Falando de Bola
Minha primeira coluna no COXAnautas foi publicada em 2005. Após alguns textos enviados para o site, falando sobre os adversários que o Coritiba enfrentava, fui convidado pelo amigo Luiz Betenheuser a ter espaço fixo no site.
No começo, os textos falavam mais sobre os adversários que o time iria enfrentar, mas comecei a tomar gosto pela coisa e escrever mais e mais sobre o próprio Coritiba.
Costumava escrever ainda no “calor do jogo”, ao final da partida. O jogo mal se encerrava e lá ia eu direto para o computador para colocar aos leitores a minha impressão da partida.
A vitória trazia a impressão de que tudo estava “as mil maravilhas”. Já a derrota sempre trazia a impressão de que muita coisa precisava ser mudada.
E como o Coritiba enfrentou, em 2006, uma temporada muito difícil dentro de campo, com episódios polêmicos, como a briga no aeroporto e a continuidade na segunda divisão, fiquei marcado por ser um colunista polêmico, daqueles que não se importavam em falar o que pensava.
E isso era sempre motivado pelo fato de escrever no “calor das emoções”.
Fui marcado negativamente por um episódio com o volante Túlio, quando discuti asperamente com o jogador durante uma partida contra o Santo André, o qual fui citado pelo técnico Renè Simões, de maneira negativa.
Aquele episódio me fez repensar em muita coisa, mas ainda o “lado ácido” imperava em meus textos.
Mas aos poucos fui apreendendo a escrever após a “poeira baixar” e com isso chegava a uma conclusão óbvia:
Nem sempre tudo está certo na vitória, assim como nem tudo está errado após uma derrota.
E assim fui “reaprendendo a escrever”. Deixando de lado um pouco a visão de torcedor que escrevia com emoção para a de um escritor que publicava textos de maneira mais racional.
O fato de ter amizade, fora de campo, desde 2009, com Felipe Ximenes, superintendente de futebol do clube, me fez enxergar o outro lado do futebol, que não fossem apenas os noventa minutos de uma partida.
Pude acompanhar todo o trabalho realizado durante uma semana, as atribuições e capacidade de cada profissional do clube, a evolução do departamento de futebol, as dificuldades encontradas, não somente na logística diária, como principalmente “na lida” com o atleta, desde a sua contratação, até seus problemas, afinal o jogador também é um ser humano como outra pessoal qualquer.
E este quadro me fez mudar radicalmente a minha visão não só sobre o Coritiba como o futebol em geral.
A mudança de postura, observada facilmente em meus textos, foi alvo de críticas de vários leitores, que enxergavam agora um Honório “chapa branca”. Para alguns as colunas eram totalmente pró-diretoria, mas para outros elas passaram a ser mais ponderadas, deixando de lado o fator "chapa branca".
Para mim, a única diferença é que, após o início da convivência com Felipe Ximenes, eu passei a conhecer o que é exatamente o futebol. Percebi que eu entendia muito menos do que eu pensava.
E ali, cheguei à conclusão de que o futebol é muito mais do que apenas os noventa minutos de uma partida.
Mas o amigo leitor deve estar se perguntando o porquê desta "ladainha" toda.
Na verdade, o início deste post foi colocado para tratarmos da ridícula derrota para o time Sub-23 do Atlético Paranaense.
Não vi o jogo, apenas escutei no rádio como há muito tempo não acontecia.
Não me senti seguro para ir ao Boqueirão. Aos 37 anos, e pai de família, não posso mais me dar ao luxo de ir a um estádio ou algum outro local que ofereça algum tipo de segurança a minha integridade física.
O Coritiba não é a prioridade na minha vida. Minhas filhas são. E muitos deveriam pensar da mesma maneira. Talvez tivéssemos episódios menos negativos, se levássemos o futebol apenas como uma diversão.
Ah o jogo. Bem o que escutei foi um Coritiba, mais uma vez, apático dentro de campo. Tendo sido superado na motivação, na garra e na vontade por um time infinitamente inferior tecnicamente.
E isso nunca poderia ter acontecido. Os jogadores Alviverdes deveriam no mínimo ter a mesma motivação que os “meninos” atleticanos tiveram dentro de campo. Se isso acontecesse, a técnica prevaleceria e o Coritiba fatalmente sairia do Boqueirão com uma vitória.
Mas não foi isso que aconteceu. E no final o mesmo discurso de sempre. Que o time entrou desligado, que o time atleticano estava mais motivado, etc.
É inadmissível que um clube de futebol entre desligado em uma partida, principalmente quando ela é jogada contra o seu maior rival.
Ontem cheguei à conclusão de que algo realmente precisa ser feito, para que não aconteça algo pior ao final da temporada.
Não sou daqueles que acham que tudo está errado. Que o presidente é frouxo, que o superintendente de futebol, amizades a parte, é incompetente, que o treinador precisa ser mandado embora e que o grupo de jogadores é fraco.
Pelo contrário, penso que o trabalho vem sendo bem conduzido, que a troca de treinador não é a melhor opção no momento e que o grupo de jogadores tem condições de fazer bonito pelo Coritiba.
Mas não admito em hipótese alguma que os atletas entrem desmotivados dentro de campo. E é neste ponto que alguma coisa precisa ser feita.
Mesmo sendo contra a troca do técnico neste momento, se ele não está conseguindo motivar os seus atletas ou não está se fazendo entender que alguma providência seja tomada ao final da competição estadual.
Além disso, alguns reforços serão necessários para deixar o time mais forte para o campeonato brasileiro. Mas que sejam contratados jogadores que tenham um perfil vencedor, que cheguem e entrem motivados quando colocarem a camisa do Coritiba Foot Ball Club.
Fora de campo, tenho a mais absoluta certeza de que os atletas têm todas as condições para desenvolver e aprimorar o seu trabalho. Mas porque isso não tem acontecido durante os noventa minutos?
Às vezes bate uma saudade de quando eu era apenas um torcedor que colocava no papel todas as suas emoções. Com certeza este texto, pós Atletiba, seria recheado de impropérios contra os jogadores do Coritiba.
Saudações Alviverdes
Ricardo Honório
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