Falando de Bola
A direção do Coritiba sempre fala em relação ao Projeto do clube, sem divulgar detalhes, assim como jogadores recém contratados dizem terem sido seduzidos pelo Projeto do Coritiba. Você também já deixou claro que o Projeto foi importante para o seu retorno. O que seria exatamente este Projeto e você acredita que ele possa levar o clube a conquistar vôos mais altos ainda nesta temporada?
Alex: São bons profissionais trabalhando aqui em todas as áreas, com uma boa estrutura física oferecida pelo clube e que revela bons jogadores. O que mais me chamou a atenção no que me foi mostrado é a intenção que o Coritiba tem de que em menos de quatro anos o grupo de jogadores da equipe seja formado entre 70 a 80% de jogadores formados dentro do clube. Isso facilitaria em todos os sentidos. O atleta teria conhecimento do clube e do torcedor, e consequentemente comprometimento com ambos. O clube possui também um potencial de crescimento que eu acredito muito. Já que o futebol seguiu para um caminho de monopólio temos que nos ajudar, uma vez que existirá cada vez mais uma grande diferença para clubes do eixo em relação à ajuda extra, como cota de televisão e publicidade de fora. O nosso potencial é em Curitiba e em cima de bons resultados. E bons resultados sem sempre são a conquista de títulos. Prefiro me manter sempre entre os seis primeiros colocados do que ser campeão hoje e lutar para não cair amanhã. É em cima destes pontos que acredito que corre o Projeto.
A dispersão e o desligamento mostrado pelo time em alguns jogos podem estar relacionados com a flexibilização da concentração? Em sua opinião, o que essa novidade está trazendo melhorias efetivamente para o grupo de jogadores?
Alex: O desligamento entra naquela situação que falei de nossa equipe mentalmente. Muitas vezes não acreditamos que nosso adversário possa fazer aquilo, mas acabam fazendo. Isto dificulta muito o nosso jogo. Muitas vezes não nos responsabilizamos e acreditamos que faremos o resultado a qualquer momento. Com isso o tempo vai passando e quando vemos, não temos conseguido fazer o que imaginamos. Mentalmente, temos que melhorar muito!
A não ida para o hotel um dia antes dos jogos é benéfica em minha opinião. Muitos tem uma idéia enganosa do que é uma concentração. Hoje em dia com a tecnologia existente, muitos ficam presos aos seus celulares, internet e outras coisas. Existe pouquíssima interação em uma "concentração" de 24 horas. Portanto, ter o convívio da família ou de amigos fora da bola é muito melhor.Nos encontramos nas manhãs dos jogos e aí sim vamos aos vídeos, conversas sobre os adversários e principalmente conversas a respeito de como temos que nos comportar durante o jogo.
Alguns jovens recém subidos das categorias de base começam a aparecer mais na equipe de cima. O meia José Rafael é um deles. Você acha que os jovens atletas podem dar um retorno imediato ao clube em caso de necessidade, principalmente em uma competição muito difícil como o Campeonato Brasileiro? E quais jogadores que você poderia citar que já estariam prontos para dar este retorno?
Alex: Temos bons valores. Quem será quem dependerá do desenvolvimento de cada um. Bons jogadores e com qualidade temos vários. Mas agora vamos ao trabalho, ao entendimento, ao não deslumbramento, ao comportamento como homem e atleta. Essa transição não é simples, e muito menos fácil. Tomara que eles se ajudem e eu estou a disposição de todos para trocar idéias e no que precisarem. O Coritiba precisa muito deles e nós torcedores temos a obrigação de ajudar esses meninos nesta transição. Não falo os nomes que eu acredito até para não criar uma expectativa muito grande em cima destes nomes.
A sua inteligência ajuda muito na leitura tática do jogo. Qual é o formato de jogo que lhe deixa mais a vontade para desenvolver seu futebol?
Alex: Sou totalmente contrário a essa coisa de 4-4-2, 4-3-3, 4-2-3-1 ou qualquer outra nomenclatura. Acredito em agrupamento, treinos e repetição. Do meio pra frente já joguei em todas as funções, mas, por exemplo, com o Don Luís Aragonês, treinador espanhol, joguei de volante durante seis meses e achei ótimo. Tinha a bola de frente em todos os momentos e podia achar meus atacantes com mais espaços. Além disso, fiz alguns gols de fora da área. Mas prefiro jogar do meio pra frente, independente destes números todos.
Você está perto de atingir a marca de 400 gols marcados, número expressivo para um meia, principalmente no futebol atual. Qual o segredo para balançar as redes dos adversários com tanta freqüência?
Alex: Somente o Rivaldo tem mais gols que eu no futebol brasileiro atualmente. Quando comecei a jogar eu era muito armador. Quando fui para o Palmeiras, o Felipão me colocou mais perto do gol, mas fui exigido mesmo quando fui treinado pelo Luxemburgo que queria sempre que eu entrasse na área. Com o Zico isso aumentou, porque trocávamos muitas idéias a respeito de posicionamento. É uma marca importantíssima chegar e passar dos 400 gols. Vamos ver se chego esse ano ao gol 400 e a partida de numero 1000, sinal de que tive uma boa carreira.
