Falando de Bola
Em época de quarentena pelo COVID-19, o mundo do futebol anda parado. Assim, fica difícil trazer novidades aos leitores do COXAnautas. Mas assuntos sobre futebol nunca faltam, e o tema que trago hoje é sobre o maior Coritiba que vi jogar e que me fez o prazer de poder acompanhar as atuações daquele que é o meu maior ídolo no futebol.
Em 1986, o Coritiba foi até o Cruzeiro e trouxe um meia de muita qualidade técnica. Revelado pelo Santos, Tostão, então com 28 anos, chegava com muita expectativa por parte da torcida, após boas temporadas pelo clube mineiro.
No mesmo ano, o meia ajudou na conquista do título paranaense, finalizado contra o Pinheiros em uma vitória por 3x0.
No ano seguinte, em 1987, Tostão teve um desempenho mediano, que culminou com um empréstimo à Inter de Limeira para a disputa do campeonato paulista em 1988. De volta ao Couto Pereira, o meia foi um dos destaques do Coritiba na competição e ali, começava a ser formado o maior Coritiba que vi jogar.
Começo de 1989, Edu Coimbra, irmão de Zico, chega para treinar o Coritiba. Ainda sem muito destaque no cenário de técnicos do futebol brasileiro, Edu chegava como uma aposta ao time Alviverde. A torcida Coxa, sempre muito exigente, olha desconfiava para aquele carioca baixinho, cujo maior destaque na carreira tinha sido no América/RJ.
Mas Edu tinha um olho clínico e logo percebeu que tinha grandes meias a sua disposição. Naquela época contar com meias do quilate de Osvaldo, Serginho, Carlos Alberto Dias e Tostão era um privilégio para qualquer treinador. O grande problema era como escalar todos juntos?
Para aumentar a boa dor de cabeça que o treinador tinha, o seu elenco contava ainda com o volante Marildo, campeão brasileiro de 1985 pelo Coritiba.
Mas tal qual Zagallo na Copa de 1970, que encontrou lugar no mesmo time para Pelé, Gérson, Tostão e Rivellino, Edu mudou a forma do time Alviverde jogar, colocando Osvaldo, um meia direita que tinha feito grande sucesso na Ponte Preta, Grêmio e Vasco, como primeiro volante de sua equipe. O jogador, então com 30 anos, se adaptou completamente a nova função e deu nova cara ao time do Coritiba.
Com Osvaldo de primeiro volante, o meia Serginho passou a jogar mais recuado também, o que dava total liberdade para que Tostão pudesse desfilar toda a sua categoria atuando de forma mais centralizada, e Carlos Alberto Dias jogasse mais pelo lado direito, como um verdadeiro ponta.
Para completar o setor ofensivo ainda tinha o centroavante Chicão que, em grande fase, fazia gols de todos jeitos, e o ponta-esquerda japonês Kazu, que logo se tornou o xodó da torcida.
Quando o adversário era mais encorpado, Edu Coimbra tirava Kazu e colocava Marildo como primeiro volante, e mesmo assim o time não perdia a sua ofensividade.
Se o meio e o ataque atuavam em sintonia, tal qual uma bela composição de Beethoven, a zaga não deixava por menos. Para o gol tinha chegado o experiente goleiro Toinho, mas o jovem Gerson, revelado no clube e que fez parte do elenco campeão brasileiro de 1985, tomou conta da posição e se tornou titular indiscutível daquele time.
As laterais tinham, Polaco, revelado pelo América/RJ, vindo do Fluminense, e Pecos, campeão paulista de 1986 pela Inter de Limeira. E zaga contava com os experientes Vica, ex-Fluminense, e João Pedro, que veio sem muito destaque do Atlético/MG, mas logo se tornou dono da posição e fez uma grande dupla com Vica.
Aquele timaço acabou se tornando campeão paranaense de 1989, em uma campanha impecável, disputando o final do paranaense contra o União Bandeirantes de Serafim Meneghel, após memorável semifinal contra o Atlético Paranaense, quando Tostão arrebentou com os jogos, eternizando na memória do torcedor Coxa suas atuações nos Atletibas, não só no ano de 1989, como também em 1990, tornando-se carrasco dos atleticanos e do goleiro Marolla.
Com o time jogando por música, a grande expectativa era a participação do brasileiro de 1989. Já sem Edu Coimbra, o time comandado por Jair Picerni dependia apenas de uma vitória contra o Santos, em Juiz de Fora, para avançar para a outra fase. Mas, em uma história que todo torcedor Coxa conhece, uma canetada da CBF acabou com o sonho do bicampeonato brasileiro, e rebaixou o Coritiba para a terceira divisão.
Independente da história final daquele time, que tinha todas as condições de continuar encantando o torcedor Alviverde, ficarão as eternas memórias do futebol apresentado pelo Coritiba de 1989, e principalmente pelo prazer de ver Tostão, o grande camisa 10, jogar um futebol que jamais vi um meia com a camisa do Coxa jogar igual.
Saudações Alviverdes
Ricardo Honório
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