Falando de Bola
O sucesso do Coritiba neste início de temporada deve-se a uma série de fatores, como um bom elenco, uma comissão técnica competente, departamento de futebol eficiente, diretoria e funcionários do clube dando um bom suporte, um clima de amizade no grupo de jogadores, como também ao sistema tático implantado por Ney Franco e continuado por Marcelo Oliveira.
O esquema 4-2-3-1 é uma variante aproximada do antigo sistema 4-3-3.
Este esquema vem sendo utilizado há tempos no futebol europeu, praticamente sendo iniciado pela seleção holandesa, de Sneidjer e Robben, e pela seleção espanhola, de Iniesta, Villa e Xavi. Este esquema hoje é utilizado pelo Barcelona, melhor time do mundo, treinado por Guardiola, ex-volante da equipe.
Antigamente a meia-cancha era formada por 1 volante, 1 meia-direita e 1 meia-esquerda. O ataque era formado por dois pontas abertos em cada lado, e um centroavante, hoje denominado meias-atacantes e homem de referência, respectivamente.
Os laterais praticamente não subiam, formando a linha defensiva com quatro jogadores. O volante praticamente era sozinho o responsável pela marcação do meio, recebendo às vezes a ajuda do meia direita do time, já que o meia-esquerda era considerado o craque, vide Zico, no Flamengo, e Pita no Santos, e atuava com liberdade para municiar os atacantes.
O Coritiba de Marcelo Oliveira atua praticamente assim, com a diferença que o time joga com dois volantes, Léo Gago e Leandro Donizete. Como sabem jogar com a bola nos pés, tem total liberdade para chegar a frente.
O time ainda conta com quatro jogadores ofensivos: Rafinha, pelo lado direito; Davi, pelo lado esquerdo, Marcos Aurélio centralizado; Bill como homem de referência. O grande diferencial deste esquema é a constante movimentação dos dois volantes e dos três meias-atacantes, que complicam toda a marcação adversária, principalmente quando o treinador adversário planeja a marcação homem a homem.
Para que este modelo tático seja implantado com sucesso, o principal é o fácil entendimento pelo grupo de jogadores da função de que cada um terá que desempenhar dentro de campo.
Além disso, é necessária mão-de-obra qualificada (jogador), e é claro um bom nível intelectual para entender as instruções de seu treinador. Não adianta nada o treinador tentar explicar como ele quer que funcione seu esquema tático, se o jogador não está entendendo nada do que ele está falando.
Imaginem os senhores, um jogador do nível intelectual do Deputado Federal Tiririca, tentando entender o que o treinador holandês Rinus Michel, pretendia com a sua “Laranja Mecânica” na Copa de 1974. Seria impossível, com certeza.
Apenas como curiosidade, a Seleção Holandesa, de Johan Cruiff e Johan Neeskens, foi campeã das Olimpíadas de Munique em 1972, utilizando este esquema que viria a ser reconhecido em 1974.
Comparando o Coritiba de hoje, com o time campeão brasileiro de 1985, observamos algumas similaridades no esquema tático.
A diferença é que o Coritiba de 1985, tinha em sua meia-cancha três volantes (Almir, Marildo e Tobi), que marcavam muito e saíam para o jogo, com Tobi tendo maior liberdade.
Já o ataque era formado por dois pontas fixos em seus lados, Lela pela direita e Edson pela esquerda, com Índio como centroavante, ou hoje denominado, homem de referência.
O Coritiba de hoje atua com dois volantes (Léo Gago e Leandro Donizete), Marcos Aurélio como o homem de armação central e dois homens abertos (Rafinha e Davi) que fazem o papel dos antigos pontas Lela e Edson. Já Bill faz o papel que era de Índio.
Já a linha defensiva tem a mesma definição tática, com a diferença notada apenas na qualidade técnica de André, Gomes, Heraldo e Dida, que é superior aos jogadores atuais do Coritiba.
Com a mesma filosofia de trabalho após a saída de Ney Franco e a chegada de Marcelo Oliveira, a manutenção do restante da comissão técnica e da maioria do grupo de jogadores, com exceção de Enrico e Dudu, o Coritiba tem grandes condições de fazer uma boa campanha em todas as competições nesta temporada.
E isso vem acontecendo, como prova a excelente campanha no primeiro turno do campeonato paranaense.
Apesar da perda de Enrico, que atuava pelo lado esquerdo, e era uma das principais peças do sistema, as boas atuações de Davi e a contratação de Everton Ribeiro mantêm a qualidade pelo lado esquerdo e conseqüentemente aumenta o leque de opções que o treinador Alviverde tem a sua disposição.
Temos que ressaltar ainda que as chegadas dos novos laterais (Jonas e Eltinho) melhoraram a qualidade do time, principalmente a parte defensiva, que vem sendo muito bem executada por estes dois atletas dentro de suas funções na linha de quatro jogadores.
Porém, ainda é preciso alguns ajustes na defesa, em razão do sistema defensivo estar postado “em linha”. Com isso os adversários podem explorar esta deficiência, principalmente em jogadas de contra-ataques.
Com o sistema defensivo sofrendo os ajustes necessários e a manutenção do esquema 4-2-3-1, o Coritiba entrará forte no campeonato nacional.
O importante é que com a consagração definitiva do esquema tático atual, o ultrapassado 3-5-2 deve ser aposentado definitivamente pelo Coritiba.
Saudações Alviverdes
Ricardo Honório
Esta coluna foi inspirada em um bate-papo com o amigo COXAnauta Luiz Fernando de Oliveira.
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