Futebol, Ciência e Opinião
Caros leitores
Venho observando atentamente o Coritiba em sua estrutura tática durante os últimos jogos. Cheguei a assistir novamente as partidas para analisar com mais calma. Considerando mais um jogo complicado, agora contra o Palmeiras, concluí minhas avaliações:
Saída de Bola:
O Coritiba não vem mostrando que possui qualquer movimentação de saída de bola em tiro de meta. Basta o adversário subir um pouco a marcação que 90% da vezes será "chutão", nos 10% que tenta sair jogando faz de forma um pouco atrapalhada. Alguns adversários já entenderam, sobem a marcação e não nos deixam jogar, como foi contra o São Paulo.
Na recuperação de bola no campo de defesa, só apresentamos um único recurso, "chutão" para os atacantes brigarem pela primeira bola, algumas vezes funciona, isso depende do nível técnico dos zagueiros e inspiração dos ótimos atacantes, mas basta uma defesa um pouco mais qualificada vira um treino de cabeçada para a zaga adversária.
Marcação sem a posse de bola:
A marcação é normalmente atrás do meio campo com a primeira linha bem recuada, mesmo em desvantagem no placar o Coritiba não consegue exercer pressão na saída de bola do adversário, quanto tenta faz de forma desorganizada e sem sucesso.
O Coritiba já tinha uma certa "característica" desde o campeonato estadual em abusar da bola longa e não demonstrar uma marcação eficiente no meio de campo, mas no campeonato brasileiro isso vem se mostrando mais evidente.
Causa raiz
Saída de bola é treinamento e capacidade de leitura do posicionamento adversário, a equipe precisa de variações, sair tocando por dentro, pelas laterais, trocando posicionamento e também a bola longa, entretanto o Coritiba usa 90% do jogo o último recurso. O que se espera de uma comissão técnica profissional é que se dedique alguns minutos no treinamento diário para repetir as movimentações.
Tanto na marcação quanto na saída de bola temos um problema tático, a inferioridade numérica no meio de campo e incapacidade em construir jogadas por esse setor.
O técnico Moringo insiste com 3 ou até mesmo 2 jogadores na meia cancha com 3 atacantes "espetados" no ataque. Sem a posse de bola trás os atacantes para marcar de forma extremamente recuada, exercendo função que cai contra as características dos atletas. Obviamente, no futebol moderno os atacantes possuem uma função defensiva, mas no time do Coritiba extrapola esse princípio, gera um desgaste físico acima do normal, reduz a capacidade ofensiva e dificulta a saída quando retoma a posse.
O que vemos é um Coritiba que vai sendo empurrado para trás pela movimentação do meio campo adversário, pois inferioridade numérica no setor vai recuando para ficar mais compactado, isso é um instinto natural em campo.
Com a posse de bola, sem meio de campo para construir ofensivamente, só resta aos atacantes sair em velocidade e receber "chutão" dos zagueiros e laterais, tentando quem sabe ganhar uma bola e construir uma situação ofensiva, como aconteceu contra o Ceará, por exemplo quando resultou no gol de empate.
Grandes jogos e pequenos jogos
Os grandes jogos são as estruturas táticas que conhecemos, 4x4x2, 3x5x2 e tantas outras variações que ouvimos todos os dias.
Mas o futebol é decidido nos "pequenos jogos", na situação de 1x1 na lateral, 1x1 contra o zagueiro, na movimentação 2x2, 3x2, 4x4. São nos pequenos jogos que o futebol se define. São 11 jogadores de cada lado e 3 ou no máximo 4 jogadores participam onde a bola se encontra, o restante busca posicionamento para receber e iniciar outro "pequeno jogo".
Acontece que o pequeno jogo mais importante ocorre no meio de campo, tanto defensiva como ofensivamente. Atuar nesse setor com 3 atletas quando o adversário posiciona 4 ou 5, sempre será complicadíssimo.
Somente uma estrutura tática eficiente no meio campo fará que tanto os pequenos jogos no ataque, como os pequenos jogos na defesa sejam eficientes.
Conclusão:
O Coritiba possui em 2022 uma equipe individualmente mais qualificada em relação a 2021, mas taticamente ano passado estávamos melhor estruturados. Esse ganho individual vem nos ajudando muito com a performance no brasileiro 2022, mas já vem demonstrando limitações, principalmente pelo excesso de lesões(Tema que vou tratar essa semana e também preocupa).
"O Moringo precisa fazer uma leitura melhor do jogo, treinar variações táticas, não pode jogar do mesmo jeito contra todos os adversários. Mesmo durante as partidas é necessário ter algumas variações de estratégia, mas o que observo é apenas a troca de jogadores mas sem variação"
Em muitos jogos ele teria tornado o ataque mais eficiente colocando em campo um meia no lugar de um atacante, mas o primeiro recurso é sempre colocar o maior número de atletas perto do gol adversário, sem a preocupação de otimizar o setor onde nascem as jogadas.
No futebol atual todos os clubes estudam exaustivamente seus adversários, basta assitir 3 jogos completos do Coritiba para entrar em campo "vacinado" contra o sistema atual.
Se não variarmos, logo deixaremos de olhar para o topo da tabela e voltaremos a nos preocupar com a parte de baixo.
Confio no trabalho de longo prazo do Moringo, mas precisa repensar alguns conceitos antes que seja tarde demais.
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