Falando de Bola
O domingo começou cedo, aliás, na verdade, começou na noite anterior.
Era Páscoa, dia de chocolate. Letícia, minha filha menor, estava super ansiosa em ganhar seus ovos. Foi dormir super tarde no sábado. Quanto menos dormir, mais rápido chegava a hora de procurar sua cesta de Páscoa.
Aquilo tudo me diverte, confesso. Recordo-me a minha infância, quando acordava ansioso para procurar a minha cesta. Quando a achava era uma felicidade só, passando o dia inteirinho a devorar tudo o que tinha dentro dela.
Hoje me divirto em ver a alegria das minhas filhas ao procurar as suas surpresas. Ana Julia, a mais velha, já não tem mais a ilusão do coelhinho, porém sua irmã de seis anos, até raspou cenoura para que o bichinho não passasse fome em sua casa.
Eu também fui dormir tarde. Procurei ler tudo o que se referia ao grande jogo. Nos veículos nacionais poucas matérias e as que falavam do atletiba eram muito simplórias, mostrando o pouco caso da imprensa nacional para este jogo.
Tenho quase certeza que poucos deles sabiam que o Coritiba poderia igualar o recorde de vitórias do Palmeiras de 1996.
Li o pré-jogo aqui no COXAnautas. Matéria muito bem escrita, por sinal. Ah que bom seria se toda a imprensa desse o mesmo destaque.
O sono não vinha, a ansiedade era imensa. Ainda deu tempo para assistir ao filme "Prova de Morte", de Quentin Tarantino antes de dormir.
O domingo chegou, com ele às cestas de Páscoa, a felicidade de minhas filhas, e conseqüentemente a minha também, aflorada pelo dia do grande jogo.
O tempo parecia que não passava, tentava fazer de tudo, inclusive colocar no papel as idéias para esta crônica, pensando no que escreveria, caso o Coritiba saísse derrotado.
Hora de ir para o estádio. Chegada tranqüila, entrada também, apesar da demora em abrir os portões e do ridículo acesso, que só permitia a entrada de um torcedor por vez.
Já dentro da Arena, a torcida Coxa lotava o seu espaço, ficando praticamente empilhada, no pequeno e desconfortável espaço que lhe foi reservado. Do outro lado, muito espaço sobrando, provando que a torcida atleticana não acreditava que o seu time pudesse vencer a equipe Coxa-Branca.
O jogo começa, a torcida Coxa entoa o seu tradicional canto de guerra, tentando empurrar o time em busca da vitória.
O Atlético motivado começa dando as cartas, enquanto o Coritiba passeia em campo. O time rubro-negro tem mais posse de bola, e é justamente quando estava com a bola que o fraco zagueiro Manoel comete um ato burro e irresponsável dando uma cotovelada no atacante Bill, sendo imediatamente expulso por Evandro Rogério Roman.
Ali veio à certeza de que o Coritiba sairia campeão.
Mesmo com um homem a menos, o Atlético continuava mandando no jogo, principalmente pelas boas atuações de Branquinho e Paulo Baier, que comandavam a meia-cancha.
Do lado Coxa, Léo Gago e Davi estavam irreconhecíveis, e Marcos Aurélio parecia estar com problemas físicos. Com isso o Coritiba perdia a meia e não conseguia chegar ao ataque.
Após alguns lances de pouco perigo para os goleiros, o Coritiba começou a tocar a bola com qualidade, dando a sensação que o gol seria questão de tempo.
E ele veio justamente na jogada mais temida do adversário, a bola parada. No segundo escanteio cobrado por Rafinha, Pereira cabeceou para a excelente defesa do goleiro, mas no rebote, o esperto Bill tocou de cabeça para abrir o placar.
Explosão da torcida Alviverde e silêncio na torcida adversária, que temia pelo pior.
Com a vantagem no marcador, o Coritiba tocava a bola com qualidade. Marcos Aurélio saiu machucado, com Tcheco entrando em seu lugar. A impressão é de que com esta substituição o Coritiba enfim ganharia à meia-cancha, mas Tcheco, sem ritmo, entrou mal, e o vazio no meio continuou.
