Futebol: Razão x Emoção
Sinceramente, alguém tinha dúvidas com relação às mazelas sociais e financeiras que adviriam ou seriam ressaltadas com a Copa do Mundo? Alguém duvidava da corrupção?
Alguém tinha dúvida de que maquiavelicamente, burlando regras, e relativizando o conceito de interesse público, tudo seria feito ao padrão FIFA?
Nem a FIFA tinha dúvidas disso. Aliás, ela tinha certeza de que os políticos brasileiros seriam capazes e eficazes na consecução destes fins festivos. É muito mais fácil à FIFA, como à ONU, FMI e etc., lidar e impor sua vontade a países imensos e de educação rasa, como Brasil e África do Sul, ou teocracias e semi-ditaduras, como Russia e Catar, do que com desenvolvidas democracias.
Agora, com o que ela não contava era com a incompetência dos governos na entrega de exigências básicas, aliada à densa burocracia brasileira, mesmo mitigada pelas leis eventuais da Copa.
Alguém acreditou quando Ricardo Teixeira garantiu a copa totalmente com recursos privados? Alguém questionou? De 2007 a 2013, as críticas foram espaçadas, dispersas, e o apoio ao status quo forte, unido, garantido pelas mídias estatais, pelas particulares que se servem do estado, e pelos talismãs oportunistas como Ronaldo, Bebeto, e o eterno “xodó” da publicidade, Pelé.
Mesmo depois do fracasso do Pan 2007, (lembram?), não houve protestos significativos quanto à candidatura do Brasil como sede do mundial. Agora não me venha você, depois de podre o cadáver, me mandar emails de protestos. Não seja hipócrita de postar na sua rede social “#vemprarua” “copapraquem” ou coisa que o valha.
Protestar a esta altura do campeonato é tão vergonhoso quanto não tê-lo feito em 2007. Você que já está catalogando alvos para apedrejar e demonstrar toda sua coragem-covarde diante das lentes de todo o mundo, não é diferente dos monstros que atiram balas, pedras, paus, e vasos sanitários em seus semelhantes. Aliás, apesar da tristeza pela vítima, o caso do vaso sanitário é emblemático, porque, literalmente, quem atira e quem recebe, só pode ter merda na cabeça.
ROUPA SUJA SE LAVA EM CASA. Já bastam a incompetência e a imbecilidade dos governantes. Não deem mais margem para que o mundo fale ainda mais mal do povo brasileiro. Sair às ruas em dia de jogo é para quem quer aparecer. É oportunismo de movimento social que infelizmente ganhará combustível partidário diante da corrida eleitoreira que se avizinha. Não se renda a isso. Raciocine. Não é o mundo que precisa ver nossa força e nossa garra; apenas nossos governantes.
A copa está aí. Inês é morta. Ao menos mostremos civilidade. A dignidade de uma nação está em jogo. Não peço a você que se encha de um patriotismo repentino e pendure a bandeira brasileira na janela, como um corta-luz que ofusca a realidade triste que vem do lado de fora. Peço que tente aproveitar em paz o momento. Tirando tudo o que foi dito acima, pra quem gosta de futebol como nós, é um puta momento histórico. Discutamos táticas, bebamos cervejas nos estádios, e mostremos que é possível beber sem quebrá-los. Recebamos bem os gringos, conversemos com eles, façamos nossos filhos aprender o quão lindo pode ser o esporte. O quão mágico é o futebol.
O momento de protestar é em outubro, não em junho, nem em julho.
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)