Geração 90
Todos nós nos achamos sabidos quanto o assunto é futebol. Adoramos avaliar o nosso time, afirmando que aquele jogador é craque e que aquele outro não presta. As vezes temos mais simpatia por uns, antipatia por outros. Treinador então nem se fale, invariavelmente é a peça do futebol que promove mais opiniões antagônicas entre a torcida. Tudo isso é normal, seja aqui ou em qualquer lugar do mundo.
O que não é normal em qualquer lugar, mas é a regra aqui no Brasil, é a altíssima rotatividade de treinadores. A última mudança foi a demissão de Marcelo Cabo como comandante do Goiás, que ocupava até então a 4ª colocação na série B e vem de um empate com o time com maior ascensão no campeonato, que é o Botafogo.
Embora muitos torcedores acreditem nisso, nenhum treinador tem fórmula mágica pra transformar um bando de pangarés em craques. Logicamente, alguns técnicos tem no quesito motivacional uma de suas maiores qualidades, porém geralmente são profissionais com prazo de validade. Os melhores treinadores geralmente são aqueles que unem estratégia e disciplina tática, buscando extrair o máximo dentro das peças disponíveis. E pra ter o conhecimento pra fazer isso leva tempo, muito tempo.
As estatísticas e os números evidenciam claramente que treinadores com maior tempo de trabalho tem uma chance muito maior de entregar bons resultados. Pensando nisso fiz uma breve pesquisa levantando quais foram os técnicos com maior longevidade no Coritiba nos últimos 20 anos, reunindo os 5 nomes com maior tempo treinando o Verdão Coxa Branca em uma mesma passagem. São eles:
1) Marcelo Oliveira – 1 ano e 8 meses (2011 - 2012)
2) Paulo Bonamigo – 1 ano e 7 meses (2002 - 2003)
3) Antonio Lopes – 1 ano e 4 meses (2004 - 2005)
4) Ney Franco – 1 ano e 3 meses (2009 - 2010)
5) Marquinhos Santos e Dorival Jr – 1 ano (2013 e 2008)
Coincidência ou não, os períodos em que esses treinadores permaneceram no Coritiba trazem boas recordações, seja com títulos, acessos ou no mínimo resultados compatíveis com a grandeza do nosso clube.
Não é a toa, que é muito comum os times europeus trabalharem com treinadores no longo prazo. Na Inglaterra por exemplo, o Manchester United (Ferguson), o Arsenal (Wenger) e o Tottenham (Pochettino) sempre cresceram e brigaram por grandes coisas enquanto mantiveram seus treinadores por longos períodos. Quando interromperam esses trabalhos, começaram a ter problemas. Hoje quem manda na terra da rainha é o Liverpool (Klopp) e o Manchester City (Guardiola), treinadores que já duram 6 anos nos seus cargos. Ambos não começaram bem e também conviveram com muitos questionamentos no início de suas trajetórias. Em menos de 24 meses transformaram seus times em grandes potências, restringindo a disputa pelo título inglês.
Trazendo a comparação para as terras tupiniquins, os trabalhos mais vitoriosos dos últimos 20 anos passaram por Tite (6 anos) no Corinthians, Renato Gaúcho (5 anos) no Grêmio e Muricy Ramalho (3,5 anos) no São Paulo. No entanto, nenhum desses treinadores eram grandes unanimidades antes de começarem essas longas sequências, mas quando tiveram a oportunidade de se manter por muito tempo no mesmo clube, marcaram época.
Todos essas evidências não significam que manter um treinador a todo custo será sempre a melhor solução para obter bons resultados, mas indicam fortemente que a mudança de técnico deve ser a última opção dos dirigentes de clubes quando ocorrer oscilações.
Essa é uma das razões pela qual eu apoio o treinador Gustavo Morínigo. Por mais que ele utilize um estilo de jogo pragmático, as vezes até irritante, ele sabe melhor do que todos nós o que tem nas mãos, e por reiteradas vezes nesta temporada provou que estava certo e muitos de nós estávamos errados. Morínigo transformou jogadores regulares como Natanael, Biro e Igor Paixão em titulares inquestionáveis e com grande potencial de mercado, que certamente renderão muito dinheiro ao Coritiba. Recuperou Robinho e Waguininho, jogadores tão fundamentais para o grande campeonato que fazemos. Acreditou em Val, transformando um desconhecido no motorzinho do meio campo alviverde.
Por mais que o treinador não acerte em todas, por mais que nem todo mundo aprecie seu estilo, por mais que a cultura do futebol brasileiro nos leve a pensar o contrário, contra fatos não há argumentos: Morínigo faz bem ao Coritiba.
Dá-lhe Coxa!
Saudações Alviverdes.
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