O Atlético chegava sem perigo, e o Coritiba desperdiçou uma boa chance com Davi, que chutou de dentro da área, para excelente defesa do goleiro Renan Rocha.
Em seguida, o Coritiba ampliou o marcador. Pereira, ao tirar a bola da defesa, lançou para Bill, que marcado por dois adversários, chutou de longe (quantos torcedores não pensaram neste momento: Para que chutar daí Bill, tinha que segurar a bola. Está muito longe.) e surpreendeu o goleiro, fazendo um golaço com a bola batendo na trave e entrando no canto direito.
Mais uma explosão da torcida Coxa e a certeza cada vez maior da conquista do título.
Na segunda etapa, o Atlético veio modificado, e com isso a prova de como um técnico que tem “birra”com determinado jogador pode atrapalhar seu time.
Adilson tirou Branquinho, que era o jogador que mais incomodava a defensiva Alviverde, e também Guerrón, abdicando das jogadas pelos lados para colocar os lentos Jenison e Lucas, acabando com a jogada de velocidade do time.
Ao colocar estes atletas preteriu Madson, que seria a alternativa mais interessante, tanto que quando o jogador entrou após os 30 minutos, incomodou a defesa do Coritiba, sendo o melhor jogador do time ao lado do bom Adailton.
Mas antes da entrada de Madson, o panorama da partida não se alternou. O Atlético tinha o falso domínio de jogo, aquele em que se tem mais posse de bola, mas que não assusta o adversário.
Algumas poucas chances criadas, porém apenas uma defesa de Edson Bastos em um chute colocado de Lucas.
Já o Coritiba perdeu um gol inacreditável com Bill, que em frente ao gol vazio não conseguiu dominar a bola, a deixando ir para fora.
Marcelo Oliveira ainda colocou William, que entrou muito bem, no lugar do amarelado Leandro Donizete, e Leonardo no lugar do apagado Léo Gago.
Com a entrada de Leonardo, o treinador Alviverde pretendia segurar a bola na frente e tentar liquidar de uma vez com a partida.
O Coritiba tocava a bola, ao som do olé, por mais de dois minutos, e no vigésimo segundo toque a bola foi recuada para Edson Bastos, que lançou Leonardo que deu o vigésimo quarto toque na bola para marcar o terceiro gol, com um lindo lençol por cima do goleiro.
Festa total na torcida Alviverde, que já entoava o grito de bicampeão nas arquibancadas da Arena da Baixada.
Com a conquista o trigésimo quinto título estadual, o Coritiba se distancia ainda mais do seu principal rival, mantendo soberano a hegemonia no estado.
Os destaques principais desta partida foram o zagueiro Emerson e o atacante Bill.
Emerson fez mais uma partida irrepreensível. Ganhou todas as disputas na bola e ainda fez a parede para Pereira cabecear a bola do primeiro gol.
Mostrou um futebol de seleção brasileira, muito melhor do que o tão aclamado Manoel, mas que não joga a metade do futebol de Emerson, hoje o melhor zagueiro do futebol paranaense.
O outro destaque foi o atacante Bill. Mostrando a costumeira dedicação dentro de campo, o xodó da torcida foi o protagonista do jogo.
Conseguiu a expulsão de Manoel e ainda marcou dois gols. O primeiro de oportunismo, e o segundo, ah o segundo foi de um jogador iluminado.
Pelo que vem jogando, Bill merece todas as reverências da torcida Alviverde.
Parte agora o Coritiba para Caxias do Sul. Com a classificação praticamente encaminhada, pois dificilmente o Caxias reverterá uma desvantagem de quatro gols, o Coritiba terá como principal motivação bater o recorde de vitórias consecutivas.
Caso vença em Caxias, o Coritiba alcançará o número de vinte e duas vitórias seguidas, batendo o recorde do Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo.
Esse Coritiba, de Marcelo Oliveira, não foi apenas campeão paranaense. Esse Coritiba está fazendo história no futebol brasileiro, e pode chegar ainda mais longe, bastando que todos acreditem.
Saudações Alviverdes
Ricardo Honório
twitter.com/rhonorio
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)