Futebol: Razão x Emoção
Que ano terrível. Em todos os cantos agruras, penúria e quebra de encantos.
Ídolos iludidos iludindo fãs consumidos pelo desejo de mudança. Ano de premiar a incompetência, laurear a negligência, lamentar os macias e enlamear as bacias. Ano das grandes verdades, da presunção de inocência atrás das grades; ano de conchavos, e das traições entre compadres.
Ano do mundo justo. Na final dos paulistas o flamenguista é quem dá o susto. Avisando o planalto que quem manda na planície conhece da mesquinhez, da charlatanice e defenderá seu poder a todo custo. Um ano em que as coisas nunca foram tão claras, de pessoas com tantas caras, de inquéritos, processos, varas e de notícias alegres muito, mas muito raras.
Ano em que um ano novo há muito não era tão querido. Em que nos arrastamos em campo, no campo e na cidade. E por mais que crise no Couto não seja novidade, ainda não acabou. Ainda tem retrospectiva, especial do Roberto e show da virada. E logo vem 2016 e começa mais uma vez o ano da tragédia anunciada, pondo a pá de cal no exercício em que o país do futuro deu mais uns passos rumo ao passado, e mais uma vez desaprendeu com o que deu errado.
Ano da arbitragem e da cartolagem da malandragem sem fim. Tanto que o árbitro destaque é um parrudo mandraque que ainda errou a nosso favor. Até que enfim.
Um ano de mais fases que meses e de lavar lentamente a alma a jato. Ano do poste urinar no cachorro e da ratoeira render-se ao fato. Ano do silêncio dos inocentes, do julgamento dos sujos pelos imundos, e das denúncias dos acusados. Ano dos contrários e, como sempre, da inflação como solução e das greves por salários. Na aldeia, ano dos infratores e das surras em professores. No globo, ano da união do mundo livre em defesa dos ditadores, ano dos vigaristas deuses da guerra contra o estado dos terrores.
Ah Coxa, não poderia neste ano ter mais justo fim. Na lama, sendo coadjuvante de um moribundo Vasco, jogando mal num zero a zero em casa e fazendo sua torcida festejar gol do Corinthians. Galvão diria: “Acabou!! É tetra!!!” Em referência aos 4 anos consecutivos de conquistas inglórias da permanência na série A.
Coxa esse ano que teve de tudo, de propinas eleitorais a indomáveis diálogos virtuais. E de todos: Medina, Guerra, Pedroso, Guerra, Macias, Ney, Marquinhos, Bacellar, pra acabar sendo Pachequinho a nos salvar. Obrigado Pacheco! De todos esses nomes o seu é o único que vale citar.
Devolveu-nos o brio, as vitórias fora, a capacidade de atacar e adaptar-se às situações táticas durante o jogo; o que só grandes treinadores sabem fazer. Findando um ano qualquer, completando mais um aniversário miserável de nosso maior sucesso. No futuro tecnológico de Marty Mcfly o Coxa repete fórmulas administrativas ultrapassadamente fracassadas.
Bacellar renunciar seria bom, mas não resolveria o caso. Poderia, contudo, retirar a casca e expor a ferida profunda que corrói o tecido alviverde: sua estrutura conselheira. Métodos da República velha - ou do café com leite, como queiram - baseados na alternância simbólica de membros da mesma elite, no clientelismo e no compadrio. Na gestão de ocasião, e no planejamento que dura até a data da eleição.
E de maquete em maquete, de herança em herança, segue aflita a massa verde branca. Que também, sinceros sejamos, não participa veementemente. Insufla, agita mas nada de associar-se de forma minimamente suficiente. 2003, 2011, 98, e outros que talvez esteja esquecendo são as ilhas de alegria nesse mar de tristeza que transformou o alto da glória em monte do calvário. Mas, que se faz? Em 2016 tem mais. Sul Minas-Rio, copa, brasileirão e estaduais. Teremos do mesmo mais?
Vai te embora ano maldito! Dê logo seus últimos suspiros! Ano em que a esperança virou medo, companheiros inimigos, revelados segredos e até a zica virou vírus.
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)