Falando de Bola
1000 jogos não são para qualquer um. Pensando bem, somente os fora de série conseguem atingir esta extraordinária marca.
Um jogador comum dificilmente atinge uma carreira longínqua e de sucesso. Até os que são mais conhecidos, que possuem passagens por times grandes, não atingem estes números.
Os fatos estão aí para provar. Atualmente apenas os brasileiros Rogério Ceni e Zé Roberto, que jogam no São Paulo e Grêmio, respectivamente, além do veterano galês Ryan Giggs que atua pelo Manchester United atingiram os quatro números de jogos em suas carreiras, que ainda insistem em continuar, para a alegria dos amantes do bom futebol.
E contra fatos não há argumentos. Ao atingir os 1000 jogos ao lado de jogadores extraordinários, Alex já faz parte do seleto grupo dos grandes jogadores do futebol mundial.
Quis o destino que o “menino de ouro” do Alto da Glória atingisse esta história marca com a camisa do seu clube do coração. A mesma camisa verde e branca pela qual iniciou e encerrará a sua vitoriosa carreira.
E tudo começou no Emilio Gomes, em Irati. Colocado por Carpegiani, participou dos dois primeiros gols do time e iniciava ali sua trajetória de sucesso.
O primeiro grande jogo, com certeza, a vitória sobre o Atlético por 3x0, em 1995, e que devolveu o Coritiba a primeira divisão do futebol brasileiro. Ali, o diferenciado jogador já se apresentava, mesmo sendo ainda um menino. Um tiro certeiro de fora da área, no canto do goleiro atleticano e um comentário após o jogo que já mostrava que ali estava nascendo não só um grande jogador, como também uma pessoa de rara inteligência no mundo do futebol.
Tive a felicidade, peguei bem na bola. O Ricardo Pinto estava encoberto e consegui fazer o primeiro gol!
Logo o “menino de ouro” ganhou asas e foi desfilar o seu grande futebol pelo Palmeiras, Cruzeiro, Flamengo, Parma, Fenerbahçe (onde é considerado um deus pelos turcos) e Seleção Brasileira. Títulos vieram, grandes atuações, gols e assistências em abundância, e o garoto de Colombo, por onde passava sempre fazia questão de ressaltar o seu amor pelo Coritiba e reafirmava que um dia voltaria para casa.
Quiseram os deuses do futebol ou seriam os “deuses caídos” que Alex não disputasse uma Copa do Mundo. Mas isso não foi um “privilégio” apenas dele. Jogadores como Ademir da Guia e Dirceu Lopes tão craques quanto, também foram preteridos.
Mas na época de Ademir e Dirceu o grande número de bons jogadores na posição poderia ser usado como justificativa para a ausência deles, mas com Alex o destino foi cruel, pois Felipão e Parreira fizeram opções por jogadores muito menos dotados tecnicamente e intelectualmente do que o “menino de ouro”.
Tristeza para Alex, mas azar mesmo para a Copa do Mundo, que não teve o privilégio de ver este grande jogador desfilando todo o seu talento em seus jogos.
Tive a honra de conhecê-lo pessoalmente. O privilégio de poder chamá-lo de amigo, ver nele uma pessoa fantástica que se importa com seu clube do coração, com seus companheiros de profissão e que prova a cada dia que pessoas inteligentes fazem total diferença em todos os ramos de atuação, inclusive no futebol, onde apenas a técnica e habilidade não bastam.
Tive a honra ainda de ser um dos primeiros, a saber, através de um telefonema dele, que o seu retorno ao Coritiba estava sacramentado. Uma grande alegria para toda a torcida Coxa-Branca e a certeza de que o “menino de ouro” cumpriria a palavra de retornar um dia ao seu clube do coração.
E com Alex de volta, retornou também a mim o sentimento de torcedor, aquele que tinha perdido um dia. E a certeza disso, veio após o chutaço de fora da área no final da partida contra o Fluminense, um golaço que garantiu a vitória do Coritiba e que acabou sendo histórico, pois foi o gol de número 400 do craque Alviverde.
As lágrimas que desceram dos meus olhos, e com certeza de vários outros torcedores que estavam no estádio, provavam a importância de Alex para o Coritiba e o orgulho que nós tínhamos em vê-lo vestindo novamente a camisa do Coritiba.
Amanhã será um dia especial para Alex, para o Coritiba e para seus torcedores que terão a oportunidade de ovacionar o grande ídolo no seu milésimo jogo disputado. E ter a alegria ainda, de saber que Alex ainda tem muitos jogos a fazer pelo time Coxa-Branca e muitas alegrias a dar para o torcedor Alviverde.
Termino este texto com uma das maiores, senão a maior emoção, que tive como torcedor, quando levei a minha filha mais nova ao Couto Pereira pela primeira vez para ver um jogo do Coritiba.
Papai você estava certo, esse Alex é bom mesmo! Exclamou ela no alto de sua sabedoria aos nove anos, após Alex marcar o gol de empate, de bicicleta, contra o Bahia.
Valeu Beiço, parabéns pela vitoriosa carreira!
Ricardo Honório
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