Geração 90
Um dos aspectos mais fascinantes do futebol é a forma como o esporte permite que dois times de diferentes patamares financeiros e técnicos se igualem, fazendo com que a competitividade exista até nos confrontos mais díspares. Afinal nenhum outro esporte permitiria a uma seleção como a Macedônia do Norte eliminar uma Itália da Copa do Mundo, ou um time como o Globo-RN, com uma folha salarial de R$ 80 mil/mês, eliminar o poderoso Internacional-RS da Copa do Brasil.
Porém, essas surpresas são mais suscetíveis de acontecer em confrontos de mata-mata, pois nenhum time frágil consegue jogar no limite técnico e físico por muitas partidas seguidas. Nos torneios de pontos corridos, onde a força dos times é provada por múltiplas vezes, não há margem para zebras, porém isso não quer dizer que times desacreditados não possam alcançar o sucesso. O caso mais extremo disso é do fantástico Leicester City, campeão da Premier League na temporada 15/16.
E qual é o segredo dessas equipes, que mesmo nos torneios de pontos corridos conseguem resultados consistentes como o Fortaleza, quarto colocado do Brasileirão na temporada passada? Pagamento em dia? Organização administrativa? Trabalho de longo prazo? Estádio cheio? Sim. Todos esses fatores são importantes. Mas na minha avaliação, o mais importante de todos é a simbiose entre comissão técnica e atletas. É ela que proporciona a motivação, a confiança individual, o entrosamento, a harmonia do vestiário, e que inibe panelinhas e práticas desagregadoras. Apesar de não ser o maior fã do Tite, devo reconhecer que ele é um mestre em desenvolver essa dinâmica, que passa por se tornar um paizão dos atletas, e ao mesmo tempo impor respeito aos jogadores, convencendo-os de comprar sua ideia.
Na entrevista coletiva de Andrey nesta semana (link aqui), quando perguntado do relacionamento do treinador Morínigo e da comissão técnica com o elenco, o jogador deu todos os sinais de que este aspecto anda muito positivo pelas bandas do Alto da Glória. Descreveu com bastante satisfação o clima que existe hoje no grupo de jogadores, citou a seriedade com que a comissão técnica comanda os trabalhos, aliada a momentos internos de descontração e brincadeiras.
Esta talvez seja uma das maiores qualidades que o Treinador Gustavo Morínigo demonstrou até agora no Coritiba. Por mais que persistam ressalvas ainda quanto a algumas opções táticas do técnico paraguaio, é inegável que ele conseguiu formar uma família com os atletas e implementar uma gestão de grupo muito eficiente. Suas análises sempre tratam do coletivo, nunca do individual. Suas entrevistas são frustrantes para os jornalistas pois nunca dão munição para a imprensa criar factóides, tampouco pra geração de polêmicas. Independente do resultado, suas narrativas são sempre sérias, pautadas no trabalho e na melhoria contínua.
A cada entrevista com jogadores, percebe-se um enorme respeito e confiança dos atletas no trabalho do treinador. Morínigo, com o devido apoio e suporte de Renê Simões e Paulo Aquino, tem exercido um bom controle sobre o grupo, trabalhando em especial com aqueles atletas que não jogam regularmente, prova disso é que não tivemos um caso sequer de indisciplina até agora nesta temporada, mesmo entre os atletas que possuem históricos negativos neste aspecto.
Este trabalho conjunto, focado no profissionalismo e na união do grupo, é o grande trunfo do Coritiba neste Campeonato Brasileiro. Por mais que tenhamos bons valores individuais, estamos longe de ter o melhor elenco da competição, e precisaremos de um algo a mais para prevalecer sobre times com maior poder aquisitivo. A estreia contra o Goiás foi maravilhosa, e serviu de grande motivação para a torcida e para todos no clube. Mas sabemos que numa série A de pontos corridos, o buraco é bem mais em baixo, e o Coritiba vai precisar mostrar um repertório muito maior pra alcançar seus objetivos na competição.
E para alcançarmos a regularidade de desempenho e resultados, que nos manterá na séria A, e quem sabe nos dará uma vaga numa competição internacional, a força do conjunto precisa se sobressair. Tecnicamente já sabemos o que esse elenco tem a oferecer, bem como a margem que cada atleta tem a evoluir. Resta saber se a força do grupo prevalecerá nas difíceis batalhas que enfrentaremos para vencer essa guerra, que é a Série A para o Coritiba. A próxima já é domingo, contra o Santos na Vila Belmiro. Eu aposto na força do Coritiba. E você? Pra cima deles COXA!
Dá-lhe Coxa!
Saudações Alviverdes!
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