Falando de Bola
Não sei dizer até quando meu pobre coração agüentará firme a tantas emoções.
O dia de ontem demorou a passar. A manhã foi longa, parecia que tinha 19 horas. A tarde então nem se fala. Parecia que chegaria antes a quinta-feira do que o horário da partida.
A ansiedade ia tomando conta. A concentração no trabalho já não era mais a mesma. O pensamento estava longe, mais precisamente lá no Alto da Glória.
O final da tarde ia caindo e também uma chuva fina, que parece ter sido enviada propositadamente por São Pedro, com o intuito de atrapalhar os jogadores mais técnicos do São Paulo e conseqüentemente favorecer o Coritiba.
Enfim, era hora de ir embora do trabalho. Antes de ir para o Couto Pereira, uma parada obrigatória na casa de um amigo, ex-goleiro do Coritiba, que também ia para o jogo.
Uma , duas garrafas de vinho para esquentar e um fato era unânime no bate-papo: O Coritiba tinha todas as condições para sair classificado. A confiança era muito grande, fato raro, principalmente quando se enfrentava um grande do futebol brasileiro.
Mas eu pensava: Para sair classificado não bastará apenas à técnica, mas principalmente a garra, a raça, a disposição, a entrega, a luta e principalmente dois ingredientes indispensáveis para um time que quer ser campeão: Jogar com alma e coração.
A caminho da partida, um espetáculo emocionante fora do Alto da Glória: “Ruas de Fogo”, uma adaptação do Green Hell. Fiquei imaginando a emoção que deve ter tomado contas dos atletas com aquela recepção.
Fiquei imaginando ainda como seria bom ver novamente o Green Hell recepcionando os atletas em sua entrada em campo.
Ao entrar em campo, praticamente no início da partida, a primeira e, “Graças a Deus”, única decepção ao ver alguns espaços vazios nas arquibancadas.
Imaginei se a chuva ou o alto preço dos ingressos teriam sido os responsáveis pelos espaços não ocupados. Por um minuto pensei se a descrença por parte de alguns torcedores em ver o Coritiba se classificar em cima do Todo Poderoso São Paulo não tinha sido também um fator responsável por impedir que o Couto Pereira tivesse a sua lotação total.
Logo voltei a me concentrar e gritar alto para receber o Coritiba que entrava no gramado, ao brilho de algumas luzes que lembravam o Green Hell.
Ali, olhei para o céu, agradeci pela vida e pedi ao Senhor que iluminasse os jogadores coritibanos para que conseguissem trazer a tão sonhada classificação.
O jogo começou, e com ele o sofrimento, a ansiedade e a angústia vieram tudo junto.
O São Paulo começou melhor, assim como o Coritiba na primeira partida. Dominava as ações na meia-cancha e conseguia tocar a bola com facilidade, envolvendo os jogadores Alviverdes, que ansiosos e nervosos faziam a bola “queimar” em seus pés.
A torcida Alviverde, como sempre, incentivava e gritava alto nas arquibancadas. O time tentava, mas o São Paulo estava bem armado e impedia todas as escassas ações de ataques do Coritiba.
Até que aos 28 minutos, um escanteio curto e bola na área para o maior zagueiro artilheiro da história do clube subir mais alto que os defensores adversários e cabecear fime. A bola ainda resvalou no ombro de um são-paulino e foi morrer no fundo das redes do goleiro.
1x0, vantagem igualada e o Couto Pereira começava literalmente a “sair do chão”.
Com o gol, o time Alviverde se empolgou e foi para cima bombardeando a meta são-paulina. As tentativas paravam nas mãos do goleiro, mas o Coritiba se mostrava presente e consistente no ataque.
Ao final do primeiro tempo, uma única certeza: “Haja Coração, como diz Galvão Bueno.
O segundo tempo começou nervoso, assim como foi o transcorrer do primeiro tempo.
As unhas nem existiam mais de tanto que foram roídas. Na ausência de unhas, o lance era morder os lábios. Quando a boca já estava sofrendo os danos do nervosismo, a alternativa era morder o cachecol ou colocá-lo sobre os olhos, a cada ataque são-paulino.
Luis Fabiano, sempre ele, recebeu nas costas da zaga e na saída de Vanderlei tocou por cima perdendo uma ótima chance de gol. Chance esta, que nem vi, pois o cachecol propositadamente me impediu.
Nesta hora tive a certeza de que o Coritiba sairia classificado.
E na principal característica do time, as saídas rápidas em velocidade, Roberto foi levando pela direita e cruzou na área, nisto apareceu o “Sobrenatural de Almeida”, que pegou no colo e levantou o baixinho Everton Ribeiro, fazendo dele um gigante para testar com categoria deslocando o goleiro Denis e o zagueiro Rodolpho, para marcar o segundo gol do Coritiba..
Explosão nas arquibancadas, o Couto veio abaixo, lágrimas e sorrisos se misturavam nos rostos dos torcedores.
A torcida são-paulina assistia incrédula, vendo seu grande time sendo eliminado pelo “modesto Coritiba.
Neste momento pensei o quanto a crônica paulista deveria estar se engasgando com o favoritismo pregado a favor do time paulista.
Com a vantagem no placar, as arquibancadas em êxtase e os atletas jogando com alma e coração, o Coritiba ainda perdeu uma excelente oportunidade de matar de vez a partida ao desperdiçar um contra-ataque quando estava quatro jogadores alviverdes contra um são-paulino.
Ali, o nervosismo e a preocupação voltaram a ser a tônica do que eu estava sentindo no momento.
Com a desvantagem no placar, não restava alternativa ao São Paulo a não ser ir para cima.
O árbitro marcava todas as faltas possíveis e impossíveis para o time paulista. Em uma delas, Luis Fabiano mandou no ângulo e Vanderlei, como um gato, voou e mandou para escanteio, mostrando o porquê de ser um dos melhores goleiros do futebol brasileiro no momento.
O Coritiba praticamente só se defendia, os contra-ataques não existiam mais. O São Paulo em cima, a zaga cortando, o São Paulo voltava a atacar, a zaga cortava. O São Paulo fazia os “chuveirinhos” e os “homens mola” Emerson e Pereira mandavam para longe, eliminando qualquer tentativa são paulina.
Na última tentativa do São Paulo, o perigoso Luis Fabiano chutou rasteiro e Vanderlei, assim como todo o estádio, menos eu, pois o cachecol impediu, viram a bola passar a meio palmo do poste direito.
Ali, um suspiro, e soltar a respiração que estava presa desde que o atacante Tricolor armou o chute.
E logo em seguida, o árbitro que marcava tudo para o time paulista, finalmente marcou algo que a torcida Coxa-Branca esperava:
O final do jogo e com ele a classificação para as finais da Copa do Brasil, pelo segundo ano consecutivo.
Lágrimas, sorrisos, gritos, cantos, alegria, felicidade, emoção, enfim todos os sentimentos eram vistos dentro do Alto da Glória.
Ali, o cachecol, ah o cachecol que me impedia de ver os lances de perigo do São Paulo voltava definitivamente a sua principal função, a de proteger o pescoço na fria e chuvosa noite curitibana.
Já o coração está bem e me permitiu estar aqui, feliz da vida, e escrever para os leitores do Blog.
Agradeci ao Senhor pela vida e pela alegria concedida e fui para casa feliz da vida.
Ao Coritiba, o meu eterno agradecimento, por fazer parte da minha vida e por me proporcionar momentos inesquecíveis.
Raça Verdão, você é campeão
Saudações Alviverdes
Ricardo Honório
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