Geração 90
O termo francês “déjà vu” significa já visto e diz respeito à sensação subjetiva, mas intensa de já se ter presenciado ou vivenciado algo.
Torcer para o Coritiba tem sido sinônimo de um eterno “Déjà vu”. Toda temporada é a mesma coisa, renovamos nossas esperanças de que a mediocridade na gestão do futebol irá finalmente ser expelida do Alto da Glória, mas acabamos nos iludindo com resultados intermediários, frutos de espasmos aleatórios de bom futebol, que momentaneamente nos tiram da nossa difícil realidade.
A torcida do Coritiba nunca exigiu que o clube contratasse estrelas ou jogadores de grande destaque, pois era notório que não tínhamos orçamento pra isso. Tudo que pedíamos era um time competitivo, organizado, com um número uniforme de jogadores por posição, e que pudesse ao menos nos manter na primeira divisão, seguindo o projeto apresentado pela própria Diretoria.
Desde o início da temporada a gestão do futebol do Coritiba não fez a devida reposição nas pontas após as saídas de Rafinha e Waguininho. Restou apenas Igor Paixão como uma ilha de vigor físico e qualidade técnica no ataque Coritibano. Quando veio a janela e imaginávamos que Igor finalmente teria um companheiro a altura, o vendemos pela primeira proposta que apareceu, e como recompensa recebemos um atacante paraguaio veterano que não jogava a 10 meses.
Agora nesta posição, ficamos na dependência de Alef Manga, que desde sempre joga por ele e não pelo grupo. O vexame deste sábado foi o maior exemplo. Quando marcou o primeiro gol Coxa Branca ainda no início do segundo tempo quando ainda havia possibilidade de recuperação, o jogador ao invés de pegar a bola e correr para o meio campo como fez Egídio, saiu pra comemorar sozinho com a arquibancada quase vazia e mostrar seu número da camisa, como se o seu time estivesse goleando por 3 x 0.
Voltando a montagem do elenco, os erros não pararam por aí. Desde a metade do Campeonato Paranaense sabemos que o Coritiba não tem um goleiro de confiança, e nada foi feito. Observamos reiterados frangos de nossos arqueiros desde então, com a confiança de que a Diretoria traria logo um atleta mais qualificado chegar tomar conta da posição. Nada aconteceu. Quando veio um goleiro, já no segundo turno do campeonato brasileiro, este foi direto para o nosso Departamento Médico, local obscuro e nada transparente, chamado por alguns de caverna do dragão, em que nunca sabemos quando o atleta irá voltar.
No meio campo, passamos oito meses sem um meia articulador confiável e com boas condições físicas. Quando veio a janela, o máximo que conseguimos foi trazer um jogador encostado no Internacional, com alto histórico de lesões, e que pra variar, se machucou logo na primeira partida.
Além dos erros nas escolhas que culminaram na montagem equivocada do elenco, a impressão que se tem é que não há uma gestão firme sobre a postura de alguns atletas dentro de campo e fora dele. A falta de comprometimento de alguns deles ao longo da temporada era notória e nada foi feito. Coincidentemente após a saída do “fair play” do Coritiba alguns atletas foram afastados, mas um deles não gostou e reclamou nas redes sociais, e como presente foi reintegrado ao grupo. Esse é o mesmo jogador saiu do campo da Vila Belmiro quando fomos rebaixados em 2020, no maior clima de descontração, dando risadinhas ao lado dos “parças” da época de Santos.
Como se não bastasse isso, ao longo deste campeonato, a gestão do futebol foi aos poucos transferindo sua responsabilidade para o treinador Gustavo Morinigo, como se este fosse o único culpado da situação em que nos encontramos. Morínigo também cometeu vários erros e sua situação era, de fato, insustentável no clube. Porém, o paraguaio foi demitido e com ele foi também embora o bode expiatório de todos os problemas acumulados durante a temporada, restando os mesmos jogadores que nos trouxeram até aqui.
A goleada sofrida contra o Fluminense é o retrato desse “deja vu”. E me perdoem, mas não há otimismo que resista a repetição infinita das mesmas coisas, da mesma mediocridade, da mesma passividade, da mesma negligência. Agora, não adianta trazer um técnico e soltar a bomba em suas mãos, além de toda a responsabilidade da gestão do futebol, como fizeram administrações passadas. Para termos alguma chance de nos salvar, precisamos também de um diretor de futebol que conheça de vestiário, que tenha experiência em administrar o extra-campo, e que principalmente, jogue junto com o treinador.
Nas próximas cinco rodadas enfrentaremos o Avaí (C), América-MG (F), Atlético-GO (C), Botafogo (F) e Ceará (C). Se não vencermos pelo menos quatro desses cinco confrontos, o destino alviverde estará selado nesta temporada. A esperança do torcedor Coxa Branca se resume no momento a habilidade do novo treinador em administrar todo esse contexto e encontrar atletas com postura e acima de tudo condições técnicas de nos salvar do calvário mais uma vez. Só que Guto Ferreira, assim como qualquer outro treinador, não é mágico, e não resolverá o problema sozinho.
Dá-lhe Coxa!
Saudações Alviverdes!
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