Falando de Bola
Jogo complicado, nervos a flor a pele, futebol pobre tecnicamente, atuações apagadas, porém muita disposição e vontade de sair da situação difícil.
Essa foi a tônica da vitória do Coritiba contra a Ponte Preta na noite de ontem.
Ao abrir a série de quatro jogos contra adversários diretos na luta para fugir da zona de rebaixamento o Coritiba sabia que um possível tropeço em casa complicaria muito a situação da equipe na tabela de classificação.
No futebol moderno, de poucos espaços e muita disposição física, torna-se cada vez mais evidente que é muito mais complicado vencer os “médios” do que propriamente os “grandes”, que entram em campo extremamente retrancados, a espera de um erro do adversário para poder surpreender, ao contrário das equipes de mais tradição que jogam e deixam jogar, abrindo mais espaços.
E foi justamente para complicar a vida do Coritiba que a Ponte Preta entrou em campo ontem com seu meio-campo e laterais fechados, tentando sobreviver da velocidade de Rildo e de lampejos do atacante Roger.
E o estilo de jogo da Ponte tornou o jogo um “espetáculo” completamente monótono, principalmente pelo fato do Coritiba não ter nenhuma inspiração na meia-cancha já que Lincoln, que deveria ser o principal armador da equipe, fazia, mais uma, partida completamente apagada.
Com Thiago Primão, aberto pela direita, e Rafinha, pela esquerda, também apagados, o Coritiba sobrevivia da voluntariedade do lateral Victor Ferraz e do volante Gil, além da qualidade de Deivid que saia da área para armar o jogo, uma vez que a bola não chegava até ele.
E os meio-campistas alviverdes não aproveitavam os espaços deixados por Deivid, que ao sair da área atraía a marcação dos zagueiros adversários, abrindo espaços, não aproveitados, no miolo de zaga da Ponte.
E foi justamente na vontade de três jogadores que o Coritiba marcou o único gol da partida.
Gil e Victor Ferraz triangularam pela direita, e em um cruzamento despretensioso de Gil, Deivid apareceu como um raio, se antecipando ao zagueiro, e cabeceando firme, sem que o goleiro adversário pudesse esboçar alguma reação.
O gol marcado ao final da primeira etapa tranqüilizou a todos no Alto da Glória.
A segunda etapa foi um repeteco da primeira. Um jogo fraco tecnicamente, com a Ponte tentando no abafa e o Coritiba, em casa, tentando jogar nos contra-ataques, com Ruidiaz pela direita e Rafinha pela esquerda.
A magra vitória, sem brilho, porém gigante, afastou o Coritiba cinco pontos da zona do rebaixamento e abriu com sucesso a série de quatro jogos importantíssimos.
É importante deixar claro que está trasparecendo que o nervosismo dos atletas e a vontade em acertar logo para sair desta incômoda situação está influenciando diretamente no rendimento do time, que mostra-se inseguro antes de ter a vantagem no placar. Isto só será revertido com resultados positivos, principalmente nos próximos três jogos.
Muito se atribui a má campanha do Coritiba a erros defensivos, fatos que tem levado a equipe Alviverde a tomar vários gols, tanto no início, como principalmente no final das partidas.
Mas a situação pode-se também ser analisada de outra forma e que ficou bem clara na vitória de ontem.
Acredito que o grande motivo que tem levado o Coritiba a tomar sufoco dos adversários nos finais das partidas é a ausência de um jogador, na meia-cancha, com característica de liderança e de cadenciar a bola, que tome para si a responsabilidade de segurar o jogo e acalmar os ânimos de seus companheiros.
Infelizmente o camisa 10 Lincoln, contratado a peso de ouro para ser este jogador, não tem conseguido, dentro de campo, ser o maestro da equipe Coxa-Branca.
Não estou dizendo com isso que ele seja o principal responsável pelos gols tomados, mas sim que a ausência de um atleta com esta característica tem levado o Coritiba a se complicar quando pressionado.
Com Deivid saindo da área, com qualidade, Lincoln pode crescer muito de produção, se começar a se posicionar no miolo da área adversária, aproveitando os costados dos zagueiros que saem para dar combate no atacante Alviverde.
O gol marcado por Everton Ribeiro contra o Flamengo, após assistência de Deivid, mostra que esta jogada pode ser muito bem aproveitada se os jogadores do meio-campo ficarem atentos aos deslocamentos do atacante Coxa-Branca.
Além de Lincoln que não está liderando o time dentro de campo como era esperado, jogadores como Rafinha, Robinho e Everton Ribeiro, além de Gil e William não estou conseguido controlar o jogo na meia cancha.
Sobre Rafinha, aliás, o craque do time alviverde se mostrou muito estático pelo lado esquerdo do gramado na partida de ontem. Com sua qualidade e movimentação, pode ser muito mais útil, como foi em vários jogos, se continuar se deslocando entre as três faixas do gramado.
O próximo jogo do Coritiba será de fundamental importância.
Enfrentar o Palmeiras, em São Paulo, lutando desesperadamente para sair da posição em que se encontra, obrigará o Coritiba a tomar todos os cuidados possíveis, tanto dentro como fora de campo.
A ausência de Demerson e Escudero, atualmente titulares da equipe, além de Pereira, Emerson e Bonfim machucados, provavelmente levará Marquinhos Santos a escalar Luccas Claro pelo lado direito e improvisar o volante Chico pelo lado esquerdo, já que Cleiton, o outro zagueiro disponível, está voltando de contusão e encontra-se sem ritmo de jogo.
Em razão disso será importantíssimo que os jogadores da meia-cancha tomem consciência de suas responsabilidades nesta partida e tentam controlar o jogo nesta faixa do gramado, para que a bola não “estoure” o tempo inteiro na zaga Alviverde.
Se isso acontecer, o Coritiba tem totais condições de trazer um grande resultado de São Paulo, afastando-se cada vez mais da zona de rebaixamento.
Saudações Alviverdes
Ricardo Honório
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