Futebol: Razão x Emoção
Mal do século, foi como ficou conhecida a vertente mais pessimista, depressiva e triste do Romantismo, movimento que tomou conta das construções líricas do Brasil imperial, tendo como expoentes Alvarez de Azevedo, Casemiro de Abreu, dentre outros.
E a referência que se faz a esta espécie de literatura, é justamente porque a arbitragem brasileira, traz nos românticos amantes da arte do futebol, um sentimento parecido: de tristeza total, descrença e de falência das instituições por ele responsáveis.
O que temos visto neste Campeonato Brasileiro, séries A e B, e antes na Copa do Brasil de 2011 e 2012, beira os mais clamorosos absurdos casos de compra e manipulação de resultados que, na Itália, levaram vários personagens a julgamento, e clubes tradicionais, como a Juventus, a serem rebaixados de divisão. O problema aqui no Brasil, é que a “malandragem” é velada, esparsa, mais difícil de se comprovar e incriminar.
Contudo, não culpo o poder do apito amigo, apenas à falta de profissionalização dos árbitros, falta de padronização e criterização das sua decisões, e falta de reais punições aos apitadores que incorrem seguidamente em erros.
Culpo a cultura do futebol brasileiro. Em especial, culpo a cultura do Malandro, na sua pior forma de interpretação, que também vemos presente nas relações sociais, comerciais e políticas.
Penso que o árbitro que erra por desconhecimento, ou por pura má fé, é tão culpado pelo terrível momento que passa a arbitragem brasileira, quanto os jogadores simuladores, que vivem de cavar faltas, expulsões, goleiros que atrasam reposição de bola em defesa dos resultados que lhes são favoráveis e principalmente os técnicos, velhacos, que incitam e incentivam esta prática nefasta de ludibriar o árbitro desde as categorias de base. Ou seja, o garoto futebolista já cresce sabendo que deve driblar o adversário, mas se possível, deve driblar, imoralmente, também o apitador.
Culpo o governo brasileiro que não toma medidas coercitivas quanto aos grandes devedores do futebol nacional, que devem verdadeiras fortunas em impostos, e mesmo assim, continuam comprando craques a peso de ouro. Times como Botafogo, Flamengo, Vasco, que até sem água ficou em seu estádio,já teriam falência decretada ou ao menos estariam em processo de liquidação judicial, se vivêssemos num país sério.
Culpo também a mídia, que tem como única linha editorial a política do pão e circo. Principalmente os comentaristas de arbitragem, que de maneira covarde, escondidos atrás de seus microfones, e após reverem centenas de vezes o mesmo lance, indicam o erro de seu colega de profissão, sem, contudo, criticar veementemente as comissões de arbitragem e a grande responsável pelo desmando no futebol nacional: a CBF.
É um círculo vicioso que ocorre no Brasil: o árbitro não tem critério, é ruim, ou às vezes mal intencionado, os jogadores, além de não terem respeito nenhum pela autoridade presente em campo, são ensinados a ludibriar o árbitro, que por sua vez tenta não ser enganado pelos jogadores que estão sempre tentando enganá-lo. Os mandatários do futebol, reticentes à inserção de tecnologia no esporte, seguem inertes em seus gabinetes, punindo um caso aqui outro ali, sem, contudo, tentar padronizar e treinar melhores seus árbitros, muito menos incentivar o fair play ou ao menos, políticas de formação de jogadores que não sejam “cai-cai”, enganadores e cavadores de falta.
E assim, nesta dialética rota, tudo fica como está. Sobrando aos torcedores o dever de pagar para assistir monótonas partidas, incessantemente paralizadas por faltinhas ridículas, ou, pior, decididas por erros do homem do apito. Melhor para os tradicionalmente beneficiados, os times do Eixo. Será que isto explica o porquê da situação nunca mudar?
Sobre a polêmica da rodada, ao ver as imagens dos árbitros que anularam o gol do Palmeiras, indo embora quase que fugidos do Beira Rio, sem dar satisfação a ninguém sobre a balbúrdia que causaram na partida quando da anulação correta do gol de Barcos, penso que uma das medidas que poderiam ser adotadas para aumentar a responsabilidade dos árbitros e coibir tanto os erros casuais como os de pura má fé, seria a necessidade deles também darem entrevista coletiva, relatando pessoal e oralmente a súmula da partida após os jogos.
Quem sabe o receio de ter de falar em público sobre o que fizeram de bom ou de ruim durante o jogo fizesse os árbitros e seus, hoje, inúmeros assistentes, ficarem um pouco mais atentos durante o jogo, menos caseiros, e mais corretos.
Meu único temor, é que diante de tantos jogos decididos no apito, as salas das coletivas pós-jogo dos treinadores e jogadores ficariam vazias, já as coletivas dos árbitros, ficariam repletas de repórteres.
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