Futebol: Razão x Emoção
Uma derrota acachapante fora de casa infelizmente não é novidade para o torcedor coxa-branca. Nos últimos vinte jogos, como dito no programa 12e10 do coxanautas – veja no youtube – conquistamos apenas uma vitória. Se o problema está longe de ser culpa exclusiva de um treinador, a situação do atual está cada vez mais complicada. Seja por suas escolhas duvidosas de escrete titular, seu esquema complicado, ou por seu comportamento nas coletivas.
Mas antes de começar a fustigar nosso treineiro, um apontamento geral é necessário. Gabriel em sua coletiva após o jogo disse que atletas estão tendo dificuldades em entender o que o treinador pede. Mais do que explicar, as declarações do goleiro geram dúvidas: seriam os atletas incapazes de entender por que são limitados intelectualmente, ou com relação aos fundamentos do jogo? Seriam as táticas de Antônio ou sua didática ruins e incompatíveis com os “alunos”? Ou estariam os jogadores de má vontade para com o treinador, em busca de sua queda?
Seja como for, é uma chaga do futebol em geral demitir treinador por conta de maus desempenhos dos atletas. Numa empresa comum, quando os funcionários vão mal, estes são demitidos. No futebol, demite-se o chefe. O poste geralmente mija no cachorro. Será preciso o Coritiba em algum momento inverter essa lógica, que passa necessariamente pela implantação de uma filosofia de trabalho institucional. O Coritiba deve implementar, como clube, do sub-12 ao profissional, um modo de jogar. Deve buscar formar seus treinadores e ter algo como uma categoria de base de técnicos. Enquanto isso não for posto em prática, ficaremos à mercê dos humores dos atletas, e do mercado oportunista de treinadores e seus empresários.
Feito o aposto geral, voltemos ao problema específico e urgente. Como professor, sei por experiência que conhecimento não basta para fazer de quem quer que seja um grande mestre. É preciso, acima de tudo, uma boa didática. A culpa raramente é dos alunos, pois, são raros os desinteressados. Os que têm alguma dificuldade geral ou específica de aprendizado, devem ser tratados de modo diferenciado, tendo respeitadas suas peculiaridades. É esse aliás o grande desafio da docência, e o que faz dela ao mesmo tempo apaixonante, estressante e desafiadora.
Antônio Oliveira está há meses no comando do alviverde e ainda lutando para dar um padrão de jogo. O esquema que mostrou após a inter-temporada não é simples, e tem variações de posição e atitudes dos atletas com e sem a bola. Exige uma leitura de jogo e um raciocínio rápido dos que estão em campo, sob pena de a defesa ruir e o ataque tornar-se inoperante. O treinador pode ter ideias de gênio, mas se não reconhecer as limitações do material humano que tem em mãos, estará fadado ao fracasso.
Não acho Oliveira um gênio, acho sim que o esquema dele é complicado, e, se tem algo que aprendi ao longo desses 30 anos acompanhando o futebol, é que o mais bonito e difícil é fazer o simples. É inclusive o que gênios fazem, tornam o complexo fácil, e o impensável rotineiro. Somemos à intransigência sobre suas convicções as entrevistas arrogantes, os sorrisos tão largos quanto inapropriados, e o fato de não conseguir utilizar jogadores reconhecidamente talentosos como Kaio César e Marcelino Moreno, e temos um treinador na berlinda. Se a diretoria optar pela demissão, que seja logo, e que se traga alguém de peso. Apesar de ficar no banco, treinador não é contratação para compor elenco e ser aposta. Ainda mais com competições tão importantes já em andamento. É preciso investir bem, e de modo certeiro.
Para finalizar, voltemos ao título. Glenn esteve na coletiva para mostrar duas coisas: que a diretoria apoia o trabalho tanto quanto espera e cobra resultado. Antônio Oliveira está, portanto, prestigiado, o que no futebol significa estar “com o seu na reta”. Alguém de fora poderia pensar: legal, a diretoria está presente, cobrando, acompanhando de perto. Entretanto, como à esta altura, ninguém sabe quem manda no Coxa, se a diretoria eleita, ou se os futuros (atuais) investidores, a presença do cartola se torna um ponto de interrogação. Ele está ali para cobrar de fato, ou apenas como pau mandado e moleque de recados do chefe dinheiro? Antônio Oliveira é opção da diretoria ou da SAF? Não sabemos. O que sabemos é que nem SAF, nem diretoria, nem macumba sustenta treinador incompetente. E competência no futebol, infelizmente não é apenas trabalho todo dia, mas três pontos a cada três, quatro.
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