Futebol, Ciência e Opinião
Na semana passada, um ex-atleta profissional que agora exerce a função de técnico em clube da capital paranaense, foi notificado pelo Conselho Regional de Educação Física em função do exercício ilegal da profissão.
Não irei abordar profundamente as razões que entendo que para atuar nessa função obrigatoriamente é necessária formação superior, apenas destacar que atuar como técnico é prescrever exercício físico, exige conhecimento em fisiologia, anatomia, biomecânica, bioquímica, treinamento desportivo, pedagogia do esporte, aprendizado e desenvolvimento motor, psicologia do esporte e outros conhecimentos científicos, a experiência de ter sido um ex-atleta está anos luz distante de ser o suficiente. Os ex-atletas tem muito a contribuir com o futebol, sem dúvida alguma, mas é necessário uma formação adequada para exercer as atividades.
Em nenhuma profissão regulamentada, o prático pode exercer atividades ou inscrição nos conselhos federais, devendo sim responder judicialmente por contravenção penal, caso seja flagrado.
Nenhum profundo conhecedor de patologias pode atuar como médico, conhecedores práticos da construção civil não podem projetar, nenhum funcionário de escritório de contabilidade se torna contador sem a graduação, no direito além do bacharelado a aprovação no teste da OAB é necessário para advogar.
Prescrever exercício físico é reservado aos profissionais de Educação Física descrita na lei 9698/98. Obviamente, no processo democrático é aceitável que algumas pessoas não concordem com a obrigatoriedade, entretanto está previsto em lei e deve ser cumprida.
Com enorme tristeza que leio e escuto declarações de profissionais de imprensa, inclusive com graduação em direito, questionando a existência de uma lei que impeça a atividade de um prático.
Se já não bastasse a completa ignorância a respeito do assunto, aproveitam a oportunidade para agredir e ofender os profissionais de Educação Física, como fez o senhor Augusto Mafuz de forma genérica, afirmando que os educadores físicos não sabem nada de futebol.
Os fantasmas do futebol brasileiro não os profissionais da Educação Física, mas sim aqueles que exercem a função sem nenhum conhecimento científico, baseado apenas na “boleiragem” durante anos de profissão.
O preparador físico exerce uma determinada função na comissão técnica, entretanto a graduação em Educação Física não o habilita apenas a fisiologia. Existem ramificações em diversas áreas, o cirurgião trabalha em conjunto com o anestesista, mas ambos possuem a mesma formação acadêmica, a medicina. Na odontologia, existem profissionais que atuam em especialidades distintas, entretanto todos possuem a mesma graduação.
Em um país com ótimas condições climáticas, excelente combinação genética, com 99% da população masculina com desejo de ser atleta de futebol, recursos canalizados quase que totalmente ao futebol, não se consegue ser soberano nesse desporto.
O Brasil seleciona mal, forma mal, com a melhor matéria prima do mundo a disposição, justamente porque utiliza pouco a ciência e fica refém de conceitos ultrapassados.
É importante a experiência do atleta, mas o conhecimento científico é fundamental. No país que pouco se investe na educação de seu povo, vem a calhar a idéia que não é necessário estudar para ser profissional.
O profissional de Educação Física merece respeito !
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