Geração 90
Quando do acesso do Coritiba em 2019, muito se falou do “Jorginismo”, alcunha atribuída ao estilo de jogo utilizado pelo então treinador Jorginho naquele ano, baseado em colocar o time atrás e jogar por uma bola. Era um sistema de jogo de alto risco, feio de assistir, mas que naquele momento se mostrou eficiente e nos propiciou o acesso. Para quem conhece de bola, era difícil ouvir o treinador nas coletivas após os jogos, exaltando o “bom” futebol jogado pela equipe, mesmo em partidas que contamos puramente com a sorte naquela reta final, como por exemplo nos jogos fora contra o Botafogo-SP e São Bento, e nos jogos em casa contra Oeste e Guarani. Pra quem não se lembra, nestes jogos ganhamos com o placar mínimo levando um sufoco do início ao fim, contra times fraquíssimos, alguns rebaixados naquele ano.
Já na série A em 2020, experimentamos o “Barroquismo”, igualmente irritante, não tanto pela qualidade do futebol jogado, mas pelo estilo burocrático, baseado numa posse de bola estéril, que na maior parte do tempo se resumia a troca de passes entre os zagueiros e o goleiro. Depois de um campeonato paranaense regular e uma derrota vergonhosa na Copa do Brasil, Eduardo Barroca não resistiu a um início de Brasileiro ruim, com quatro derrotas seguidas, levando a um retorno de Jorginho que marcou o início do fim da trajetória do time naquela temporada, que não vale a pena nem relembrar.
Eis que a nova Diretoria assume o clube e resolve trazer um treinador estrangeiro, coisa rara no Coritiba, e que vem com um cartaz interessante, tanto pelo trabalho com categorias de base quanto pela façanha de chegar numa final de libertadores com um time pouco conhecido. Tratava-se de Gustavo Morínigo, que chega ainda na reta final do Brasileiro que invadira o ano de 2021, e que conta com imprevistos que não o permitiriam dirigir o time em várias partidas daquela reta final de campeonato.
Iniciando a temporada 2021 com um time quase 100% renovado, Morínigo começou bem o certame estadual, colocando em campo uma equipe impositiva, que conseguiu uma boa sequência, com direito a duas goleadas de 5 gols contra Toledo e Paraná. Porém, um agravamento na pandemia que ocasionou uma bagunça de datas e que obrigou o Coritiba a jogar em péssimos gramados, combinado a escolhas questionáveis do treinador, principalmente nas suas substituições, resultaram em uma crise, momento em que boa parte da torcida pediu a cabeça de Morínigo. Após as duas partidas com uma postura vergonhosa contra o Flamengo na Copa do Brasil, parecia que o desligamento do treinador era uma questão de tempo.
Com o cargo em perigo, Morinígo então foi a Goiás enfrentar o Vila Nova. Neste jogo contra um adversário frágil e em um campo ruim, ele coloca em campo um novo esquema de jogo com Guilherme Biro na esquerda, e lançando o veterano Henrique na zaga. No meio, começa a rodar os jogadores do elenco, apesar de deixar claro quem são seus titulares. No ataque, o técnico volta utilizar dois pontas. Naquela partida iniciamos uma surpreendente (e maravilhosa) sequência invicta de seis jogos com cinco vitórias, todas elas com placar mínimo, e um empate.
Este estilo de jogo pragmático, porém eficiente, faz com que muitos relembrem daquela reta final de 2019, em que o “Jorginismo” nos deixava com os nervos a flor da pele. No entanto é possível ver grandes diferenças entre o futebol jogado pela equipe atual e por aquela que conquistou o acesso.
Em primeiro lugar, uma grande diferença é a percepção dos treinadores após os jogos. Enquanto Jorginho dizia que estava tudo dentro do script e que o time jogava um bom futebol, Morínigo vem reafirmando após as partidas os erros e problemas da equipe mesmo vencendo, o que mostra que o treinador não se engana e/ou se acomoda com os bons resultados.
Em segundo lugar, o time tem mostrado uma evolução tática e técnica a cada jogo. Poderia atacar mais é verdade, mas sofre muito pouco defensivamente, diferentemente de 2019, quando nossos adversários martelavam muito a nossa meta. Se contra o Vila nosso ataque pouco ameaçou, contra o Remo conseguimos criar várias oportunidades de gol, que poderiam ter tornado o placar bem mais elástico. Já conta o Cruzeiro, não fosse a trave no final e alguns erros pontuais, poderíamos ter comemorando mais um vitória. Essa evolução coletiva aumentou a confiança de jogadores que estavam em baixa, e que passaram a crescer individualmente de produção como é o caso principalmente de Castán, Robinho, Waguininho, e Natanael.
Por fim, a equipe tem tido uma organização muito sólida, sabendo atacar e defender em bloco. A recomposição tem funcionado muito bem, especialmente no lado esquerdo com Guilherme Biro, em que costumávamos sofrer muitos gols. Na direita Natanael tem tido liberdade pra atacar contando com a boa cobertura de Val, mostrando um time muito coeso.
Enfim, o estilo de Morínigo vem encaixando, o treinador parece estar muito fechado com o grupo, e os resultados estão convencendo até os torcedores mais céticos em relação ao trabalho do treinador. Ponto para a diretoria que resistiu as pressões e apostou no trabalho de longo prazo tão propagado pelo saudoso presidente Renato Follador.
Porém, Morínigo terá uma grande prova de fogo pela frente. O confronto contra o Vasco da Gama, além de ser um jogo de seis pontos, é contra um concorrente ao acesso que também vem de uma boa sequência. Caso o Coritiba vença esta partida, ficará difícil questionar o trabalho do treinador, a descrença que ainda existe entre a torcida irá diminuir cada vez mais, aumentando as chances de que finalmente um técnico consiga cumprir um contrato até o final no Coritiba, coisa que eu não lembro a última vez que ocorreu. Que assim seja!
Dá-lhe Coxa!
Saudações Alviverdes.
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