Futebol: Razão x Emoção
Maurinho Eterno. Jefe Eterno. Paulo Eterno. A família Eterno no Brasil é tão grande quanto a Eterna: Violência eterna, estupidez eterna, impunidade eterna. Não dá mais para tolerar esse tipo de morte. Ou agimos sério e logo contra isso, ou criemos de uma vez um novo critério de desempate: mais torcedores mortos em confrontos entre organizados e policiais.
Obviamente que os torcedores que saem de casa dispostos a brigar e arriscar as suas vidas e de terceiros por causa de um jogo de bola não são iguais a policiais que são servidores do Estado, teoricamente treinados, para teoricamente, servir e proteger.
Mas algo os torna iguais quando se encontram e tomam suas posições em seus “bandos”. É cientificamente comprovado que em grupos, o indivíduo age como não agiria se sozinho estivesse. Torcedores e policiais são iguai porque é também provado cientificamente que a uniformização e a desindividualização tornam os seres mais corajosos e mais engajados, mais dispostos a agir contra a integridade do seu próprio corpo físico em prol de uma “causa”. Se assim não fosse, por que os exércitos teriam uniformes, e os “bárbaros” pintariam-se para as guerras? A situação de confronto e estresse iguala torcedores e policiais, que, num ato de ataque ao outro e defesa se si mesmos, esquecem-se, os torcedores, de suas vidas, e, os policias, de seu treinamento e sua missão social. A batalha autoriza a barbárie e o excesso. E a sociedade por sua vez, acostumada com isso, tolera o absurdo e banaliza o evento mais abrupto contra vida: a morte.
É cansativo falar sobre o assunto, e só este ano acredito que já tenha escrito dois textos sobre o tema, mas, é necessário. O Brasil segundo estudo de 2016 ( carece ser atualizado) é o país onde mais morrem torcedores. De futebol, claro, porque ninguém mata e ninguém morre em jogo de vôlei, golfe, ou polo. Após a pandemia, e aquela sensação de que a vida seria mais valorizada, tudo piorou. A agonia de ficar recluso parece ter aumentado a sanha de sangue dos torcedores.
A solução? Nada simples. Mas passa por tipificar severamente e facilitar o procedimento punitivo do crime esportivo e punir o clube esportivamente por conta do comportamento de seus torcedores fora de campo.
A pior solução é extremar os conceitos e defender cegamente a PM, legitimando atos de excesso, bem como não chamar esses torcedores de torcedores, alegando que são marginais, bandidos e etc. Não são! A imensa maioria não é. É pai de família que trabalha a semana inteira e no fim de semana veste sua pele de alce, pinta a cara de azul, preto, vermelho, verde, branco e sai para exorcizar os seus demônios.
Torcedores organizados e PMs são igualmente exemplos de nossa sociedade doente repleta de indivíduos presos em si mesmos e em suas vidas que, de tão sofridas, os faz racionalmente optar por brigar com seu semelhante e até mesmo contra o aparato repressor estatal que está ali justamente para matá-lo se preciso for.
O policial por sua vez também se sente no direito de se enervar porque, afinal, passou a semana a inteira correndo atrás de bandido e arriscando sua vida por algo sério, com um salário não condigno dos riscos que ocorre e anda tem de ser babá de marmanjo e tolerar insultos e pedras de quem não sabe torcer.
Policiais e torcedores organizados são diferentes. Mas são igualmente humanos e igualmente responsáveis por seus atos reflexos da latente tensão social existente. Alimentada pela atmosfera da batalha, pelo medo de se ferir, de morrer, pela cultura do "bandido bom é bandido morto" e, claro, pelo abuso do álcool.
@fernandoschumakmelo
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