Falando de Bola
Como é bonito ver o Couto Pereira lotado. Mais bonito ainda é ver a torcida Alviverde empurrando do início ao fim, dando aquele gás necessário para que o jogador se doe em campo, dê o algo a mais que tanto faltou para o Coritiba em várias oportunidades.
Não há adversário que resista, por mais forte que seja, ao Couto Pereira quando a torcida resolve jogar junto com o time, e quando o time resolve jogar por ela.
Ontem, algo raro se viu no Alto da Glória, quando o Palmeiras pegava na bola, vaias ensurdecedoras vinhas das arquibancadas, deixando o time palmeirense tão nervoso que parecia que os jogadores queriam logo se livrar da bola para que seus ouvidos ficassem em paz.
E quando o time retomava a bola, a torcida jogava junto, empurrando o time em busca da vitória, fazendo do Alto da Glória um verdadeiro inferno verde para o esmeraldino Palmeiras.
E quando a combinação raça, categoria e embalo da torcida se juntam, as coisas ficam muito mais complicadas para o outro lado. O tão outrora vitorioso Palmeiras saiu do Couto Pereira feito um porco acuado a espera do abate. Aliás, o porco palestrino foi abatido sem dó e nem piedade em uma tarde que já começa a deixar saudades ao vermos os últimos toques refinados do craque Alex.
O jogo foi morno no primeiro tempo. O Coritiba, sem movimentação na meia-cancha, não conseguia encontrar espaços contra um Palmeiras que entrou com quatro volantes.
Os laterais Norberto e Carlinhos não encontravam espaços para jogar, e Alex muito bem marcado, não conseguia dar seqüência as jogadas. Joel em um primeiro tempo discreto, e Zé Love, mais raça do que técnica, também não conseguiam penetrar na defesa palestrina.
Parte da torcida perdia a paciência, pois o empate seria desastroso e traria a obrigação do Coritiba vencer o Atlético Mineiro no Independência.
O segundo tempo veio e o dedo do treinador apareceu, alterando o time taticamente sem a mudança de jogadores.
Zé Love da esquerda passou a jogar na direita, nas costas de Juninho, mais um dos laterais que não marca ninguém. Carlinhos, passou a atuar como um ponta esquerda e Wellington praticamente como um lateral esquerdo fixo.
E a mudança não tardou a trazer resultados. Com os dois laterais espetados no ataque, o primeiro gol saiu de uma jogada que começou na esquerda, cruzou a área e foi parar na direita para o cruzamento de Norberto, que sobrou para Zé Love encher o pé e estufar as redes, fazendo o Couto Pereira explodir em alegria.
Com o gol, as arquibancadas vieram juntas com o time, e o Palmeiras, acuado, não conseguia trocar passes. O Coritiba encurralava o adversário e ia para cima, continuando a atacar mesmo com o placar a seu favor.
E o segundo gol foi uma obra prima que deixará muitos torcedores saudosistas do verdadeiro futebol arte nos pés do último exemplar de craque a moda antiga presente no futebol brasileiro.
Luccas Claro, com a elegância de um zagueiro de técnica refinado, achou Robinho na meia. O armador do time carregou a bola em poucos passos, ergueu a cabeça e deu um lindo passe para Alex, que se deslocava com a vitalidade de um jovem de 20 anos. O craque Alviverde, em um dos seus últimos atos dentro de campo, ficou frente a frente com o goleiro adversário, e como a humildade que lhe é peculiar, deu um toque para o lado encontrando o camaronês Joel, que apenas empurrou a bola para o gol vazio, decretando a vitória Alviverde e trazendo lembranças do verdadeiro futebol arte, tão raro hoje em dia.
O Coritiba ainda perdeu outras oportunidades de afundar ainda mais o já entregue time palmeirense, mas a lembrança que a torcida terá é do dia perfeito, onde a combinação raça, categoria e embalo da torcida fez a diferença.
Saudações Alviverdes
Ricardo Honório
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