Futebol: Razão x Emoção
Foi-se o tempo em que o cidadão ía ao estádio, sentava em qualquer local, pedia um saco de amendoim com casca e pedia uma gelada.
Foi-se o tempo em que em cima da Mauá o carrinho vendia, além da “maldita” cerveja, o pão com bife, que tantas vezes comi com meu pai.
Foi-se este tempo.
O álcool saiu das ruas, o que é ótimo. Saiu mesmo? E saiu também dos estádios. Saiu mesmo?
Quando saímos do estádio, ali já na porta, quase dentro do Couto, tem um cidadão gritando, do lado do policial que deveria retirá-lo dali: “cervejinha aqui é 3, duas por 5!’’.
Incrustado no próprio estádio tem um bar. Do outro lado da rua, 2 bares, vendendo cerveja. Nas cercanias, quantos outros ambulantes continuam vendendo álcool. E quantos outros seres do bem e do mal continuam consumindo moderada e imoderadamente álcool para depois adentrarem ao estádio.
Não senhores, o álcool não saiu do estádio, a diferença é que agora ele chega já dentro do corpo e do cérebro do cidadão, e ainda fica esperando ele lá fora.
Aliás, alguém já teve acesso a alguma pesquisa comprobatória da diminuição da violência após a proibição do álcool nos estádios?
Mas a onda do “politicamente correto” não tem volta. Até porque, qual dirigente ou político teria coragem de bradar contra a lei que proíbe o álcool nos estádios? Nenhum! Para pôr em risco os votos dos carolas e dos conservadores? Deixa quieto...
Assim, a onda avançou, forte, molhando e apagando os cigarros, que também foram banidos de lugares fechados e públicos. Agora por último, o cidadão que no intervalo do jogo, nervoso, sedento por tabaco, em lugar afastado dos outros, já acossado pela lei anti-fumo, pega seu isqueiro e pensa em dar um trago, é logo admoestado pelos auto-falantes: “torcedor não fume, pena: interdição do estádio”.
Opa, mas fumante também é gente, onde estão os fumódromos deste lugar?! Grita ele perplexo, irritado, pisando, rasgando e apagando o cigarro no meio. Fumantes menos desesperados e irritados diriam: Mas o Couto é aberto meu Deus! O que é que tem demais?
Os que não fumam adoram, e de fato, até um fumante se incomoda com a fumaça do cigarro alheio.
Mas a questão é outra: qual será o próximo alvo do tsunami da moralidade e da legislação em prol da família brasileira? A proibição da venda de comidas gordurosas em estádios para proteção da saúde e defesa da economia pública e seus gastos com o SUS? Os dependentes de gordura “trans” e esfomeados de plantão iriam à loucura, ainda mais com jogos às 19h30 e outros às 22h.
A proibição de venda de bebidas que não tenham alto teor protéico e nutritivo como refrigerantes e sodas? Seria o fim da geração coca-cola.
Talvez estes sejam os próximos passos. E, daqui a alguns anos, quem sabe, com todas estas medidas, um jogo de futebol se torne tão civilizado e seguro quanto um chá das 17h no Clube das Senhoras. Sem cigarro, sem cerveja, sinalizadores, fogos de artifício, com torcida única, enfim, uma festa.
Pra que perder tempo com projetos de conscientização ou segurança? Povo se educa é com proibição.
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