Futebol: Razão x Emoção
Isto mesmo senhores! Vocês que, como eu, estavam acostumados a acompanhar as partidas do Coxa no clássico setor de muito boa visão, preparem-se para mudar para a curva. Aquela mesma, ali do lado esquerdo, que nunca ninguém frequenta.
Explico. As reformas da Mauá não serão feitas para beneficiar e prestigiar os abnegados sócios do setor, pelo contrário, será feita para destituí-los de sua posição. Ali onde hoje é a reta da Mauá virará Setor Pro Tork, por cuja cadeira cada Coxa branca terá de pagar R$750,00 (podendo chegar a R$1.000) em até 10x, e, depois da cadeira entregue, a absurda mensalidade de R$ 249,00.
Confabulando com amigos meus, chegamos à conclusão de que tão aviltante preço não pode ser obra e ideia de um único mandatário, mas sim de um grupo de economistas e marqueteiros sob o seu comando que, certamente, após vasto estudo de mercado, creem que os torcedores Coxas têm bala na agulha para bancar este novo setor, que tem camarotes no valor anual de até R$ 459.000,00 – não sou eu quem está dizendo, está no site oficial do Clube: http://www.coritiba.com.br/portal/2013/06/10/garanta-ja-o-seu-novo-lugar-no-setor-pro-tork/
Nesta conversa entre amigos, concluímos, entretanto, que uma parcela importante do quadro associativo do clube não foi consultada, os sócios da Mauá, que assim que começarem as obras podem dar adeus àquela reta, de onde por tantos anos, viram orgulhosos nosso Coritiba.
Por isso fica o recado, se você gosta de ver jogo nas laterais do gramado, é sócio da Mauá e não quer pagar o triplo do preço para desfilar neste novo setor, corra para as sociais, uma vez que este setor possuirá mensalidade R$86,00 mais barata do que a que será cobrada no novo setor. Ou mude pra arquibancada, onde ainda também tem vagas de sócios disponíveis.
LADO BOM DA MUDANÇA
Como tudo tem um lado bom, esta situação também. Se o pessoal que hoje frequenta a Mauá não se incomodar em assistir aos jogos na curvinha renegada, e se novos sócios mais abastados comprarem todas as cadeiras e camarotes no Setor Pro Tork, quem ganha é o Coritiba, que terá, obviamente, mais torcedores no estádio e mais cash em caixa.
MAIS UM LADO NEGATIVO
Além das coisas ruins já explanadas acima, outro lado negativo é que o Couto terá mais um setor elitizado, capitalista e mercantilista. Meu amigo Heitor mandou-me texto por e-mail, que trago agora aos senhores ipsis litteris, pois certamente é reflexo do sentimento de muitos de nós:
“É com grande dor no bolso e me sentindo estuprado na alma e forçado a querer trabalhar mais do que eu trabalho pra poder ganhar mais do que eu ganho que eu vos comunico que fiz a mudança ontem para as cadeiras superiores...
Não, não estou satisfeito... O futebol vem se transformando em um entretenimento caro e depois que um ex banqueiro assumiu o Coritiba, viu que pode colocar preço na paixão dos torcedores, que eles vão pagar...
(..)Como exemplo, fiz entrevista pra advogado Junior num escritório que Vilson era sócio, em 2010, o inicial era R$ 1.100,00, com disponibilidade pra trabalhar depois do horário e aos sábados, sem 13º, sem p... nenhuma...
O Vilson deveria saber que é este tipo de gente (advogados juniores do escritório dele) que ele está empurrando pras curvas apertadas onde mal se vê o jogo...
E a atendente da central de relacionamento de sócios me perguntou “mudança pra cadeira superior senhor?” e eu jocosamente respondi “pro setor protórque é que não dá né moça...”, ela apenas sorriu com canto de boca e uma certa empáfia, na certa pensando “que pobre chato”.
E enquanto eu ia embora, um pai com um filho adolescente, negociando coisas inegociáveis com a atendente irredutível. Parecia estar chorando um financiamento no banco....
E é isso que o nosso Coxa virou, um banco...
ASPECTO JURÍDICO
Não há dúvidas que a relação existente entre torcedores e clube é amparada, além do estatuto do torcedor, pelo Código de Defesa do Consumidor. Sob a égide desta Lei caberiam ações de obrigação de fazer, não fazer, ou mandados de segurança preventivos dos atuais sócios da Mauá a fim de garantirem sua cadeira no novo setor pro tork. De acordo com o Código Civil, seria possível uma denúncia da obra, propugnando seu embargo judicial uma vez que a mesma prejudicaria suposto direito adquirido dos torcedores.
As defesas do Coritiba seriam muito provavelmente as seguintes: a) a parte curva da Mauá sempre foi setor Mauá, então, em tese, ninguém está tirando ninguém de setor nenhum; b) os custos da obra justificariam o aumento de preços. c) a velha nova máxima: sem dinheiro hoje em dia, não se faz futebol.
Enfim, seria um embate jurídico interessante, cujo vencedor não ouso arriscar, principalmente tendo em conta a disparidade de julgados que encontramos numa mesma instância, onde vigora a seguinte máxima: cada cabeça (de Juiz) uma sentença.
Para que fique claro, não estou incentivando ninguém a acionar a Justiça contra o Coritiba, principalmente neste momento em que o Coxa se encontra com um elenco bom e na liderança do brasileiro. Eu mesmo e meus amigos já mudamos de setor e não temos esta intenção.
Porém, como membro de um site muito visitado, e por não ter rabo preso com ninguém, como já diria o falecido Dalborga, sinto-me na obrigação de esclarecer estas coisas aos senhores. E se você torcedor sentir-se injustiçado, é a Constituição Federal em seu artigo 5º quem lhe garante o direito de acionar o Poder Judiciário:
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
Saudações Alviverdes!
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