Hoje o futebol moderno tem priorizado muito mais a questão física do que propriamente a questão técnica. O jogo tornou-se muito dinâmico, o raciocínio precisa ser muito mais rápido. O atleta não tem muito tempo para pensar na jogada que irá executar. Você acha que isso pode ser um dos motivos da carência de bons armadores?
Alex: A carência de armadores passa pelo pensamento defensivo que tomou conta do futebol mundial. Porque dá para condicionar o armador e encaixá-lo dentro de uma equipe, respeitando suas equivalências físicas e aproveitando o que ele tem de melhor.
Você já divulgou amplamente que dois de seus maiores ídolos no futebol são os jogadores Tostão e Zico, por coincidência dois camisas 10 que marcaram história, um no Coritiba e outro no Flamengo e Seleção Brasileira. Quais seriam outros nomes que influenciaram no seu estilo de jogo?
Alex: O Zico foi meu grande ídolo, mas nesta época gostava também do Zenon no Corinthians e Pita no São Paulo. As emissoras de televisão começaram a mostrar campeonatos europeus, e eu adorava ver o campeonato italiano para assistir o Maradona. Um pouco mais tarde adorava ver o Tostão, passei a querer ser como ele na meia do Coxa. Tostão jogou demais aqui, foi o melhor camisa 10 que eu vi de perto. Mas pela televisão via o Michael Laudrup, atuando no futebol espanhol. O que esse dinamarquês jogou foi um absurdo. Um pouco mais velho via tudo do Djalminha, era mágico vê-lo jogar, e ainda depois tive a chance de atuar com ele na seleção, que foi uma das grandes alegrias que tive em minha carreira.
Como está sendo sua adaptação ao futebol brasileiro após tantos anos atuando fora do país e qual as principais diferenças para o futebol praticado na Turquia?
Alex: Não está sendo facil! É tudo diferente, característica do futebol, treinamentos, gramados, viagens, arbitragens, cobertura da imprensa, atmosfera dos jogos. Mas eu já sabia que seria assim, então vamos em frente. A principal diferença para o futebol turco é atmosfera de jogo. Passei nove anos jogando no Fenerbahçe com público médio de 48 mil pessoas. Independente se estávamos em um bom momento ou em um momento ruim, o estádio estava sempre com uma atmosfera positiva. Então tenho que buscar sempre mentalmente estar bem, e coloquei isso na minha cabeça. Estou e vou continuar trabalhando muito para que individualmente esteja bem e possa contribuir da melhor maneira possível. O restante não posso mudar.
Pela sua experiência na Seleção Brasileira, como explicar o baixo número de convocações de jogadores que atuam no futebol paranaense, até mesmo para jogos menos importantes. Seria a falta de visibilidade dos clubes daqui ou a falta de interesse ou visão dos treinadores sobre o futebol paranaense. Ou seria a falta de investimento dos clubes locais em atletas que possam ter condições de vestir a camisa da seleção?
Alex: Falta de visibilidade, falta de interesse da comissão técnica e também a falta de manutenção da regularidade dos atletas e dos clubes. Veja o caso do Coritiba que chegou a duas finais seguidas da Copa do Brasil, e no Campeonato Brasileiro esteve entre os primeiros colocados em 2011 e brigou pra não cair em 2012. Essa disparidade na qualificação ano a ano também atrapalha.
A não convocação para a Copa do Mundo de 2002 talvez tenha sido a sua maior frustração como jogador. Apesar do Felipão não o ter convocado para aquela Copa e para o primeiro amistoso com jogadores que só atuam no Brasil, uma excelente temporada em 2013 pelo Coritiba poderá fazer a opinião pública pedir pela sua convocação, principalmente pela escassez de bons jogadores com a sua característica. Você ainda tem objetivos em se tratando de seleção brasileira?
Alex: Não foi a minha frustração maior no futebol. Fui preterido, mas sempre me considerei em condições de estar naquele grupo. Minha maior decepção foi à olimpíada de 2000. Ali eu tive a condição de jogar, fazer algo diferente, e fracassei junto aquele grupo. Nunca me frustro quando não está ao meu alcance, e a Copa de 2002 não dependia de mim. Em relação à seleção brasileira sou somente um torcedor que espera que o Brasil encontre seu melhor caminho. Não sou chamado há muito tempo e nem penso mais nisso.
Qual são seus planos para depois que encerrar a carreira como jogador?
Alex: Vou estudar e melhorar meu inglês, entrar no curso para tirar a licença de treinador, e provavelmente fazer algum curso para gestão de futebol. Mas realmente nunca pensei no que fazer quando pendurar as chuteiras.
Para finalizar uma pergunta que provavelmente toda a torcida do Coritba gostaria de fazer. Com o grupo atual de jogadores do Coritiba qual a sua expectativa para a temporada, principalmente para a Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro?
Alex: Primeiro queremos o tetracampeonato paranaense. Depois acredito que tenhamos condições de enfrentar todos de frente, mas primeiro precisamos achar um equilíbrio em todos os sentidos, recuperar os lesionados, melhorar individualmente quem ainda não conseguiu se achar, entender melhor os desejos do Marquinhos e encontrar uma sinergia campo-arquibancada. Parece muito, mas não é. Em minha opinião, precisamos nos ajudar. Acredito que temos condições de fazer uma boa campanha em 2013.
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