, está acontecendo. A cada ano que passa, nossa média de público aumenta. Fomos rebaixados com uma das melhores médias de público do campeonato - em 2005 -, lotamos estádios na segunda divisão, levamos milhares de torcedores a estádios situados a centenas de quilômetros de Curitiba, chegamos a um número cada vez maior de sócios. A Império Alviverde mostra-se cada vez mais forte nas arquibancadas. O Povão traz uma nova filosofia de apoio ao clube. Renasce a Mancha Verde. Renasce o MUC. As arquibancadas estão cada vez mais lotadas. Luzes, vozes, faixas, bandeiras: tudo convergindo para empurrar o clube novamente para a grandeza.
A administração, todavia, não acompanha a evolução da torcida. Um quadro administrativo arcaico, paralisado por um estatuto obsoleto e por disputas movidas pelo ego e por interesses egoísticos, faz com que tenhamos no campo o reflexo do que ocorre internamente. Este Brasileirão é um exemplo evidente. Chegar à última rodada precisando desesperadamente vencer o Fluminense para não ser rebaixado é exatamente o oposto do que merecia a torcida coritibana apenas dois anos após a luta do retorno à série A. Após os últimos resultados, boa parte da torcida que nunca abandona começa a não acreditar no clube. Muitos ameaçam se entregar ao desânimo. O contínuo fracasso dos administradores do clube afetará a força e o amor da torcida? Ou a torcida finalmente chegará a um nível ainda mais alto e revolucionará o clube?
É chegada, então, a hora de a torcida alviverde demonstrar a sua força. Atingimos alto nível de maturidade no que se refere ao apoio, na derrota ou na vitória. É esse apoio que vai nos tirar dessa situação humilhante, empurrando a equipe para a vitória e devolvendo um dos dois times do Rio de Janeiro à segunda divisão. Que orgulho!
Só que nossa força maior deverá ser demonstrada após o término da partida! Será essa a hora de mostrar que estamos maduros também para perceber as necessidades maiores do clube e cobrar fervorosamente uma mudança estatutária. Mais do que de uma vaga na Copa Libertadores – que, como vimos em 2004, poderia servir apenas para maquilar nossos problemas -, precisamos de uma reformulação total do clube.
Cem anos após a sua fundação, quis Deus que o Coritiba precisasse de sua torcida para não ser rebaixado. Será que se tivéssemos feito uma campanha melhor, não nos acomodaríamos mais uma vez, deixando de pressionar por mudanças? Será que, em vez de nos abatermos, não devemos utilizar a mobilização que um momento de crise traz para unir esforços em prol do clube? Tenho certeza que sim. Por isso mesmo é que cabe a nós torcedores exigir que o clube nos dê o presente que voluntariamente não nos deu!
Há quantos anos o Fluminense não ganha do Coritiba? Há quantos anos o Fluminense não vence no Couto Pereira? Deixaremos o pessimismo causado pelos insucessos nos enfraquecer? Ou viraremos o jogo e ganharemos essa guerra? Vamos empurrar o maior do Paraná para a vitória. Vamos cantar o jogo inteiro e esmagar o pessimismo e a descrença. Vamos fazer o Cuca chorar novamente.
Depois da vitória – que há de vir -, não esqueçamos de que o principal presente do centenário ainda pode acontecer: a reforma estatutária. Não encaremos a situação atual como ruim. Se soubermos usá-la, é por meio dela que nos uniremos para colocar o Coritiba novamente no caminho da grandeza.
Pedro Henrique
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