O Torcedor na História
O propósito deste blog é falar sobre a participação do torcedor na vida do clube, além de relembrar a história do Coritiba. Neste texto, buscarei encontrar uma boa mistura entre os dois assuntos.
Particularmente, sempre acreditei que torcida ganha jogo. Para exemplificar, contarei uma história: pense em um time, que perdendo uma final de campeonato olha para seus 2.000 torcedores alucinados, em pleno estádio do maior rival, e os vê cantando COOOOXA sem parar por 40 minutos seguidos.
Qualquer semelhança não é mera coincidência. Final do Campeonato Paranaense de 2004: a partida estava 3x2 para o A. Paranaense, e precisávamos do empate. Tudo conspirava contra. Um dos melhores do Cori em campo, o lateral-esquerdo Adriano, saiu lesionado ainda no primeiro tempo. O árbitro da partida, Marcos Tadeu da Silva Mafra, validou dois gols ilegais do time da baixada, o que acabou proporcionando a virada aos adversários.
Eis que a torcida alviverde começa a reagir. Eu me lembro como se fosse hoje. Um grupo de torcedores mais velhos - digo isto pela média de idade dos torcedores que costumam cantar o jogo todo - começou a cantar COOOOOXA. Ficaram alguns minutos cantando sozinhos, enquanto o restante da torcida alviverde seguia apreensiva. Passados alguns minutos, o esforço daquele grupo começou a impressionar boa parte das pessoas em volta, que também começaram a cantar. Depois de cerca de 5 minutos, finalmente toda a galera inflamou, e a torcida Coxa-Branca passou a cantar como se estivesse vencendo a partida.
Foi algo surreal. Por cerca de 10 minutos, a torcida adversária tentou nos abafar. E lembrem-se, eram 18.000 contra 2.000. Porém, a disposição dos guerreiros alviverdes na arquibancada parecia inesgotável. Os adversários começaram a sucumbir, parecendo não acreditar no que estavam presenciando. Logo eles, que sempre se gabaram tanto do seu suposto alçapão. Em mais alguns minutos, só se ouvia o silêncio dos torcedores do segundo time do estado do Paraná, assistindo incrédulos à emocionante festa da torcida alviverde, que tentava fazer com que o Coritiba encontrasse seu gol de empate. A cantoria Coxa-Branca continuava, e os gritos de COOOOOXA ecoavam nas bandas do Água Verde. Aos 31' do 2º tempo, após cerca de 26 minutos cantando sem parar, a torcida do maior do estado foi finalmente recompensada. Escanteio pela direita. Ricardinho cobra com perfeição, para Tuta, de cabeça, estufar a rede adversária, e sair comemorando com o gesto que ficou eternizado na memória das duas torcidas: SSSSHHHHHHH.
A partir disto, qual seria a reação normal da torcida? Comemorar por alguns minutos e aguardar apreensiva o final da partida, certo? ERRADO. A torcida estava em êxtase. Os gritos de COOOOXA recomeçaram logo após a comemoração do gol, para desespero da torcida adversária. Tenho amigos torcedores do segundo time do estado que me confessaram ter ficado assustados com a torcida do Coritiba. Por muitos meses mal conseguiam dormir, pois o som COOOOOXA ecoava em suas mentes.
E foi neste ritmo até o final. E que final. Antônio Lopes foi atingido por um saco de papelão, atirado pela torcida rival. O time adversário tentava o gol da vitória naquele momento, e buscava pressionar o alviverde. Roberto Brum, que estava no banco de reservas não teve dúvidas: empurrou o técnico para dentro do gramado. Os médicos do Coritiba foram atendê-lo. Partida paralisada, ânimo adversário esfriado. Excelente e talvez decisiva jogada de Brum e Lopes.
Porém, ainda restava a emoção derradeira: o árbitro marcou falta frontal para o adversário, praticamente sobre a linha da grande área, restando 2 minutos para o fim da partida. A torcida alviverde seguiu cantando, ao mesmo tempo em que fazia figas. Dagoberto bate na barreira e a bola volta em seu pé. Ele chuta novamente, para desespero da torcida Coritibana, que mal tinha visão de jogo naquela posição do estádio. Somente quando ouve o barulho da bola batendo na placa de publicidade o Povão Coxa-Branca comemora. O árbitro apita o fim da partida. O Coritiba alcançava seu 32º título estadual, e aumentava a hegemonia regional. Festa alviverde na baixada, para variar. Um carimbo a mais na história de seu maior freguês, que via o Coxa se distanciar ainda mais em número de títulos estaduais.
Agora, fica a pergunta: torcida ganha jogo? Pense nisto na próxima partida.
Abaixo, uma pequena amostra do que aconteceu naquele 18 de Abril de 2004:
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