Falando de Bola
Acertadamente o técnico Muricy Ramalho disparou contra o juiz da partida que deu um cartão amarelo ao craque Neymar pela demora na comemoração do segundo gol santista.
O cartão e conseqüentemente a crítica feita por Muricy abre um leque de situações que tem tornado mais chato, monótono e sem graça o futebol brasileiro.
Vamos falar especificamente do futebol paranaense.
Tudo começou com Mario Celso Petraglia em um Atletiba, proibindo a torcida Coxa de levar seus adereços, faixas, bandeiras e instrumentos de bateria. Além disso, colocou a torcida do Coritiba em um espaço diminuto na Baixada.
Em contrapartida, João Jacob Mehl, então presidente do Coritiba, deu o troco na mesma moeda, colocando a torcida do Atlético apenas no primeiro anel do lado da Mauá, fazendo com que a torcida do Coritiba que ocupava o anel acima, jogasse para cima dos atleticanos líquidos de todos os tipos.
Ali o futebol paranaense começava a perder a graça.
Acostumado a ver os Atletibas multicoloridos na década de 80 e começo dos anos 90, as arquibancadas dos estádios sem as bandeiras e faixas do adversário traziam um cinza sem graça ao espetáculo.
Soma-se a isso a absurda regra dos 10% do espaço para o visitante, que faz o clube mandante perder dinheiro e deixa vários espaços vazios nas arquibancadas, além é claro de prejudicar o visitante, que não pode ter mais torcedores lhe apoiando.
Usando de grande criatividade, a torcida do Coritiba criou o Green Hell o espetáculo mais bonito visto nos gramados brasileiros, quem sabe do mundo.
Mas alguém sentado atrás de sua mesa, que talvez tenha ido muito pouco a um estádio de futebol, proibiu o uso de fogos de artifício e sinalizadores, tirando dos estádios este belíssimo espetáculo.
Em vez de se procurar uma alternativa para manter o lindo espetáculo, optou-se pela proibição total, medida mais comum quando se opta pela decisão mais cômoda e desprovida de inteligência.
E para fechar com chave de ouro as trapalhadas dos dirigentes paranaenses, a proibição da entrega do troféu de campeão paranaense de 2008 ao Coritiba dentro da Baixada, pelo então mandatário atleticano, prova quanto pequeno pensam algumas pessoas, deixando de lado o espetáculo em prol de suas vaidades pessoais.
Se fora de campo o futebol tem ficado cada vez mais monocromático, o que dizer então dele jogado dentro de campo.
A falta de técnica e habilidade da maioria dos jogadores, os esquemas defensivos, a desesperada luta por resultados, que ocasiona a armação do seu time de acordo com o adversário, os erros crassos de arbitragem já seriam alguns ingredientes que tem diminuído a graça do futebol brasileiro.
Hoje se valoriza muito mais um jogador brucutu, aquele que “dá porrada e levanta o adversário”, do que propriamente o craque.
O craque é perseguido pela torcida adversária, é vaiado cada vez que pega na bola, cada falta que recebe é motivo de reclamação, cada desarme que sofre é comemorado como se fosse um gol, cada falta que comete faz a torcida adversária pedir a sua expulsão.
O craque pode apanhar o jogo inteiro, mas não pode reclamar, não pode cometer uma falta.
O “brucutu” pode bater o jogo inteiro, mas o craque não pode comemorar seu gol de maneira mais entusiasta.
O “brucutu” bate uma, duas, três seguidas e não é punido. O craque dá um drible diferente e desconcertante e é punido com cartão por desrespeitar o adversário.
Seria pura demagogia dizer que a torcida teria a obrigação de aplaudir ou não vaiar o craque do time adversário, porém os juízes dentro de campo teriam que dar vazão ao espetáculo e não punir quando se é comemorado o momento mais sublime de uma partida de futebol, principalmente quando o “craque em questão” não cometeu nenhum desrespeito a torcida adversária.
O craque é responsável por trazer público ao estádio, por trazer sorriso ao rosto do torcedor e principalmente dos pequenos torcedores.
Não podemos deixar que o futebol moderno apague o brilho dos nossos craques e deixe os outros países em igualdade de condições com o Brasil, justamente por não sabermos cuidar dos nossos craques.
Se o futebol brasileiro tem se tornado cada vez mais chato e mecânico, imagine então o que seria do futebol sem o craque?
Saudações Alviverdes
Ricardo Honório
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