Geração 90
Esta semana assisti dois vídeos que me fizeram relembrar um pouco do início da minha vida como torcedor do Coritiba. Um deles foi o relato dos Helênicos acerca da conquista do Festival Brasileiro de Futebol em 1997 (clique aqui), e o outro foi o fantástico vídeo produzido pelo Coxanautas sobre o top-5 dos ídolos alviverdes de todos os tempos (clique aqui).
Torcer para o Coritiba definitivamente foi algo difícil pra quem iniciou nessa vida nos anos 90. Ainda sofrendo as consequências da canetada da CBF no ano anterior, abrimos a década perdendo o estadual de forma bizarra para o rival, com direito ao gol mais contra que já existiu no futebol.
No ano seguinte em 1991, fomos muito mal no estadual e o revoltante assalto em Campinas impediu o que seria um crucial retorno a série A. De 1992 a 1994 o Coritiba passou por um período obscuro de sua história, jogando contra equipes de baixo nível, em campos horrorosos, e nem chegando perto de conquistar qualquer título. Definitivamente, uma época para esquecer.
Em 1995 a coisa começou a mudar um pouco de figura. No Paranaense, aplicamos uma goleada mais do que histórica no nosso maior rival e voltamos a chegar pelo menos em uma final, perdendo a taça num jogo até hoje difícil de acreditar. O inesquecível acesso a série A veio depois de muita emoção e com mais uma goleada sobre o time lá de baixo. Apesar do objetivo maior alcançado, deixamos escapar o título nacional no interior paulista na rodada seguinte daquele quadrangular.
Em 1996, nada parecia nos tirar o título estadual. Mais uma vez ficamos no quase. Depois de duas temporadas participando de campeonatos brasileiros da séria A de forma bastante regular, o ano de 1997 reservou um torneio de encerramento da temporada, patrocinado pelo SBT. Foi um dos primeiros campeonatos televisionados que tenho lembrança, pois até então era raríssimo ver o Coritiba na TV aberta. Depois de boas vitórias sobre São Paulo e Vitória, decidimos e vencemos a final contra o Botafogo, nas penalidades. Finalmente, meu primeiro título como torcedor. Apesar de viver uma alegria imensa naquele momento, o sentimento era que faltava um campeonato estadual (que naquela época valia muito).
Em 1998 fomos bem no Paranaense. Depois de 8 anos a final voltou a ser um atleTIBA! Finalmente o pentacampeão Paraná Clube que arrebatava jovens torcedores estava eliminado. A disputa final seguia acirrada até a terceira partida, quando infelizmente Régis desperdiçou um pênalti estratégico no início do jogo, e o resto não precisa ser contado. No Brasileiro, de forma surpreendente fizemos uma das melhores campanhas da história, sendo o time que menos perdeu no campeonato. O Coritiba classificou em terceiro lugar e reascendeu o orgulho do torcedor alviverde. Quando tudo parecia conspirar a favor, um erro individual num contra-ataque desperdiçado por Claudinho, fez o sonho do Bi-Campeonato Brasileiro ir por água baixo, dando a chance que a Portuguesa/SP precisava para empatar aquele jogo e tirar o Coritiba da semifinal.
O último ano desta famigerada década começou da pior forma possível. Derrotas, demissão de treinador, e goleadas humilhantes. O carma parecia não ter fim. Mas eis que a chegada de Abel Braga colocou o Coritiba nos trilhos e depois de uma fenomenal recuperação, aquele elenco conseguiu oferecer ao torcedor geração 90 finalmente o privilégio de comemorar um título importante, de extravasar, de tirar o grito preso na garganta e lavar a alma, após vencer dois atleTIBAS nas semifinais e derrotar o rico e poderoso (naquela época) Paraná Clube nas finais.
Não apenas o torcedor geração 90, mas todos os Coxas Brancas que viveram essa época foram um exemplo de resiliência e amor ao clube, sendo símbolos autênticos da Torcida que Nunca Abandona, como disse Flávio Soethe dos Helênicos, e como lembrou Marcelo Carneiro do Coxanautas, em seus vídeos.
Talvez essa seja uma das nossas maiores semelhanças com os ingleses que inventaram o futebol, e que agora são nossos mais novos parceiros. Lá na terra da rainha, torcer para um time de futebol é um conceito, um estilo de vida, completamente imune a derrotas e frustrações. Lá não existem os sócios de conveniência ou de resultado. Um dos maiores exemplos disso que eu vi nesta temporada foi a torcida do Leeds United no jogo contra o Arsenal em Londres, já na reta final da Premier League. O time perdia por 2 x 0, e teve um jogador expulso, tudo isso com apenas 25 minutos de jogo, entrando naquele momento na zona de rebaixamento. Mesmo assim o que se viu foram cerca de 5.000 torcedores do Leeds cantando e gritando sem parar, deixando o narrador da ESPN espantado. O time acabou perdendo, mas chegou a descontar ainda na primeira etapa e por pouco não empatou, jogando na base da raça, empurrado por seus resilientes torcedores.
O fato é que o torcedor é o verdadeiro patrimônio de qualquer clube de futebol. É graças a nossa torcida que o Coritiba sobreviveu a década de 90 e aos últimos anos que também não tem sido fáceis. Mas através da adesão definitiva de milhares de sócios Coxas Brancas, a instituição vem renascendo, e tendo condição de melhorar o rumo da nossa história.
O que devemos sempre lembrar é que somos sócios do Coritiba, não desta Diretoria, não deste elenco, não desse momento. O termo “torcedor” em inglês – supporter – remete a idéia de suporte, dar apoio. Que continuemos a ser o grande suporte incondicional deste clube grandioso, e que o futuro reserve momentos mais gloriosos a abnegada e resiliente nação Coxa Branca.
Dá-lhe Coxa!
Saudações Alviverdes!
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