Futebol: Razão x Emoção
Em 1956, no dia 30 de abril, ou ao menos é isto que diz seu registro, nascia um sertanejo.
Na região metropolitana de Guanambi, distrito do Limoeiro, interior da Bahia, a parteira da região dava à luz Otacílio Pereira Melo.
O décimo filho do velho Rosalvo, não era bem o que a família precisava naquele momento, por isso ele foi dado ao seu tio Deraldo, que precisava de mais gente para cuidar da pequena lavoura de algodão.
Otacílio, ou simplesmente Ota, cresceu então numa casa sem luz elétrica, sem água encanada, e com banheiro comunitário dividido por mais quatro famílias.
Dentre as brincadeiras, chutar bola era sua preferida, e apesar de não ter time, e sequer saber o que era futebol profissional, pois o rádio raramente transmitia, tampouco sabia o que era televisão, não perdia uma pelada de domingo disputada entre os lavradores da região.
Cansado do trabalho braçal, e ajudado por seus irmãos mais velhos que já haviam ido embora tentar uma vida melhor no sul, como tantos outros milhões de nordestinos, Ota veio a São Paulo. Não gostou muito do lugar, achou muito barulhento, tampouco teve sorte em encontrar trabalho.
Como seu irmão Luis, tinha aberto uma charutaria em Curitiba, decidiu vir ainda mais para o Sul. Era o ano de 1973.
Luiz, que já morava em Curitiba, assim como outro irmão de Ota, Tida, haviam escolhido o time errado pra torcer, e levaram o recém chegado baiano para um atletiba na torcida rubro-negra, crentes de que haviam arregimentado mais um para o seu “bando”.
Mas, mesmo estando na torcida que festejava a derrota Coxa por 2x1 em pleno Alto da Glória, Ota não teve dúvida: daquele dia em diante seria um coxa-branca. Primeiro porque jamais gostou da junção do preto com o vermelho, segundo porque, bom, não sabe explicar bem o porquê. A verdade é que sentiu-se coxa branca desde o início.
Tentou inclusive jogar no Coxa, fazendo testes e peneiras, mas Ota não era propriamente o deus da bola, e como não tinha nenhum “padrinho”, foi rejeitado.
Após longo período trabalhando com seu irmão, conseguiu em 1980, emprego na empresa Perdigão, onde esta até hoje, sendo um de seus funcionários mais antigos, com 33 anos de casa.
Ota casou-se, teve um filho, descasou-se, casou-se de novo, e hoje reside em Guaratuba com sua amada Cleo, a uma quadra do mar. Do sertão ao atlântico, a odisseia vitoriosa de um brasileiro, um coxa, que apesar da distância, segue de perto as coisas do time do coração, sendo prova viva da “torcida que nunca abandona”.
Feliz aniversário baiano! Obrigado por me fazer coxa-branca!
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)