Geração 90
Estava eu redigindo na noite da última quarta feira coluna intitulada “Acabou o amor” tratando da necessária frieza ou ausência de emoção para de contratar jogadores e gerir um clube nos dias de hoje. Mal sabia eu que estava para acontecer na manhã seguinte um evento correlato ao tema que abalaria de certa forma as estruturas no Alto da Glória.
Na manhã da quinta feira surge a notícia de que Rafinha não interessava mais ao clube e que o mesmo teria sido informado pela Diretoria que seu contrato seria rescindido. A informação causou imediatamente muita comoção em toda a torcida, em especial aqueles torcedores “sub-40” como eu, que tem a imagem do jogador diretamente ligada aos melhores momentos do clube nos últimos 30 anos (2010 – 2013).
Aproveitando ainda um pouco do contexto da coluna anterior, e com base apenas nas manifestações oficiais tanto do jogador (entrevista coletiva), quanto do clube (nota do Renê Simões), avalio o episódio da saída de Rafinha sob dois aspectos:
1) Numa análise fria dos fatos, o mérito da decisão tomada pela Diretoria tem fundamentação. O jogador não iria renovar contrato e não seria aproveitado no paranaense. Não faria sentido mantê-lo no elenco pois apesar da idade, Rafinha nunca teve um perfil de administrador de elenco, pelo contrário, sempre foi uma liderança mais técnica dentro de campo com um perfil mais apimentado fora dele. Além disso o atleta nunca lidou bem com o banco de reservas, fato reconhecido pelo próprio Rafinha na sua entrevista coletiva quando disse que não aceitava o banco de reservas embora respeitasse o treinador. Por fim, a alternativa de postergar a tomada de decisão poderia até atrapalhar os planos do próprio jogador, caso o mesmo ainda tenha ambição de atuar profissionalmente por mais um tempo.
Ainda neste viés, a forma como o jogador foi comunicado me parece correta, embora com algumas ressalvas. Digo isto porque o jogador foi chamado pela Diretoria pra conversar pessoalmente, não através emissários ou mensagens, onde foram devidamente expostos os motivos do clube que levaram a tomada da decisão. Por outro lado, notou-se uma flagrante incoerência da Diretoria Alviverde em chamar o atleta para esta conversa três dias após convoca-lo para a reapresentação do elenco gerando a expectativa no mesmo e na torcida de que o jogador seria aproveitado na temporada.
2) Já numa abordagem mais emotiva do tema, é incontestável que Rafinha merecia mais. Não apenas pelo número de jogos, não apenas pelos gols. Mas pela história que construiu dentro do clube. O que os dirigentes ignoraram ao tornar sua despedida um evento qualquer, é o fato que Rafinha foi o baluarte de momentos críticos da história Coxa Branca.
Ele foi um dos responsáveis por liderar o elenco de 2010 que nos tirou de uma terra arrasada, enfrentou todas as adversidades daquela temporada e nos devolveu a elite.
Rafinha quando teve oportunidade, não fez promessas de retornar ao clube. Ele simplesmente voltou. Retornou em 2019 quando o clube estava a 18 meses agonizando na segundona, e foi crucial para aquele acesso, marcando o inesquecível gol da vitória contra o São Bento, mesmo lesionado, jogando praticamente com uma perna só.
Em 2020, Rafinha no alto de seus 37 anos e vindo de lesão foi um dos poucos que honraram o manto alviverde, correu mais do que muitos piás e ajudou a evitar uma vergonha ainda maior.
Rafinha, mesmo já sem o mesmo poderio físico de antes, ainda ajudou (e muito) no elenco de 2021, que diante de várias limitações conquistou o importantíssimo acesso a séria A.
A conclusão de tudo isto é que o Rafinha fez bem para o Coritiba, e o Coritiba fez bem para o Rafinha. No momento que o jogador precisou agir com frieza pra processar o clube, processou. No momento que o clube precisou demitir o jogador, demitiu. Tudo isso faz parte do business.
Mas não podemos ignorar nosso sentimento de decepção pela saída do jogador ter se dado da forma tão conturbada como foi, pois independente da frieza que o “negócio futebol” está adquirindo, nada vai apagar a imagem do grande jogador que ficará para sempre na memória da grande nação Coxa Branca.
A imagem da raça, da entrega, da ginga, dos dribles, dos gols, dos títulos, das provocações aos adversários, enfim de tudo aquilo que ainda faz toda a diferença para aqueles que são a razão de existir do tal business, nós torcedores.
Muito Obrigado Rafinha!
Dá-lhe Coxa!
Saudações Alviverdes!
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