Falando de Bola
O futebol é, por essência, um esporte popular. Suas raízes estão fincadas nos gramados e nas arquibancadas lotadas de paixão, onde o torcedor encontra um espaço de pertencimento. No entanto, o Coritiba, ao fixar o preço do ingresso para o clássico Atletiba em exorbitantes R$ 300,00, parece caminhar na contramão dessa essência.
Esse valor não é apenas alto; é uma barreira que exclui uma parcela significativa da torcida que sempre esteve ao lado do clube, nos bons e maus momentos. Muitos torcedores, especialmente aqueles que enfrentam dificuldades econômicas, simplesmente não podem arcar com esse custo. E, infelizmente, são exatamente esses torcedores que mais sofrem com a elitização do futebol, perdendo o direito de vivenciar um momento único como um Atletiba no estádio.
É evidente que o preço elevado tem como objetivo incentivar os torcedores a se associarem ao clube, o que, em teoria, é uma estratégia válida para garantir receitas recorrentes e fortalecer o vínculo com a torcida. Contudo, nem todos têm condições de virar sócios. Para muitas famílias, assumir um compromisso financeiro desse tipo significa abrir mão de itens essenciais no orçamento doméstico, como alimentação, saúde e educação. O futebol, que deveria ser um momento de lazer e união, acaba se tornando inacessível para quem já enfrenta dificuldades no dia a dia.
Ao optar por essa estratégia de precificação, a diretoria do Coritiba arrisca não apenas afastar o público, mas também ferir a conexão entre o clube e sua base mais fiel. O Couto Pereira deve ser um lugar de encontro, um espaço onde famílias, jovens e idosos possam se reunir para apoiar o time de coração. Quando o preço do ingresso se torna um impeditivo, essa conexão se fragiliza. E isso acontecendo em um momento onde a identidade Coxa-Branca parece cada vez mais distante depois que o clube foi vendido, torna-se ainda mais grave.
É compreensível que o clube busque receitas, ainda mais em tempos de dificuldades financeiras, mas essa busca não pode ignorar o impacto social e emocional de suas decisões. Outras estratégias poderiam ser adotadas, como preços mais acessíveis para setores populares ou promoções para sócios e famílias. Um estádio cheio, com torcedores apaixonados, vale muito mais do que os lucros imediatos de bilheteria.
O futebol é mais do que um negócio; é cultura, emoção e identidade. Que a diretoria do Coritiba reflita sobre o impacto dessa decisão e busque formas de manter o Atletiba acessível a todos, devolvendo ao torcedor a oportunidade de ser parte ativa dessa história. Afinal, o que seria do futebol sem sua alma: o torcedor?
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