Futebol: Razão x Emoção
Pegar o Inter significa às vezes ir do terminal do Portão ao Campina do Siqueira. Para muita gente, pegar o Inter significa sair do ponto A e ir ao ponto B, que pode ser a casa da pessoa amada, o trabalho que paga mal, ou o templo. Pegar o Inter implica em encontrar os “amigos de ônibus” - só quem pegou muito ônibus sabe como é - você dá bom dia, fala do clima e coloca o fone em seguida pra poder dormir um pouco mais ou escutar o som preferido. Pegar o Inter significa a certeza de um passeio em pé, apertado, suado, cansado, com os vidros fechados evitando frio e garoa, mas sempre com a esperança de conseguir um lugar para sentar.
Pegar o Inter no domingo para muitos, entretanto, é incomum, pois que é dia de descanso, de ir ao parque, ou qualquer outro destino que o tradicional Inter não leva. Para nós coxas-brancas pegar o Inter significa enfrentar mais uma duríssima batalha na luta contra o rebaixamento. Salvo a do nosso treinador, não temos mais gordura para queimar; o IMC do Coxa é baixíssimo. Somos pele e osso. Pele, osso e coração, órgão único capaz de oxalá, nos fazer escapar de mais um vergonhoso descenso.
Eu já peguei o Inter várias vezes. Peguei o Inter em uma semifinal de copa do Brasil e perdi, junto com a chance de ir à final com aquele time do René Simões. Peguei o Inter uma vez, eu, coxa-branca, voltando de uma final da Copa Sul, - ou Sul Minas, sei lá - entre o extinto Paraná e o Grêmio, lá no Pinheirão. Não me lembro quem ganhou, mas me lembro de estar dentro do Inter e ser alvejado por pedras, paus e quase sofrer um traumatismo craniano. Lembro-me do desespero das pessoas dentro daquele Inter.
Este Inter de domingo chega a Curitiba dirigido por um motorista que andava renegado, contestado, quase aposentado, mas que vem fazendo um bom trabalho com um material bem limitado. O Colorado está em segundo lugar no Brasileirão com 60 pontos, oito atrás do Palmeiras. O Coxa ocupa o 15º, com 34. O Inter disputa um título improvável contra o Palmeiras, e a obtenção da vaga direta à fase de grupo da Libertadores, o que já seria um feito incrível e que deve ocorrer, já que está 9 pontos à frente do 6º lugar, futuro vice-campeão da copa Libertadores. Basta ver a provável escalação do time gaúcho e perceber que não há nenhum nome de peso: Keiller; Bustos, Rodrigo Moledo, Vitão e Renê; Johnny, Edenilson, Carlos de Pena, Alan Patrick e Pedro Henrique (Wanderson); Alemão. Um amigo sábio disse: "O Coxa está tão “zicado” que o Inter contrata o Alemão do Novo Hamburgo e o cara desanda a fazer gol, e nós contratamos o destaque do Ypiranga de Erechim, Porfírio, e o cara não é um lateral esquerdo, mas sim um zero à esquerda. Isso sem falar na lesão de Andrei, do goleiro Gabriel, etc.
De todo o modo nós devemos entrar nesse bonde com o que temos de melhor, e como sempre, sem muito banco, tendo de resolver no limite do esforço técnico e físico dos titulares. A fragilidade do final da temporada da série B passada, baseada no desgaste físico, aparece nesta reta final nesta Série A também. Normal que seja assim, afinal, estamos sempre disputando o jogo das nossas vidas. No limite do fôlego, da capacidader de racionício e, muitas vezes, ainda perdendo por conta da superioridade técnica e tática de nossos adversários.
Domingo estaremos no alto da Glória. Esperançosos por um passeio tranquilo, mas sabedores de que o trajeto, pra ficar no Sul, é tão sinuoso quanto a serra do rio do rastro. Pegaremos o Inter, isso é certo. Incerto é para onde o Inter irá nos levar.
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