Falando de Bola
No agradável bate-papo que tivemos com o professor René Simões, no programa 39 da TV COXAnautas, dentre as várias coisas que foram faladas e histórias que foram contadas, me chamou muito a atenção quando falamos do futebol brasileiro.
Ali, tentava entender o porque da mediocridade técnica que assola o futebol disputado no Brasil atualmente.
Há tempos escrevi uma coluna que falava sobre o físico em detrimento da técnica, mas ainda tentava entender o porque de vermos cada vez menos, jogadores diferenciados tecnicamente.
Cheguei a pensar que não é mais comum no Brasil, pelo menos nas grandes capitais, vermos meninos jogando bolas nas ruas ou até mesmo naqueles campos de terrão, de onde já saíram grandes craques do futebol brasileiro.
Hoje, os meninos tem outros interesses, como celulares, tablets e computadores, e jogam futebol muito mais com as mãos (videogame) do que propriamente com os pés.
Outro fator que em minha visão atrapalha o descobrimento de novos talentos é o fato de que o menino tem que pagar para estar em uma escolinha, e consequentemente conseguir fazer teste em um clube. São raras hoje em dia, principalmente nos grandes centros, as peneiras gratuitas. E as crianças menos favorecidas financeiramente dificilmente conseguem pagar uma escolinha de futebol, que hoje parece muito mais visar apenas lucro do que propriamente descobrir novos talentos.
E assim, muitos meninos que poderiam bons jogadores acabam não tendo a mínima chance de se tornar um.
E aí, quando o jogador chega em um clube de futebol, muitas vezes ele precisa deixar o seu talento de lado, para se tornar um jogador adepto ao esquema do treinador e obediente taticamente.
Em um conversa anos atrás com uma pessoa ligada a um clube de futebol, ele me contou que a ideia do clube era que todas as equipes de base utilizassem o esquema tático que era usado na equipe principal. Assim, na visão daquele profissional, o jogador já chegava na equipe de cima sabendo o que teria que fazer taticamente.
Para mim isso está errado, pois engessa completamente o jogador, que muitas vezes precisa deixar suas características de lado apenas para obedecer ao o que o treinador lhe determina.
E no Coritiba, de Sandro Forner, temos dois casos que podem servir de exemplos.
Um deles é Iago Dias, que fez lindos gols em 2016, na maioria das vezes saindo do lado esquerdo e puxando para o meio, de forma a acertar melhor o seu pé direito. E o outro é Kady, que na base era um dos melhores chutadores do time, e na equipe principal, não tem conseguido usar sua melhor característica por ter que atuar aberto na ponta, procurando sempre a linha de fundo e os cruzamentos, quando poderia cortar para o meio e chutar em gol.
Ao ver isso, começo a acreditar que o futebol brasileiro só vai voltar a revelar jogadores bem dotados tecnicamente, quando estes começarem a desobedecer os seus treinadores.
Enquanto isso não acontecer, teremos que continuar a ver nos campos brasileiros, times obedientes taticamente, mas sem nenhuma criatividade.
Saudações Alviverdes
Ricardo Honório
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