Futebol: Razão x Emoção
Conquista de títulos. Será que é isto que deve mover um Clube de Futebol?
Ergue-se a taça, choros e risos nas arquibancadas, volta olímpica no gramado, carreatas, fogos, festa, ressaca, e no dia seguinte o que sobra?
O dever de buscar mais um título.
Clubes que buscam o título a qualquer custo, que, por ter isto como única meta, contratam medalhões a peso de ouro, assumem débitos impagáveis, abaixam ridiculamente os preços de seus ingressos, raramente o alcançam, e quando o fazem, ou chegam perto, deixam uma bomba a estourar nos próximos anos, como acontece com Flamengo e Vasco em 2012.
Títulos como o do Flamengo há alguns anos, e a participação ótima do Vasco ano passado, em verdade são acidentes de percurso de clubes mal administrados, mas que, com sorte, e também com a ajuda da arbitragem, conseguiram esconder atrás da taça, por algum tempo, todas as moléstias que lhes acometem.
Com o Fluminense, campeão virtual deste ano, não é tão diferente.
Não senhores, um clube não deve ser movido exclusivamente pela busca a qualquer custo de um título; um clube deve ser movido, precipuamente por 2 objetivos: aumento e fidelização de torcedores, e montagem de elencos perenemente competitivos.
Para que me faça melhor entender, “o título”, que, também pode ser chamado de, “o prêmio”, como o próprio nome já diz, deve ser tido apenas como a conseqüência final de um longo trabalho, conquistado com dedicação e participação de todos os envolvidos: clube, time e torcedores.
Assim como a conquista, a perda de um título não necessariamente deve resultar em mudanças no comando de um clube ou time. É a cultura da supervalorização do título, aliada ao total desprezo pelo vice, ou o terceiro lugar, que faz o futebol brasileiro tão volátil no que tange a permanência de jogadores e treinadores em seus cargos. E esta volatilidade, por sua vez, é a causadora dos valores astronômicos a título de salários que treinadores e jogadores recebem no Brasil, bem como da subserviência dos clubes aos seus empresários.
Quanto à torcida, esta muito menos deve ser movida a títulos, a vitórias. Se assim fosse, a Ponte Peta não tinha mais torcida. Se assim fosse, como explicar a média de público do Santa Cruz?. Ou, em nível internacional, os estádios europeus sempre lotados, não importando a fase ou a série que o time enfrenta? O torcedor deve ser movido primeiramente por amor ao futebol, e em segundo lugar pelo amor ao seu time, na alegria e na tristeza.
Isto porque o futebol é muito mais do que a efemeridade de um título. Futebol é o deslumbre da criança que pisa pela primeira vez num estádio, é a conversa sem fim de botequim, é a união de todos por um único objetivo, é abraçar um desconhecido no momento do gol, enfim, é o amor pelo mais lindo e injusto dos esportes.
Títulos são importantes? Claro que são. Afinal, quem não quer gritar “é campeão!” Mas o futebol não é e nem deve ser movido por títulos, e sim pelo eterno desejo de buscá-los. Quanto mais cedo os clubes e seus torcedores entenderem isso, mais times de qualidade teremos, mais estádios lotados teremos, e, por conseguinte, mais espetáculo e saúde financeira no futebol.
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