Geração 90
Muitos de nós, a exceção talvez das gerações mais recentes, crescemos e nos tornamos torcedores ouvindo as transmissões de rádio das partidas de futebol. Mesmo com o televisionamento dos jogos se popularizando nas décadas de 80 e 90, boa parte das partidas contavam com a exclusividade do rádio, que reunia profissionais de gabarito, análises frias e imparciais(mesmo quando se tratava de ex jogadores), com fundamentação tática e robustez de conteúdo. As narrações conseguiam agregar emoção nas jornadas esportivas, valorizando nossos times sem omitir nossas deficiências, com bordões dotados de originalidade que seduziam a grande massa, ao ponto que até aquele torcedor que ia ao estádio não abria mão do radinho. Quem não tem saudades das transmissões mais antigas com Lombardi Junior, Rosildo Portela, Edgar Felipe, e tantos outros.
Foi ouvindo as transmissões de rádio que aprendemos muito sobre futebol, com o ingrediente extra de poder desenhar em nossas mentes cada jogada narrada e detalhada pelo locutor e pelo comentarista. Após as partidas, o pós jogo era um momento de gala que servia para nos aprofundarmos em cada detalhe ocorrido no confronto entre as equipes, debater alternativas que poderiam ter sido utilizadas pelos treinadores, e fazer uma análise crítica do desempenho individual de cada atleta, lastreada por fatos e argumentos realistas.
Hoje em dia, infelizmente o rádio já não tem mais essa pujança. Eu mesmo já abandonei esta mídia faz um certo tempo. Ouço agora apenas de maneira ocasional. O que antes eu pensava ser um comportamento natural devido ao fato de termos todos os jogos televisionados além de outras mídias atualmente, agora percebo se tratar de um fenômeno, em muito, decorrente da fragilidade daqueles que protagonizam as jornadas no rádio. Nas últimas vezes que recorri ao rádio para acompanhar parte de um jogo, parecia que o comentarista estava com preguiça de fazer seu ofício, ou que estava falando de outra partida, dada a falta, distorção ou superficialidade de seu conteúdo.
O declínio do rádio ocorre não só pela redução das opções de estações ao longo do tempo, mas também por uma safra de profissionais que em sua maioria não conseguem mais proporcionar a experiência que o ouvinte espera. Alguns veteranos parecem ter perdido o pudor da parcialidade, e junto com isso perderam também a coerência e a credibilidade que já tiveram lá trás. Outros na realidade nunca foram comentaristas de alto nível, mas continuam lá, talvez por falta de opções melhores no mercado. Exceções existem sim, mas são poucos. Na minha opinião, Guilherme de Paula é um dos que destoam positivamente.
E assim, muitos torcedores vão ficando de saco cheio, fartos de ouvir a mesma ladainha de sempre baseada exclusivamente em resultados, com comentários vazios cercados de juízos de valor simplórios do tipo fulano é bom, ciclano é ruim, ou avaliações tendenciosas e/ou fora da realidade, que menosprezam o que é nosso, minam trabalhos de longo prazo, e que vão aos poucos fazendo os torcedores migrarem cada vez mais das ondas AM/FM para a transmissão da própria TV, e também para lives independentes no Youtube (Coxanautas agradece!).
Avalio que esse declínio do rádio é algo muito lamentável, pois sempre fui fã dessa mídia tão tradicional. Até pouco tempo atrás acompanhava os jogos com a TV mutada, e o bom e velho parceiro ligado, dado o apego que tinha ao rádio.
Talvez eu esteja falando de algo que já teve seu período dourado e está seguindo um rumo inevitável como tantas coisas que vão ficando obsoletas com o tempo. Mas prefiro acreditar que não, e ter a esperança de que as emissoras de rádio em geral busquem se reinventar, renovar seus quadros, requalificar seu produto para quem sabe recuperar o protagonismo perdido, antes que seja tarde demais.
Dá-lhe Coxa!
Saudações Alviverdes!
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