Futebol: Razão x Emoção
Certo é que os donos do apito do futebol Brasileiro são "caseiros", como tão certo é que os “erros” quase sempre prevalecem os times do dito eixo.
Certo é que nossos times são sempre prejudicados pela arbitragem sem critério, como tão certa e notória é nossa falta de representatividade junto às entidades mandatárias do futebol nacional.
Não discordo de nada disso, pelo contrário, digo que isto é certo.
Mas tentando analisar a arbitragem como um todo, sinto que o problema é mais profundo, calcado na falta de educação de todos os envolvidos no processo: torcedores, jogadores, dirigentes, técnicos e imprensa.
A arbitragem errônea e truculenta que temos é fruto da cultura do futebol brasileiro.
Primeiro: a cultura do cai-cai. O jogador brasileiro parece ser treinado desde a base para induzir o árbitro ao erro e a parar o jogo. Isto fica bem claro quando temos casos em que o atleta cai na área pedindo pênalti ao invés de fazer ou tentar fazer o gol, bem como naqueles casos em que o atleta recebe a bola de costas, e, assim que sente a presença do adversário por trás, cai, já segurando a bola, e o árbitro atende seu “pedido” de falta.
Segundo: porque torcedores, técnicos, jogadores, não vêm no árbitro a figura de um conhecedor amplo das regras do jogo. Não existe este respeito à autoridade do árbitro no futebol brasileiro. Todos, com raras exceções, o tem como um cidadão que só está ali pra atrapalhar, como um jogador frustrado que virou “juiz”, que cujo trabalho, de tão fácil, qualquer um faria, e melhor.
Por isso mesmo os jogadores brasileiros viram as costas e saem, ao invés de parar para ouvir seus sermões e receber seus cartões. Não se dá o devido respeito ao árbitro de futebol, como se dá ao árbitro de vôlei, de tênis ou de basquete.
E aí vem a pergunta: os árbitros são ruins porque não são respeitados, ou não são respeitados porque são ruins?
Não sei. Mas o terceiro motivo que em minha opinião provoca crises em nossa arbitragem, e o mais importante, é que os próprios árbitros não se dão ao respeito. Agem espalhafatosamente, tentando impor sua autoridade às vezes até fisicamente, com gestos abruptos e palavras de ordem, gritos, quando deveriam ser, por essência, a referência branda, racional e técnica de todo o espetáculo. Tem árbitro que dá cartão como se estivesse dando um soco na cara do atleta. Um despautério.
Fatos como estes não ocorrem no campeonato inglês ou alemão. Pois lá na Inglaterra o “Referee”, (referência), ou na Alemanha, o “SchiedsRichter” (Juiz), são respeitados, e se fazem respeitar. Ele entende que o jogo é um esporte de contato, de emoção, assim como os atletas também não tentam a todo momento ludibriá-lo. Exercem sua autoridade pelo conhecimento e pela racionalidade demonstrada, não por seu poder de mando, como no Brasil. Lá eles impõem respeito, aqui, medo.
Não quero aqui tentar defender os árbitros brasileiros que não merecem qualquer defesa, principalmente de nós coxas-brancas, tão prejudicados ultimamente.
Mas se formos comparar quantas vezes o árbitro é enganado pelos jogadores, com as vezes que ele erra por desconhecimento ou má intenção, certamente que a “malandragem” dos jogadores vencerá esmagadoramente.
E ainda ironizam o cidadão, chamando-o de “professor”, no mesmo momento em que o cercam questionando e pedindo que altere sua última decisão.
É esta cultura do malandro, totalmente distorcida que eu vejo ser o mote principal de toda a balburdia que permeia a arbitragem brasileira.
Se o jogador pode, ou às vezes, pela torcida, pelo técnico é obrigado a ser malandro, porque o árbitro não pode? Porque o deputado não pode? O presidente deste ou daquele clube ou entidade não pode?
Reclamamos tanto de dois pesos e duas medidas, mas os temos e o fazemos diuturnamente.
Malandragem. Está aí uma palavra, que deveria ser expurgada do futebol brasileiro. Mas ocorre ao contrário, até comentaristas de arbitragem a louvam e a exaltam dizendo “o árbitro agiu corretamente, foi malandro, deu um cartão já no início; mais pra controlar o jogo que pra punir o atleta, porque o jogo é difícil”...
Existe maior confissão de incompetência do que essa? Existe, sob esta ótica, um significado bom para o vocábulo malandragem?
Quando nossos jogadores tentarem parar de induzir o árbitro em erro e começarem a jogar futebol como homens, e quando nossos árbitros pararem de ceder a estas induções, e imporem sua autoridade simplesmente pelo conhecimento superior das regras do jogo, aí sim teremos um futebol prazeroso de assistir. Um futebol, corrido, jogado, leal, disputado; e não este cai-cai e trilar de apitos infinito que é o nosso futebol.
Quando pararmos de nos basearmos na malandragem estúpida, corrupta, não só o futebol melhorará, mas também nós e o país como um todo. Quiçá até outros abusos de autoridade, de figuras de terno e outras fardas, também parem de ocorrer.
Obs. Se alguém não entendeu ou desconhece o trocadilho do título, malandro agulha é aquele cara que se acha “o espertão”, mas só leva na....cabeça.
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